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PSICO – COMO CRESCER SEM MEDO

 

21 O QUE FAZER PARA CONTINUAR CRESCENDO? – Mateus 19.16-22

 

22 EU PRECISO DE MAIS DO QUE EU JÁ TENHO – 2 Reis 5.1-15

 

23 POR QUE AS PESSOAS NÃO MUDAM? – Lucas 7.36-50

 

24 CONSULTE O PASSADO, MAS VIVA O PRESENTE – Gênesis 33.1-4

 

25 A ÚNICA FORMA DE NÃO CRESCER – Atos 9

 

26 OUVINDO O QUE ME ASSUSTA – 1 Samuel 28.1-5

 

27 QUANDO NÃO DÁ PRA VOLTAR PARA CASA – Rute 1.15-18

 

28 ESCOLHENDO SER NOBRE – Ester 4.11-16

 

 

 


 

21

O QUE FAZER PARA CONTINUAR CRESCENDO

Marcelo Augusto de Carvalho

 

TOPO

 

MATEUS 19.16-22, MARCOS 10.17-22, LUCAS 18.18-23 – o jovem rico.

 

Em tudo o que Deus criou foi colocado o princípio do crescimento. E não é diferente em nosso caso. Ele espera que cresçamos fisicamente desde o zigoto, socialmente por meio de todas as conexões humanas que construímos, espiritualmente por meio de cada encontro que temos com Ele pela Bíblia, oração e comunhão com os outros.

Mas isto só é possível acontecer se estivermos dispostos a acrescentarmos novas crenças às que já estabelecemos.

 

A GRANDE PERGUNTA DA VIDA

 

Aprendeu com seus pais e com a Igreja de Deus na Terra os grandes princípios da Lei de Deus.

Desenvolveu um caráter puro, reto, que expressava-se em um comportamento impecável.

Era elogiado por todas as pessoas que o conheciam.

E as evidências exteriores confirmavam sua performance pois sua riqueza, pensava ele e os judeus de forma geral, era resultado das benções de Deus por sua fidelidade aos princípios do Céu.

Mas lá dentro sentia-se insatisfeito. Por isto perguntou a Cristo: “O que ainda me falta?”

 

SEU ERRO

 

O excelente jovem rico queria o certo, mas tinha o foco errado.

 

Focou no COMPORTAMENTO e não nos RELACIONAMENTOS

O bom comportamento existe para ser usado para me relacionar adequadamente com as pessoas.

Ser bom sozinho é como ser milionário vivendo numa caverna!

Se eu foco no comportamento sem me relacionar com os outros fatalmente sentirei um vazio sem fim e uma inutilidade atroz pois aquilo que sou não me serve para nada.

ELIAS comportava-se muito bem morando sozinho no deserto, mas realizou muito mais indo à casa de uma viúva pobre salvando-a da miséria e da fome.

 

Focou na CAPACITAÇÃO e não no DESENVOLVIMENTO

Ele acreditava que fazendo o curso certo, sabendo as respostas adequadas e tendo todo o conhecimento possível, tudo da ria certo em sua vida.

Esqueceu-se que Deus nos fez, não para saber tudo, mas para usufruir o desenvolvimento de nossas capacidades por toda a eternidade.

EVA tentou conhecer o bem e o mal sem o desenvolvimento natural para isto, e o resultado foi destruir sua vida e a nossa.

 

Focou na PRESSA e não DESFRUTE

A pressa mata o desenvolvimento, pois não dá o tempo necessário para que os frutos amadureçam no momento certo.

Também mata os relacionamentos porque não paramos para ouvir, ver e nos conectarmos aos outros.

DINÁ conheceu a paixão e o sexo em apenas um encontro com. Mas sua pressa destruiu a vida de seu futuro esposo como a tornou vergonha de seu pai a ponto de nunca receber a benção de ter uma tribo em Israel.

 

Focou no RESULTADO e não na REALIZAÇÃO

Chegar lá sem me tornar alguém melhor é o mesmo que ganhar um prêmio sem merecê-lo.

ABSALÃO chegou ao trono de Israel de um dia para o outro, só para revelar à nação o quão despreparado estava para liderar pessoas.

 

Agindo assim, o jovem rico parou de crescer, tornando-se cheio de si, mas completamente vazio, de Deus e dos outros. Sozinhos somos muito pouco!

 

O QUE JESUS NOS ENSINOU?

 

Desde o momento em que somos formados em nossa mãe desenvolvemos CRENÇAS, a nosso respeito e do mundo no qual vivemos.

São a BASE de todo nosso conhecimento, estruturando nossa autoestima, nosso comportamento e a maneira como nos relacionaremos com as coisas, com os inúmeros processos e as pessoas.

Só há crescimento se estamos dispostos a MUDANÇAS: deixar o velho e aceitar o novo, ou acrescentar àquilo que já possuímos.

Precisamos ter consciência dessas CRENÇAS INTERIORES para então nos abrirmos a tudo de NOVO que nos é proposto para continuarmos CRESCENDO.

 

A SOLUÇÃO DE CRISTO PARA O JOVEM RICO E PARA NÓS

 

DEIXA

“O que você já tem é bom, mas não é o suficiente para a enorme fome que Eu já coloquei em você”.

ELISEU era um excelente filho, mas para continuar crescendo teve que deixar seus pais, seguir Elias e tornar-se um mensageiro de Deus para chegar à sua plenitude.

 

VENDE

O que você já tem é de muito valor. É bom para você e pode ser muito bom para os outros. Mas não adianta nada existir só para você.

OS LEPROSOS DE SAMARIA foram ao acampamento dos sírios para pedirem comida. Não encontraram ninguém, pois Deus os havia feito fugirem. Comeram à vontade. Mas tocados de compaixão, foram até a cidade e avisaram as pessoas, que vieram e se fartaram com eles.

 

DISTRIBUA AOS POBRE

“Relacione-se com as pessoas, dividindo com elas seus dons, talentos e conhecimento”.

PAULO sabia muito, foi preparado para ser o maior rabino de Israel. Mas por aceitar ir e dividir com a Igreja ao redor do mundo foi que ele tornou-se a pessoa mais influente do cristianismo, depois de Jesus.

 

VEM

“Para o que é novo!”

Quando RAABE aceitou viver a nova vida que Deus lhe ofereceu por intermédio dos israelitas, ela salvou a si e a toda sua família.

 

SEGUE-ME

“Ande comigo, aprenda comigo, torne-se Eu”.

O rico publicano LEVI MATEUS, bem como o humilde pescador PEDRO tornaram-se ambos plenos porque aceitaram o convite de Cristo para andarem e aprenderem com Ele por todo o restante de sua vida.

 

APELO

 

Aceite o crescimento que Deus te oferece. Avance com Ele, sem medo!

 

VOVÓ TRIUNFA EM HOLLYWOOD

Um novo “astro”, embora de secundária grandeza, surgiu há pouco no já recamado céu de Hollywood: tenho a honra de apresentar dona ADELINA DE WALT REYNOLDS, velhinha de olhos vivos e azuis, cabelo fofo de prata, que aos 80 anos viu baixar diante dela as pontes levadiças do castelo roqueiro do cinema. Vovozinha, que aos 83, é o “ai Jesus” da metrópole do celuloide animado. Nunca adoece, e chega sempre a horas no estúdio; decora os seus papéis mais depressa do que muita atriz jovem, é tão vivaz e jovial como um melro, e ganha um ordenadão. O cheque dos honorários chega-lhe, como é de lei, com um corte: é o desconto que lhe fazem para a pensão de reforma na velhice. E ela de comentar: “Reforma? Nem me falem! Ideia boba. A gente devia sempre reservar os melhores anos da vida para fazer o que sempre sonhou!”

Vovó Reynolds fez precisamente isso. “Para mim - diz ela - a vida recomeçou aos 70 anos.” Com efeito, nessa idade respeitável ela se diplomava com altas honras pela Universidade da Califórnia.

Nascida e criada numa fazenda do Iowa, segou o feno dos campos, mungiu vacas, guiou cavalos de lavoura, fez em suma trabalhos de homem. Conseguiu finalmente convencer o pai a deixá-la frequentar uma escola preparatória, na próxima vila de Blairstown. Por sorte, conheceu ali um Frank Reynolds, por quem se apaixonou; e em breve os dois pombinhos batiam as asas...

Poucos anos passados, quando o jovem casal, já então com dois filhos, se mudou para Boston, a sra. Reynolds estudou arte dramática no Conservatório de Música e Eloquência da Nova Inglaterra. Ali produziu um dia uma leitura tão impressionante da Twelfth Night, que os seus mestres a remeteram a Bram Stoker, agente do famoso ator inglês Sir Henry Irving. Stoker The ofereceu um papel dramático, mas insistiu em que, se ela queria ser bem-sucedida no palco, devia dar entrada numa companhia regular. E aconselhou mais a jovem atriz a confiar seus filhos a alguém que olhasse por eles.

Com essa enorme perspectiva ao alcance da mão, a sra. Reynolds resolveu criar primeiro os filhos-tarefa que, como se iria ver, havia de levar-lhe o melhor da vida. Em 1900, residindo então na Califórnia, a senhora Reynolds enviuvou, ficando a braços com a criação de quatro filhos, e sem recursos.

Para sustentar a família, aprendeu então estenografia e procurou emprego. Mas a resposta foi desconcertante: consideravam-na demasiado velha, aos 40 anos, para lhe dar trabalho!

Furiosa de se ver assim julgada, associou-se com uma amiga e abriu um escritório de estenografia pública em São Francisco. A freguesia acorreu, cresceu, e em 1906 a viúva Reynolds papava a derradeira prestação de uma casinha nova que comprara. Era o teto, o abrigo seguro. No dia seguinte, o tristemente célebre sismo e incêndio de São Francisco destruiu-lhe o escritório e a casa... Passou as duas semanas seguintes, acompanhada dos filhos, numa tenda do exército, nas faldas dos Twin Peaks. Tempos depois transferia os penates para Berkeley, onde abriu uma escola para secretárias, e dentro de poucos anos, à custa de trabalho, estava apta a comprar nova casa.

A vida correu, e a viúva Reynolds tinha 66 anos quando sua filha mais nova recebeu o diploma universitário. A boa senhora anunciou que era agora a sua vez de entrar para o College! E assim fez. Pagou todas as despesas dos seus próprios estudos fazendo cópias à máquina para os colegas, e em 1930 obteve o grau: era nessa altura meia dúzia de vezes avó... Mas não tardou a se inscrever num curso de arte dramática para pós-graduados, e à custa de muito falar abriu caminho até as provas de admissão às classes do Professor Charles von Newmayer.

A prova consistia numa leitura de Shakespeare: leu Twelfth Night, como lera em Boston 40 anos antes e foi um dos vinte candidatos aprovados para о curso de Newmayer. Para pagar as respectivas despesas, trabalhou durante dois anos como monitora de estudantes Novembro de francês. Aos 72 obtinha o seu Master's Degree. Para adquirir experiência representou com as companhias populares de teatro ambulante, os Community Players de São Francisco e de Berkeley, e por volta de 1940 sentiu-se com forças para tomar de assalto Hollywood. Por ali andou de escritório em escritório, esperando que a incluíssem no elenco de alguma fita: “Ninguém tomava a sério a velhota!” diz ela entre risos.

Acabou por se dirigir à Hollywood Assistance League Theater, que já revelara muitos dos artistas de cinema mais apreciados. O «diretor» precisava de uma velha para tomar o papel de Hephzibah no drama Landslide e a vovó Reynolds fez tal barulho, que um «caçador de talentos» da M.G.M. foi dar parte da descoberta aos estúdios da sua companhia. E não tardou que ela fosse incluída no cartaz de Come Live With Me (Pede-se um Marido), no papel de avó, ao lado do James Stewart.

“Vovó, você nasceu para isto”, exclamou o diretor, quando ela concluiu as primeiras cenas. Em breve estava encarnando nova personagem noutro filme Shadow of the Thin Man (A Sombra dos Acusados), com William Powell e Myrna Loy. Desde então a viúva Reynolds ainda não esteve desocupada mais de três semanas a fio. Terminada a filmagem de Tuttles of Tahiti (Os Tuttles de Taití) em que desempenhou o papel de mãe de Charles Laughton, este deu-lhe um abraço e segredou-lhe ao ouvido: “Vovó, tu és uma grande atriz!”

A sra. Reynolds confessa modestamente que tudo o que faz é ser sincera, ser ela própria. Sendo a menos das estrelas de Hollywood, só a uma coisa se opõe: as fitas pouco saudáveis. Repudiou um papel que lhe ofereciam em Tobacco Road, sob o pretexto de que seus netos não poderiam ver tal filme e dizer com orgulho: “Aquela é a vovó!”

Vive num apartamento que mais parece um escritório, atravancado de arquivos, livros e papéis. Sentada em frente de uma máquina de escrever - no que é ainda um primor! - bate todos os dias pelo menos cinco cartas para os soldados com os quais sustenta uma animada correspondência.

Para se manter em boa forma física, Vovó exercita-se regularmente no Clube Atlético de Hollywood, para homens, que por concessão especial a considerou sócia, de modo a permitir-lhe ser assistida por seus mestres de esgrima.

Estava ela num cenário do estúdio, certa manhã, quando viu quatro homens deitados por terra, a empurrar penosamente as rodas de um automóvel a cujo volante ia sentado um velho ator que não sabia conduzir. Voltando-se para o diretor, Vovó disse: “Agora é que se vai ver como a velhota aprende a guiar automóvel!” No dia seguinte começava as lições...

Vovó Reynolds recebe montanhas de correspondência dos seus admiradores, e o que mais a surpreende é que a maioria das cartas são de gente moça, que quer saber o segredo do vigor juvenil da que depois de ser velha foi atriz. A resposta dela é esta: “O que você precisa é de ter entusiasmo pelo que está fazendo no presente; desse modo se preparará para fazer algo de melhor no futuro. E isso não é filosofia que eu tenha surripiado de algum livro: cheguei a ela por minha própria experiência, e sei que esse é o segredo da perene juventude. Desde que fiz 50 anos que venho rejuvenescendo...”

 

 

Marcelo Augusto de Carvalho 3 de julho de 2025 Artur Nogueira SP

 


 

22

EU PRECISO DE MAIS DO QUE JÁ TENHO

Marcelo Augusto de Carvalho

 

TOPO

 

2 REIS 5.1-15 – Naamã.

 

NAAMÃ, O CONQUISTADOR SEM ESPERANÇA

 

POSIÇÃO: Naamã era um comandante do exército do rei da Síria, Ben-Hadade II.

FAMA: era conhecido por sua bravura e vitórias.

PROBLEMA: sofria de lepra, a mais temida doença da antiguidade.

EMOÇÕES: apesar de todos os seus talentos em liderar exércitos e elaborar planos para conquistas militares, não tinha qualquer esperança de continuar vivo por muito tempo.

RELIGIÃO: servia os grandes deuses pagãos do mundo antigo, mas que nada faziam para curá-lo. Estava desiludido com sua sincera devoção a estes deuses.

 

A MENINA CATIVA, A CONQUISTADA COM A MENSAGEM DE ESPERANÇA

 

POSIÇÃO: seu país foi vencido na guerra, e ela foi levada cativa para a Síria e vendida como escrava à mulher de Naamã.

FAMA: nenhuma. Era tão desconhecida que mesmo citada pelo autor bíblico sequer foi registrado seu nome!

PROBLEMA: seria escrava para sempre, lavando, passando, cozinhando e servindo seus senhores até sua morte.

EMOÇÕES: saudade de seus pais, saudade de sua terra, tristeza, humilhação e abandono.

RELIGIÃO: apesar de tudo levá-la ao desespero, ela decidiu encarar sua vida com esperança. Não conseguia explicar os fatos de sua vida, mas sabia que Deus tinha um plano maior para sua existência. Decidiu prosseguir sendo fiel a Ele, servindo seus senhores. Em vez de tornar-se amargurada e reclusa decidiu manter conexão emocional com quem Deus lhe deu ao seu redor. Ao saber da sorte de seu senhor, indicou-lhe o caminho da cura: ir até Samaria e pedir por cura ao profeta Eliseu.

 

CRENÇAS CERTAS DE NAAMÃ

 

FÉ: ouvindo a sugestão de sua serva, ele creu que a garota tinha razão.

CONEXÃO: buscou seu rei, pedindo cartas de apresentação para que fosse bem aceito e atendido na terra que algum tempo atrás assolara!

OBRAS: viajou, por dias, até chegar à Samaria.

 

CRENÇAS ERRADAS DE NAAMÃ

 

DEUS NÃO QUER SE RELACIONAR COMIGO.

Como criador e mantenedor do Universo, Ele tem coisas mais importantes a fazer. Eu não sou interessante.

DEUS ME CASTIGOU.

Minha lepra mostra quão desagradável sou a ele. Pequei, e por isto Ele me castigou dando-me essa doença tão terrível.

PRECISO MERECER A CURA.

Para receber as bençãos de Deus eu preciso merecê-las. Preciso comprá-las. Assim ele trouxe dezenas de animais carregados de ouro, prata e vestidos caros para agradar o homem de Deus e convencê-lo da cura.

EU CONHEÇO COISA MELHOR.

Eliseu não o atendeu pessoalmente, mas enviou seu servo Geazi com a mensagem: “Mergulhe 7 vezes no rio Jordão e você será curado!”

Até ali Naamã foi humilde. Ouviu a garota cativa, pediu indicação de seu rei, humilhou-se a ir à terra conquistada, pediu ajuda ao rei conquistado, foi até à casa do profeta do Deus perdedor, e teve que engolir a falta de trato social de Eliseu de nem aparecer para atendê-lo.

Mas exigir que ele fosse ao estreito, barrento e feio rio Jordão, entrasse nele e mergulhasse por 7 vezes era humilhá-lo demais!

Assim Deus revelou a seu filho Naamã quão orgulhoso ele era. Quanto a idolatria tinha desvirtuado sua percepção de vida. E como sua mente era fechada ao novo.

Naamã se orgulhava de já conhecer rios maravilhosos. Podia banhar-se neles. Ele já o fazia, diariamente, mas continuava leproso. Precisava de algo melhor, e isto só Deus tinha para ele. Precisava de ALGO MAIS, nascer de novo.

O QUE DEUS TEM DE MELHOR PARA NÓS? 2 Coríntios 2.9.

Assim como a menina cativa aceitou o plano de Deus para ela, de viver em uma nova terra, nova cultura, nova posição social, novas pessoas a quem testemunhar dEle, Naamã precisava fazer em sua vida!

Deus sempre tem algo novo, bom e melhor do que já nos deu para nos dar hoje.

Tem Sua Lei (Êxodo 20), Sua Graça (Atos 16.30-34)., Sua Igreja (Salmo 133), Sua Missão (Mateus 28.18-20). Seus planos para nós (Jeremias 29.11).

 

O QUE DEUS NOS ENSINA POR MEIO DE NAAMÃ

 

Os princípios INCONSCIENTE guardados em nossa mente, fruto de nossa história, são excelente. São a base do que somos e do que acreditamos, e seria impossível vivermos sem eles. Jamais teríamos chegado aqui sem esse presente do Céu.

Mas não podemos parar aí. FIXAR-SE neles, fechar-se no pensamento RÍGIDO e recusar-se a MUDAR é falta de fé nesse Deus que nos provê tudo o que precisamos, inclusive o crescimento.

O pensamento RÍGIDO emperra nosso crescimento, incapacita nossa sensibilidade à vida, destrói nossas relações e ofende a Deus.

A MENTE FECHADA é um problema do coração, uma forma de reagir à insegurança por meio de um mecanismo de defesa bitolado e estéril.

Portanto, não jogue fora o que Deus já te deu. Elimine sim sua vontade de não quere saber mais do que já sabe.

Aceite sua CONDIÇÃO humana, suas incapacidades, sua ignorância.

Assuma seu medo de descobrir a pior verdade que existe, a verdade a seu RESPEITO. Deus já a conhece e não tem nem medo nem dissabor disso. Ele a quer revelar para que você possa aceitar a mudança que só Ele pode realizar em sua vida!

 

APELO

 

Todos os dias Deus tem algo a nos ensinar a nosso respeito, a respeito das pessoas que Ele nos enviou, e a respeito dEle.

Aceite que o que você tem pode ser bom. Construa em cima disso. Deus tem algo ainda melhor a acrescentar a você.

 

DE PROFESSOR A POLICIAL

GEORGE L. KIRKHAM é professor assistente da Escola de Criminologia da Universidade da Flórida e autor do livro Signal Zern.

Como professor de criminologia tive problemas durante algum tempo, devido ao fato de que, como a maioria daqueles que escrevem livros sobre assuntos policiais, eu nunca fui policial. Contudo, alguns elementos da comunidade acadêmica norte-americana, tal como eu, foram muitas vezes demasiado precipitados ao apontar erros da nossa política. Dos incidentes que lemos nos jornais, formamos imagens estereotipadas, como as do policial violento, racista, venal ou incorreto. O que não vemos são os milhares de dedicados agentes da polícia, homens e mulheres, lutando e resolvendo problemas difíceis para preservar nossa sociedade e aquilo que nos é mais caro.

Muitos dos meus alunos tinham sido policiais, e eles várias vezes opunham às minhas críticas o argumento de que uma pessoa só poderia compreender o que um agente da polícia tem de suportar quando também experimentasse ser policial. Por fim, me decidi a aceitar o repto. Entraria para a polícia e assim iria testar a exatidão daquilo que vinha ensinando. Um dos meus alunos (um jovem agente que gozava licença para frequentar o curso, pertencente à delegacia de polícia de Jacksonville, Flórida) me incitou a entrar em contato com o xerife Dale Carson e o vice xerife D. K. Brown e explicar-lhes minha pretensão.

Lutando por um distintivo. Jacksonville me parecia ser o lugar ideal. Era um porto de mar e um centro industrial em crescimento acelerado. Ali ocorriam também manifestações dos maiores problemas sociais que afligem nossos tempos: crime, delinquência, conflitos raciais, miséria e doenças mentais. Tinha igualmente a habitual favela e o bairro reservado aos negros. Sua força policial, composta por 800 elementos, era tida como uma das mais evoluídas dos Estados Unidos.

Esclareci o xerife Carson e o vice xerife Brown de que pretendia um lugar não como observador, mas como patrulheiro uniformizado, trabalhando em expediente integral durante um período de quatro a seis meses. Eles concordaram, mas puseram também a condição de que eu deveria primeiro preencher os mesmos requisitos exigidos a qualquer outro candidato a policial: uma investigação completa ao caráter, exame físico e os mesmos programas de treinamento. Havia outra condição com a qual concordei prontamente: em nome da moral, todos os outros agentes deviam saber quem eu era e o que estava fazendo ali. Fora disso, em nada eu me distinguiria de qualquer agente, desde o meu revólver Smith e Wesson calibre 38 até o distintivo e o uniforme.

O maior obstáculo foram as 280 horas de treinamento estabelecidas por lei. Durante quatro meses (quatro horas por noite e cinco noites por semana), depois das tarefas de ensino teórico, eu aprendia como utilizar uma arma, como aproximar-me de um edifício na escuridão, como interrogar suspeitos, investigar acidentes de trânsito e recolher impressões digitais. Por vezes, à noite, quando regressava a casa depois de horas de treinamento de luta de defesa pessoal, com os músculos cansados, pensava que estava precisando era de um exame de sanidade mental por ter-me metido naquilo. Finalmente, veio a graduação e, com ela, o que viria a ser a mais compensadora experiência da minha vida.

Patrulhando a rua. Ao escrever este artigo, já completei mais de 100 rondas como agente iniciado, e tantas coisas aconteceram no espaço de seis meses que jamais voltarei a ser a mesma pessoa. Nunca mais esquecerei também o primeiro dia em que montei guarda defronte à porta da delegacia de Jacksonville. Sentia-me ao mesmo tempo estúpido e orgulhoso no meu novo uniforme azul e coma cartucheira de couro.

A primeira experiência daquilo que eu chamo de minhas «lições de rua> aconteceu logo de imediato. Com meu colega de patrulha, fui destacado para um bar, onde havia distúrbios, no centro da zona comercial da cidade. Lá chegando, encontramos um bêbado robusto e turbulento que, aos gritos, se recusava a sair. Tendo adquirido certa experiência em admoestação correcional, apressei-me a tomar conta do caso. “Desculpe, amigo”, disse eu sorridente, “não

quer dar uma chegadinha aqui fora para bater um papo comigo?” O homem me encarou esgazeado e incrédulo, com os olhos raiados de sangue. Cambaleou para mim e me deu um empurrão no ombro. Antes que eu tivesse tempo de me recuperar, chocou-se de novo comigo -e desta vez fazendo saltar da dragona a

corrente que prendia meu apito. Após breve escaramuça, conseguimos levá-lo para a radiopatrulha.

Como professor universitário, eu estava habituado a ser tratado com respeito e deferência e, de certo modo, presumia que isso iria continuar assim em minhas novas funções. Agora, porém, estava aprendendo que meu distintivo e uniforme, longe de me protegerem do desrespeito, muitas vezes atuavam como um «ímã» atraindo indivíduos que odiavam o que eu representava. Confuso, olhei para meu colega, que apenas sorriu.

Teoria e prática. Nos dias e semanas seguintes, eu iria aprender mais coisas. Como professor, sempre procurara transmitir aos meus alunos a ideia de que era errado exagerar o exercício da autoridade, tomar decisões por outras pessoas ou nos basearmos em ordens e mandatos para executar qualquer tarefa. Como agente da polícia, porém, fui muitas vezes forçado a fazer exatamente isso. Encontrei indivíduos que confundiam gentileza com fraqueza -o que se tornava um convite à violência. Também encontrei homens, mulheres e crianças que, com medo ou em situações de desespero, procuravam auxílio e conselhos no homem uniformizado.

Cheguei à conclusão de que existe um abismo entre a forma como eu, sentado calmamente no meu gabinete com ar-condicionado, conversava com o ladrão ou o assaltante a mão armada, e a maneira como os patrulheiros encontram esses homens - quando eles estão violentos, histéricos ou desesperados. Esses agressores, que anteriormente me pareciam tão inocentes, inofensivos e arrependidos depois do crime cometido, agora, como agente da polícia, eu os encarava pela primeira vez como uma ameaça à minha segurança pessoal e à da nossa própria sociedade.

Aprendendo com o medo. Tal como o crime, o medo deixou de ser um conceito abstrato para mim, e se tornou algo bem real, que por várias vezes senti: era a estranha impressão em meu estômago, que experimentava ao me aproximar de uma loja onde o sinal de alarme fora acionado; era uma sensação de boca seca quando, com as lâmpadas azuis acesas e a sirena do carro ligada, corríamos para atender a uma perigosa chamada onde poderia haver tiros.

Recordo especialmente uma dramática lição no capítulo do medo. Num sábado à noite, patrulhava com meu colega uma zona de bares mal frequentados e casas de bilhares, quando vimos um jovem estacionar o carro em fila dupla. Dirigimo-nos para o local, e eu lhe pedi que arrumasse devidamente o automóvel, ou então que fosse embora - ao que ele respondeu inopinadamente com insultos. Ao sairmos do carro de radiopatrulha e nos aproximarmos do homem, a multidão exaltada começou a nos rodear. Ele continuava a nos insultar e se recusando a retirar o carro. Então, tivemos que prendê-lo. Quando o trouxemos para a viatura da polícia, a turma nos cercou completamente. Na confusão que se seguiu, uma mulher histérica me abriu o coldre e tentou sacar meu revólver.

De súbito, eu estava lutando para salvar minha vida. Recordo a sensação de verdadeiro terror que senti ao premir o botão do armeiro onde se encontravam nossas armas. Até então, eu sempre tinha defendido a opinião de que não devia ser permitido aos policiais o uso de armas, pelo aspecto “agressivo” que denotavam, mas as circunstâncias daquele momento fizeram mudar meu ponto de vista, porque agora era minha vida que estava em perigo. Senti certo amargor quando, logo na noite seguinte, voltei a ver já em liberdade o indivíduo que tinha provocado aquele quase motim - e mais amargurado fiquei quando ele foi julgado e, confessando-se culpado, condenaram-no a uma pena leve por «violação da ordem».

Vítimas silenciosas. Dentre todas as trágicas vítimas do crime que vi durante seis meses, uma se destaca. No centro da cidade, num edifício de apartamentos, vivia um homem idoso que tinha um cão. Era motorista de ônibus, aposentado. Encontrava-os quase sempre na mesma esquina, quando me dirigia para o serviço, e por vezes me acompanhavam durante alguns quarteirões.

Certa noite, fomos chamados por causa de um tiroteio numa rua perto do edifício. Quando chegámos, о velho estava estendido de costas no meio de uma grande poça de sangue. Fora atingido no peito por uma bala e, em agonia, me sussurrou que três adolescentes o tinham interceptado e lhe pediram dinheiro. Quando viram que tinha tão pouco, dispararam e o abandonaram na rua.

Em breve, comecei a sentir os efeitos daquela tensão diária a que estava sujeito. Fiquei doente e cansado de ser ofendido e atacado por criminosos que depois seriam quase sempre julgados por juízes benevolentes e 87 por jurados dispostos a concederem aos delinquentes uma “nova oportunidade”. Como professor de criminologia, eu dispunha do tempo que queria para tomar decisões difíceis. Como policial, no entanto, era forçado a fazer escolhas críticas em questão de segundos (prender ou não prender, perseguir ou não perseguir), sempre com a incômoda certeza de que outros, aqueles que tinham tempo para analisar e pensar, estariam prontos para julgar e condenar aquilo que eu fizera ou aquilo que não tinha feito.

Como policial, muitas vezes fui forçado a resolver problemas humanos incomparavelmente mais difíceis do que aqueles que enfrentara para solucionar assuntos correcionais ou de sanidade mental: rixas familiares, neuroses, reações coletivas perigosas de grandes multidões, criminosos. Até então, estivera afastado de toda espécie de miséria humana que faz parte do dia-a-dia da vida de um policial.

Bondade em uniforme.  Frequentemente, fiquei espantado com os sentimentos de humanidade e compaixão que pareciam caracterizar muitos dos meus colegas agentes da polícia. Conceitos que eu considerava estereotipados eram, muitas vezes, desmentidos por atos de bondade: um jovem policial fazendo respirações boca a boca num imundo mendigo, um veterano grisalho levando sacos de doces para as crianças dos guetos, um agente oferecendo a uma família abandonada dinheiro que provavelmente não voltaria a reaver.

Em consequência de tudo isso, cheguei à humilhante conclusão de que tinha uma capacidade bastante limitada para suportar toda a tensão a que estava sujeito. Recordo em particular certa noite em que o longo e difícil turno terminara com uma perseguição a um carro roubado. Quando largamos o serviço, eu me sentia cansado e nervoso. Com meu colega, estava me dirigindo para um restaurante a fim de comer qualquer coisa, quando ouvimos o som de vidros se quebrando, proveniente de uma igreja próxima, e vimos dois adolescentes cabeludos fugindo do local. Conseguimos interceptá-los e pedi a um deles que se identificasse. Ele me olhou com desprezo, xingou e me virou as costas com intenção de se afastar. Não me lembro do que senti. Só sei que o agarrei pela camisa, colei seu nariz bem no meu e rosnei: “Estou falando com você, seu cretino!”

Então, meu colega me tocou no ombro, e ouvi sua reconfortante voz me chamando à razão: “Calma, companheiro!” Larguei o adolescente e fiquei em silêncio durante alguns segundos. Depois, me recordei de uma das minhas lições, na qual dissera aos alunos: “O sujeito que não é capaz de manter completo domínio sobre suas emoções em todas as circunstâncias não serve para policial.”

Desafio complicado. Muitas vezes perguntara a mim próprio: “Por que um homem quer ser policial?” Ninguém está interessado em dar conselhos a uma família com problemas às três da madrugada de um domingo, ou em entrar às escuras num edifício que foi assaltado, ou em presenciar dia após dia a pobreza, os desequilíbrios mentais, as tragédias humanas. O que faz um policial suportar o desrespeito, as restrições legais, as longas horas de serviço com baixo salário, o risco de ser assassinado ou ferido?

A única resposta que posso dar é baseada apenas na minha curta exреriência como policial. Todas as noites eu voltava para casa com um sentimento de satisfação e de ter contribuído com algo para a sociedade - coisa que nenhuma outra tarefa me tinha dado até então. Todo agente da polícia deve compreender que sua aptidão para fazer cumprir a lei, com a autoridade que ele representa, é a única “ponte” entre a civilização e o submundo dos fora da lei. De certo modo, essa convicção faz com que todo o resto (o desrespeito, o perigo, os aborrecimentos) mereça que se façam quaisquer sacrifícios.

 

 

Marcelo Augusto de Carvalho 3 de julho de 2025 Artur Nogueira SP


 

23

POR QUE AS PESSOAS NÃO MUDAM?

Marcelo Augusto de Carvalho

 

TOPO

 

LUCAS 7.36-50 – Simão, o fariseu leproso.

 

SIMÃO TINHA CERTEZA QUE CONHECIA TUDO SOBRE SI MESMO!

 

ORGULHO RACIAL – era filho de Abraão, o amigo de Deus.

RELIGIÃO CERTA – adorava Jeová, o Criador do Céu e da Terra.

ESPERANÇA CERTA – ele esperava pela vinda do Messias, filho de Davi.

COMPORTAMENTO CERTO – era um dos 6 mil fariseus de seu tempo!

IGREJA CERTA – adorava no Templo de Jerusalém, habitado pela presença de Jeová.

 

SE TUDO ESTÁ TÃO BEM, POR QUE ELE PROCUROU JESUS?

 

Mesmo tudo tão certo, algo falta. Vem a doença, a mais temível de todas a LEPRA. Além de causar exclusão do povo e na maioria das vezes a morte certa, é o sinal claro do juízo de Deus sobre a pessoa, evidenciando, segundo a crença daquele tempo, a perdição eterna.

Os fariseus odiavam a Jesus. Mas em seu desespero Simão ignora o preconceito e o ódio de seus iguais, vai a Jesus e pede a cura, e Jesus o salva de sua condição lastimável.

Para então demonstrar sua gratidão, respeito e fé pública ele oferece um BANQUETE a Cristo em sua casa.

“Ufa, essa foi por pouco!” – ele pensava. Meu inconsciente, minha história, meus medos, meus pecados e minha perdição, quase tudo veio à tona, mas a cura de Jesus resolveu a questão. Posso então continuar como sempre fui.

 

QUE COISAS QUE USAMOS PARA EVITAR FALAR COM DEUS SOBRE NÓS MESMOS?

 

Deu o banquete, para celebrar a vitória, para esquecer o que não quer tocar, para prosseguir sem precisar mudar.

Convidou as pessoas certas, todas aquelas que lembravam seu sucesso.

Evitou todas aquelas que lembravam seu interior e seu passado, como a mulher pecadora, MARIA, a quem ele havia levado ao pecado!

Discutimos teologia, brigamos sobre as datas certas dos cumprimentos das profecias, nos encantamos com os milagres de Cristo e fazemos aplicações espirituais e pertinentes das parábolas do Mestre.

Damos uma de benfeitores anotando e apresentando os pedidos por curas e milagres dos irmãos de nossa igreja, de nossos parentes e amigos.

Lemos a Bíblia de capa a capa, pregamos o Evangelho aos vizinhos, e se precisar estamos dispostos a brigar e a até morrer pelo Evangelho...desde que...não toquemos no que há no mais íntimo de nosso ser: a NATUREZA PECAMINOSA e seus efeitos!

 

JESUS ENTÃO DECIDE MOSTRAR A ELE A VERDADE, DE SI MESMO!

 

Quando MARIA unge a Cristo com aquele caríssimo nardo, e esquecendo a toalha o enxuga com seus cabelos, o orgulho fariseu se revela. Das profundezas de seu INCONSCIENTE brota naturalmente seu ódio por Jesus. Internamente o rejeita como Messias, repugna a mulher que fora pecadora (por motivação dele) e se acha o melhor dos três envolvidos.

Ele julga a Cristo em seu interior. Jesus o julga, de forma discreta também.

Conta a parábola do CREDOR COMPASSIVO. Só os 3, de todos os presentes, entende o que Jesus diz.

 

Como fizera Natã com Davi, Cristo ocultou Seu bem atirado golpe sob o véu de uma parábola. Lançou sobre o hospedeiro a responsabilidade de proferir a própria sentença. Simão induzira ao pecado a mulher que ora desprezava. Fora por ele profundamente prejudicada. Pelos dois devedores da parábola, eram representados Simão e a mulher. Jesus não intentava ensinar que diferentes graus de obrigação houvessem de ser sentidos pelas duas pessoas, pois [397] cada uma tinha um débito de gratidão que nunca se poderia solver. Mas Simão se julgava mais justo que Maria, e Jesus desejava fazer lhe ver quão grande era na verdade a sua culpa. Queria mostrar-lhe que seu pecado era maior que o dela, tão maior, como um débito de quinhentos dinheiros é superior a uma dívida de cinquenta. Simão começou então a ver-se sob um novo aspecto. Observou como Maria era considerada por Alguém que era mais que profeta. Notou que, com o penetrante olhar profético, Cristo lhe lera o amorável e devotado coração. A vergonha apoderou-se dele, e percebeu achar-se em presença de Alguém que lhe era superior.

Simão foi tocado pela bondade de Jesus em não o repreender abertamente diante dos hóspedes. Não fora tratado como desejara que Maria o fosse. Viu que Jesus não desejava expor sua culpa diante dos outros, mas buscava, por uma exata exposição do fato, convencer-lhe o espírito e por piedosa bondade vencer-lhe o coração.

Viu a magnitude do débito que tinha para com seu Senhor. Seu orgulho humilhou-se, ele se arrependeu, e o altivo fariseu tornou-se um humilde e abnegado discípulo O Desejado de Todas as Nações, 483-494.

 

Simão deu o banquete para agradecer a cristo. É um excelente gesto!

Mas o plano da salvação também envolve saber de nós mesmos.

Por medo, vergonha e até incapacidade, somos peritos em nos JUSTIFICARMOS. Damos a entender que tudo está bem minimizando nossa verdadeira condição.

Mas isso é apenas uma FUGA infantil. Agir assim não resolve nada!

E quanto mais nos escondemos menor é nossa capacidade de nos compreendermos e de mudarmos realmente.

Ninguém muda o que não entende! Sem compreender-nos é impossível perceber a mudança que precisa acontecer em nós.

Sem conhecer a mim mesmo de verdade...sem reconhecer o que verdadeiramente preciso...sem me aceitar e me amar apesar do que sou...jamais haverá qualquer mudança em minha vida!

Nossa maior necessidade então não é sentirmos melhor a nosso respeito, mas que nos compreendamos melhor.

 

DEUS USOU ESSE MÉTODO COM:

 

ADÃO – Deus perguntou-lhe: “Onde estás? Comeste do fruto da árvore que eu te proibi?” Adão precisava compreender quão PRESUNÇOSO havia sido em buscar conhecimento fora de Deus, comendo o fruto proibido.

CAIM – Deus perguntou-lhe: “Onde está o teu irmão?” Ele precisava compreender que seu ORGULHO havia levando-o a não entregar a oferta pedida, a odiar seu irmão obediente e por fim matá-lo.

JACÓ – Deus perguntou-lhe: “Qual é o teu nome?” Jacó precisava compreender que era um ENGANADOR desde sua infância, fazendo de todos que o amavam um objeto de seu vício pela primogenitura.

ELIAS – Deus perguntou-lhe: “Que fazes aqui?” Elias precisava compreender quão COVARDE ele era diante das ameaças de Jezabel, a mesma que nunca tivera poder em encontrá-lo ou fazer qualquer mal a ele.

 

SIMÃO PRECISAVA NASCER DE NOVO!

 

Ter um novo orgulho, o de ser HUMILDE e SERVIÇAL.

Ter uma nova religião, RELACIONAR-SE com a pessoa de Cristo.

Usar os RITOS religiosos para lembrá-lo de Deus, de Seu amor e poder.

Ter o COMPORTAMENTO certo: andar com Deus, relacionar-se com próximo, amar os inimigos, cuidar dos necessitados, e viver em paz consigo mesmo.

Este era o NOVO NASCIMENTO que ele tanto precisava, mas tinha tanto mesmo de vive-lo.

 

EXEMPLO DOS CORAJOSOS QUE ASSUMIRAM A VERDADE A SEU RESPEITO

 

Deus usou a história que o profeta Natã contou para dizer a DAVI que ele gostava de sexo com dominação do outro. Foi o que ele fez com Bate-Seba. Davi confessou, não o seu pecado, mas quem ele era, a tal ponto que pediu que Deus: “Cria em mim um coração puro!” Ele queria ser novo.

Deus usou o tempo da maturidade para mostrar a SALOMÃO que todos os seus dons e capacidades bem como suas realizações como rei eram dominados pela sensualidade. Ele arrependeu-se e para testificar disso a outros escreveu o livro de Eclesiastes.

Deus usou o profeta Daniel para revelar a NABUCODONOSOR que a única e pobre expressão de sua vida era o poder e a glória política. Como ele não se arrependeu, tornou-se louco, vivendo com os animais e comportando-se como um deles por alguns anos. Quando finalmente arrependeu-se, Deus o perdoou restaurando-o à sua antiga posição.

Deus usou a prisão e o cativeiro para mostrar ao rei MANASSÉS que todos os seus relacionamentos era dominados por violência.

 

APELO

 

Pare de evitar o que Deus tem para dizer a você, sobre Ele, mas principalmente sobre você mesmo. Assim você receberá a nova vida!

VIDA NOVA PARA MICHELE

Numa clínica de doenças venéreas em Paris, MICHELE, uma enfermeira já passada dos cinquenta, com um rosto extraordinariamente alegre e risonho, acabara de colher uma amostra de sangue de uma jovem sifilítica, e lhe prometia uma rápida recuperação.

“Com a vida que levo, não vou demorar a ter uma recaída”, retrucou a paciente. “Mas como é que uma mulher pode largar esta vida de rua? Você não sabe como é duro.” Michele virou-se para ocultar a sua emoção. “Oh, sim, eu sei”, pensou, pois ela também havia sido uma prostituta, além de assaltante e alcoólatra. Michele contou a sua história num livro que já vendeu 58 mil exemplares, e já deu várias conferências a respeito. Com isso, ela tentou provar às infelizes mulheres de rua que a prostituição não é uma viagem sem volta.

Michele nasceu de uma família pobre, nos subúrbios de Paris. Desde que se lembra, ela, sua irmã e dois irmãos assistiam aos espancamentos que a mãe recebia do pai alcoólatra.

“Agora consigo ver”, escreveu em seu livro, “a mesa virada, e o meu irmão mais novo me escondendo por trás do tampo lateral para me salvar das pancadas. Quando meu pai saía de casa de manhã, era um alívio.” Finalmente, sua mãe morreu em consequência das brutalidades do marido, e o ódio alimentado por Michele contra o pai transformou-se num desprezo por todos os homens.

Aos 15 anos, a garota dormia sob as pontes de Paris e roubava para sobreviver. Então, uma noite, em seu refúgio num barracão perto da Porte d'Ivry, uma jovem se dirigiu a ela com simpatia, ofereceu-lhe um quarto no Boulevard de la Chapelle e um emprego como garçonete num bar.

A garota nunca havia possuído um quarto para si própria, com água e luz elétrica. Além disso, segundo parecia, sua amiga Suzanne desmanchava-se em atenções para com ela. Um dia apresentou-a a um homem chamado Mimile, quarentão e adulador, que convidou as duas para jantar num restaurante. Michele estava caminhando sobre nuvens. E deixou-se levar pela boa comida e pelo vinho.

Ela estava prisioneira num bordel. Os dias que se seguiram foram de pesadelo. “Lembrei-me”, conta ela, “dos vizinhos do bairro onde eu morava, e que costumavam dizer: Você vai acabar na sarjeta!' Bem, era lá que eu tinha acabado.”

No fim da primavera de 1940, quando os seus clientes já não eram franceses, mas sim alemães, - disseram para Michele que a França havia perdido a guerra. Envolvida numa tentativa gorada para assaltar uma joalharia, ela conseguiu iludir a polícia e convenceu um oficial alemão a arranjar-lhe um passaporte para a Alemanha.

Trabalhou como criada num restaurante perto de Stuttgart e passava suas noites num campo de prisioneiros das proximidades, no qual, em troca de certos favores, era introduzida por um soldado alemão. “Entretanto”, declara ela, “lá bem no fundo de mim havia uma voz que bradava pelo meu desejo de ter outra vida.”

Uma noite, no restaurante, encontrou quatro franceses que haviam sido recrutados pelo S.T.O. (Serviço de Trabalho Obrigatório - Uma instituição criada pelo governo de Vichy a favor dos alemães, para organizar o envio de mão-de-obra forçada pаrа as fábricas alemãs.) Adotando-a num espírito fraternal, eles lhe contaram quais eram as suas atividades subterrâneas - ajudar prisioneiros a escapar e fornecer aos Aliados informações sobre a fábrica de aviões onde trabalhavam. Pela primeira vez, Michele sentiu que alguém estava confiando nela.

Um sábado, ela perdeu o último trem, e um dos rapazes, Jacques, convidou-a para ficar na casa dele. Teria ela errado ao pensar que os quatro estavam oferecendo apenas amizade? Será que este também mostraria ser igual aos outros? Entretanto, para sua surpresa, assim que ficaram a sós, Jacques tirou da sua mala uma batina e um crucifixo e disse-lhe que era padre. Ao ver que ela não havia compreendido - pois nada sabia de religião - ele lhe explicou o significado daquilo.

À medida que os dias passavam, ela se deslumbrava cada vez mais com os presentes que estava recebendo - amizade, confiança, fraternidade. Não, felizmente para a humanidade, nem todos os homens eram iguais.

“Mesmo de pois de ficarem sabendo quem eu era, os meus amigos não me condenaram”, conta ela. “Até acreditaram que eu podia me tornar uma mulher como as outras.”

Eles lhe ofereceram trabalho numa creche improvisada, criada para os filhos dos prisioneiros franceses. Ali, trocando fraldas de bebês, ela finalmente começou a sentir-se útil e a pensar que podia esquecer o seu terrível passado.

Mas o fim da guerra uma vez mais a lançou no abismo da solidão. Os amigos se separaram. Em Paris, quase inconscientemente, ela se viu de volta à Rue Saint-Denis, de volta à prostituição. Dentro de três semanas, sua saúde chegou a um estado crítico e, no hospital, disseram-lhe que tinha uma séria infecção pulmonar.

Entre lances de delírio, ela se lembrou de um amigo em Stuttgart, chamado François, e escreveu-lhe pedindo auxílio.

François veio imediatamente e deu um jeito para que Michele fosse viver no Jura, com uma família do interior, durante seis meses. Mas agora ela sabia que nunca poderia vencer sozinha, sem um auxílio constante.

Resolveu ir falar com o padre da cidade. Por coincidência, ele estava em contato com um bretão, o padre André Talvas, que tinha acabado de inaugurar Le Nid (O Ninho), um lar dedicado à reabilitação de prostitutas. “Gostaria de vir para cá?”, perguntou o Padre Talvas a Michele.

Em Fontenay (Hauts-de-Seine), Michele. tornou-se uma das garotas, num grupo de cinco, que tentavam romper com a prostituição. Aprendeu a tolerar o trabalho regular - fabricando chinelos na oficina de Le Nid - e em breve foram-lhe confiadas responsabilidades básicas (limpeza, cozinha, recados). Um grupo de quatro auxiliares de Le Nid a estimulava e tentava fazer com que ela reestabelecesse os laços familiares. Eufórica, renovou as ligações com os seus irmãos Jean e Marcel.

Em 1948, após uma longa convalescença na Normandia, Michele, finalmente em paz consigo própria, sentiu-se suficientemente forte para começar a ajudar os outros. Associou-se ao quadro do pessoal de Le Nid, ensinando aos novos membros as normas da instituição, as habilidades da costura e da cozinha, Para não perder o contato com o mundo exterior, ia a Paris duas tardes por semana para trabalhar como mulher de limpeza.

Mas Michele vacilou mais uma vez. Um dia, ao fim da tarde, num passeio a pé pelos Champs-Elysées, permitiu-se entrar em discussão com um homem. Foram depois para um bar e, embora ela tivesse abandonado o álcool, resolveu pedir um conhaque. Depois de alguns drinques, tudo se enevoou. O despertar foi brutal: encontrava-se numa cama, ao lado do seu companheiro fortuito. Na verdade, ele não lhe havia oferecido qualquer dinheiro, mas ela se sentia terrivelmente humilhada.

“Pulei da cama e vesti-me”, diz ela. “Às cinco da manhã encontrava-me na rua, chorando aos soluços. Estava tão envergonhada!”

Como uma sonâmbula, viu-se de repente à porta do Padre Talvas. “Estive à sua espera”, ele disse.

Por volta de 1953, a jovem já se havia elevado à categoria de líder de grupo num movimento juvenil de um subúrbio de Paris. Daí, foi promovida à importante função de operadora telefônica em Le Nid.

Michele queria, entretanto, a todo o custo, aprender uma profissão que a tornasse independente. Já próxima dos 40 anos de idade, ela começou a estudar para obter o seu diploma do curso ginasial, trabalhando em meio expediente como telefonista. Em seguida, aprendeu álgebra e direito, а fim de poder entrar para a escola de Beneficência Social dos Trabalhadores, onde passou a trabalhar junto com garotas que tinham idade para ser suas filhas. Ao realizar estágios em hospitais de Paris, ela descobriu a sua verdadeira vocação: enfermagem. “Eu descobri que os pacientes necessitavam de uma presença simpática que os ajudasse a se recuperarem. Eles estavam à minha espera. Eu podia lhes trazer alívio, e até fazê-los rir!” Entrou para a Escola de Enfermagem e, graças à sua aplicação aos estudos, obteve o diploma em 1963.

Michele estava finalmente em posição de mostrar o que podia fazer. As irmãs da Ordem da Assunção, num superpopuloso bairro de um subúrbio de Paris, necessitavam de uma enfermeira, e ela se apresentou como candidata. Todas as manhãs, percorria dezenas de quilômetros em sua moto e subia centenas de degraus. A uma mulher espancada pelo marido alcoólatra, ela segredou: “Sabe que ele pode ser curado?” E em seguida tratou de alojar o homem aos cuidados de um grupo da Vie Libre, uma instituição antialcoólica.

Em 1966, foi nomeada diretora do serviço de beneficência do seu bairro, onde poderia aplicar os meios e a eficiência de uma organização oficial ao serviço dos menos privilegiados.

Finalmente redimida, Michele estava agora decidida a utilizar a sua experiência para ajudar os outros. Já em 1958, o Padre Talvas lhe havia pedido que participasse de um programa de televisão sobre a prostituição, e contasse diretamente para o público a sua história. Entre 1968 e 1972, ela realizou cerca de 50 conferências por toda a França. A 9 de março de 1972, mais de cinco mil pessoas foram ouvi-la no salão da Mutualité, em Paris.

Incansavelmente, Michele explicou que a prostituição não é um beco sem saída. Nenhuma mulher nasce prostituta; mas torna-se uma prostituta, empurrada para tal por motivações profundas, como a falta de afeto dos pais, a solidão e a ausência de qualquer experiência profissional.

Ela também atacou a aplicação inadequada das leis contra a exploração da prostituição e exigiu mais centros baseados no modelo de Le Nid. Para os céticos, ela resumiu os resultados de Le Nid: em mais de três mil mulheres que o centro auxiliou nos últimos 30 anos, 60% a 70% conseguiram edificar novas vidas para si próprias.

“Gostaria que todo mundo soubesse”, repetia constantemente, “que nós, mulheres da vida, não estamos perdidas para sempre. Mas a sociedade nos deve dar a oportunidade de viver como toda a gente.”

Agora, depois de ter escrito o seu livro, Michele acha que cumpriu a sua missão como um exemplo, e devota-se com toda a energia a ajudar os doentes de uma maneira direta.

Todos os dias, na clínica de doenças venéreas, ela trata de cerca de 150 pessoas, das quais 60% são jovens. No seu bairro, ela dirige um grupo de solidariedade, que tenta aliviar as misérias da vizinhança. Isabelle, uma ex-prostituta que se tornou fisioterapeuta, faz parte do grupo, tal como Roger, um viciado em drogas reabilitado, além de Pierre, ex-presidiário. Pelo menos uma vez por mês, Michele trabalha com um grupo da Vie Libre; ela própria fez um voto de abstinência.

Apesar de toda a infelicidade que conheceu, Michele nunca se mostra amarga. “Não lamento absolutamente nada”, contou-me ela. “Se não tivesse percorrido um caminho tão longo, talvez nunca tivesse me encontrado com os outros. E a alegria que eles me trouxeram suavizou todas as minhas infelizes memórias e reforçou a minha esperança de que nada está jamais perdido.”

 

 

Marcelo Augusto de Carvalho 4 de julho de 2025 Artur Nogueira SP


 

24

CONSULTE O PASSADO, MAS VIVA O PRESENTE

Marcelo Augusto de Carvalho

 

TOPO

 

GÊNESIS 33.1-4 – Jacó

 

PRESO NO PASSADO

 

REJEIÇÃO – Jacó havia sido rejeitado por seu pai. Isaque idolatrava Esaú, o filho mais velho, por suas habilidades intrépidas de caçador e ignorava Jacó por ser pacato e sensível, como ele. Por não resolver esse desprezo, ele o guarda em seu inconsciente para repetir o que mais o machucou na educação de seus filhos, preferindo José, e desprezando os demais filhos.

ADULAÇÃO – numa família disfuncional, tudo tende a ser desproporcional, tanto a rejeição quanto o amor. O pai rejeita Jacó por um motivo infantil, a mãe o acolhe e o ama por compaixão, mas o cerca de tantos mimos e proteção que ele passa a usá-la como arrimo emocional. Entra em um ciclo vicioso de dependência que quando a mãe o ordena a vestir-se como o irmão para roubar a benção ele não tem forças para dizer não a ela.

IDENTIFICAÇÃO PATOLÓGICA – numa tentativa inconsciente e desesperada para ter a valorização do pai Jacó faz do maior sonho do pai, a primogenitura, o seu objetivo de vida. E para consegui-la, abusa da necessidade do irmão, a fome depois de ir caçar, e extorque dele a venda da primogenitura. Acha que deu certo, mas ninguém reconhece tal compra. Então aceita enganar o pai e o irmão da forma mais sorrateira possível. Nem assim o pai o ama por isto!

 

PARE DE VIVER NO PASSADO

 

Nosso INCONSCIENTE guarda tudo o que passamos e tudo o que sentimos diante desses eventos, criando PRINCÍPIOS pelos quais analisaremos nossa vida e pelos quais tomaremos nossas decisões diárias.

Precisamos examinar esses PRINCÍPIOS estabelecidos para podermos ser livres de fato para desenvolvermos novas CONVICÇÕES necessárias em nosso presente.

Quem se prende ao seu passado, fatalmente o REPETE!

É sempre melhor poder escolher viver pelas NOVAS CONVICÇÕES, nascidas de nosso crescimento, do que repetir o que nos desalentou no passado.

 

O PREÇO DE SE VIVER NO PASSADO

 

ISRAEL NO DESERTO – saíram do Egito de forma miraculosa, mas o Egito nunca saiu deles. Diante de cada falta ou insegurança, voltavam às memórias do passado. O pior era que eram memórias falsas, deformadas pela imaginação de um inconsciente doentio. Eles foram escravos por séculos. Por pior que fosse o deserto, eram livres, e Deus cuidava deles em cada situação. Mas como decidiram viver do passado, toda aquela geração teve que morrer no deserto, sem entrarem para desfrutar a terra que mana leite e mel.

ABSALÃO – usou os erros de seu pai, no passado, para justificar seu direito ao trono. Isto não o ajudou em nada. Como decidiu mirar no passado, tornou-se adúltero, assassino, ladrão e enganador, muito pior do que seu pai, caindo rapidamente em desgraça e morte.

EZEQUIAS – usou suas virtudes, boas ações e escolhas fiéis do passado para justificar que ele merecia a cura de sua grave doença. Deus o atendeu, apenas para nos mostrar que nem a FIDELIDADE a Ele deve viver do passado. Naqueles 15 anos a mais que recebeu, Ezequias cometeu seus piores erros, abrindo os cofres de Jerusalém ao conhecimento dos babilônicos e ainda educando pessimamente seu filho Manassés, que seguramente tornou o rei mais violento de Judá.

 

CONSULTE O PASSADO, MAS CONSTRUA SEU PRESENTE

 

MOISÉS tinha medo de voltar ao Egito. Ele tinha um cadáver nas costas, aquele egípcio que ele matara para defender o hebreu. Diante da sarça ardente, Deus o chamou para viver a missão de sua vida, e para resolver seu medo do passado, disse-lhe que seus perseguidores já haviam morrido, e que ele podia viver o presente em plenitude de espírito.

GIDEÃO olhava o passado glorioso de Israel com alegria, mas via o presente com amargura e decepção. Deus o encontrou no lagar e disse para que ele que se estivesse disposto no presente seria usado poderosamente para livrar os hebreus de seus piores inimigos.

SANSÃO foi capturado, cegado e humilhado. Olhava para seu passado depravado com vergonha e arrependimento. Mesmo cego decidiu olhar o presente e pediu a Deus a chance de vingar seus inimigos para finalmente honrar a Deus como o Criador merece. Deus lhe concedeu a força que ele precisava para isto. Morreu, mas libertou Israel, descansando salvo em Cristo!

 

A SOLUÇÃO DE DEUS PARA JACÓ

 

Não foi “Denuncie”, “Processe”, “Odeie”, “Persiga”. Isso tem o seu lugar, mas depois de feito, voltamos à vida diária, e o que temos? O que somos?

 

RECONHEÇA quem você é: suas emoções e sua forma de ser.

RESTABELEÇA seus relacionamentos rompidos ou mal resolvidos.

PERDOE você por seus sentimentos e erros praticados. Perdoe seu irmão pela rivalidade expressa. Perdoe seu pai pelo comportamento alterado. Perdoe sua mãe pela ausência ou pela conivência.

ORE por seus inimigos. Mateus 5.38-44.

VOLTE à sua terra, para se analisar, compreender o que há dentro de você e dentro dos seus queridos.

RECONSTRUA sua história quebrando os ciclos familiares de destruição e morte.

APRENDA novas e melhores crenças, e armazene-as em seu Inconsciente. Construa NOVOS RELACIONAMENTOS com pessoas com as quais você possa ter o que te faltou no passado!

 

APELO

 

Consulte seu passado, mas não fique lá. Viva seu presente pelo poder que há em Cristo!

 

VOLTA AO PASSADO - Por HALLIE SCOTT

Começou com um dente perdido... e acabou numa descoberta inesperada

Um dia pela manhã, no ano passado, minha filha Laurel desceu as escadas com um vestido de seda rosa, sapatos de plástico vermelhos de salto alto e cintilantes asas multicoloridas. Trazia uma varinha na mão. "Você acha que a fada dos dentes vem hoje à noite?", perguntou, referindo-se à tradição de colocar dinheiro sob o travesseiro da criança, em "troca" do dente que ela perdeu. O sorriso desfalcado mostrava que ela esperava, ansiosa, essa visita mágica.

A fada dos dentes nunca apareceu na minha infância. Mas, no ano anterior, comecei uma série de consultas ao dentista que me trouxeram recordações enterradas havia muito. Tudo começou num exame em que, para minha surpresa, fui informada de que teria de extrair um dente.

Era um problema de reabsorção, distúrbio que faz com que o dente se fragmente e se dissolva. Por fora parece são, mas por dentro está doente. Ninguém sabe o que causa a reabsorção, disse-me o dentista, mas muitas vezes o problema está associado a um traumatismo, podendo manifestar-se anos mais tarde. “Você machucou o dente quando era criança?”, perguntou ele.

Lembrei-me de um incidente durante um jogo de beisebol, quando tinha uns 12 anos. Eu, de pé no campo, levantando as mãos e vendo a bola vir na minha a bola vir na minha direção.

Foi o que contei e ele. E não pensei mais a respeito até visitar meu irmão, semanas depois, com um dente provisório na boca. “Esse seu problema foi causado por um traumatismo?”, perguntou meu irmão, arregalando os olhos.

Sua expressão assustada trouxe-me a recordação: lábios rachados, batom cor-de-laranja, a boca aberta enquanto a mão direita atinge meu maxilar. Não sei quantas vezes minha mãe me bateu. Numa ocasião chegou a me cuspir.

Depois do divórcio de meus pais, passei a adolescência tomando conta de meu irmão. Nós nos acostumamos a ver mamãe berrando do alto da escada. Certa madrugada, acordei e a encontrei junto de mim, na minha cama, abrindo e fechando uma tesoura. “Que tal eu cortar todo o seu cabelo?”, disse ela. Depois disso passei a fazer uma barricada na minha porta à noite.

Os médicos que a trataram nunca me disseram o diagnóstico, tampouco a ajudaram a escapar do mundo apavorante que habitava.

Em 1979, quando completei 18 anos, meu pai entrou com um pedido da guarda de meu irmão. Ele ganhou a ação duas semanas antes de eu partir para a universidade. Desde então, só vi minha mãe uma vez.

Parentes me disseram que ela mora num condomínio para aposentados.

Como adulta lutei contra o legado de minha mãe.

- Ela não era realmente mãe para mim – eu disse uma vez a um psicólogo. – Não cuidava de mim como mãe.

- Mas era sua mãe - insistiu ele.

- Não era, não. - Eu sabia que soava ridículo, mas não podia evitar. Não queria reconhecer nenhum vínculo com ela.

- Era, sim - afirmou ele, com delicadeza.

Havia décadas que ela me batera. Por que meu dente esperou tanto para morrer?

Descobri que fazer um implante dentário é um processo demorado, como ter um bebê. São necessárias várias consultas. Cada vez que eu me sentava na cadeira do dentista, ficava pensando por que não me dera conta da verdadeira causa da reabsorção. Eu não mentira ao dentista de propósito; no entanto, minha mente se agarrara a um meio de proteção: o esquecimento.

Existe a memória consciente e a memória corporal. Meu corpo não me deixava esquecer. Mas pensar em minha mãe me fazia querer esconder essas recordações debaixo de um travesseiro, para que ninguém as visse.

Quando me casei, a questão de ter filhos me preocupava muito. Eu me perguntava se o ato de dar à luz e cuidar de meus filhos não me levaria a perder o controle, tal qual minha mãe. Se eu realmente saberia ser mãe, com o modelo que tivera. Será que toda a tristeza e o terror que eu sentira passariam para meus filhos, tornando-se parte de sua natureza?

Esses temores voltaram na noite em que Laurel foi se deitar, aguardando a fada dos dentes. Entrei em seu quarto na ponta dos pés, para colocar moedas debaixo de seu travesseiro, e me demorei um instante, olhando o corpinho esguio relaxado no sono, o rosto que combinava duas famílias numa só. Apesar do receio de despertá-la, não resisti e toquei-lhe os cabelos compridos.

Fiquei ali sentada ao lado dela, alisando aquelas mechas sedosas. E aos poucos foi tomando conta de mim a consciência de que meus filhos também terão memórias corporais. Em algum lugar recôndito, meu filho vai guardar a lembrança de minhas mãos segurando-o com firmeza na banheira, deixando-o brincar e espalhar a água sem medo. Minha filha vai lembrar-se da brisa em seu rosto quando ela pulava de alegria em nosso jardim e eu girava de mãos dadas com ela.

Esses atos de ternura e amor rompem o ciclo antigo e iniciam um novo. Coloquei minhas recordações debaixo do travesseiro. Em seu lugar foi deixada uma dadiva: a certeza de que mil beijos de boa noite ficar do guardados nos ossos de meus filhos.

 

 

Marcelo Augusto de Carvalho 5 de julho de 2025 Artur Nogueira SP


 

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A ÚNICA FORMA DE NÃO CRESCER

Marcelo Augusto de Carvalho

 

TOPO

 

ATOS 9 – Saulo.

 

AS CRENÇAS DE SAULO (PAULO)

 

Nasceu para crescer. Com uma mente privilegiada, foi desde pequeno preparado para ser o maior rabino de Israel. E ele correspondeu ao investimento.

Mas...ele pensava assim: para crescer controlo tudo. Assim evito problemas, sim, as pessoas que me incomodam!

Mas as pessoas, os outros, é tudo o que precisamos ter nessa vida. É deles que virá o verdadeiro conhecimento que precisamos, pois só com as pessoas temos as informações aliadas à conexão emocional que tonar o conhecer uma experiência edificante e humana.

Por isto, jamais deveríamos evitá-las.

 

PESSOAS ORGULHOSAS DEMAIS PARA PEDIREM AJUDA

 

O LADRÃO NA CRUZ – quando Cristo foi crucificado, os 2 ladrões praguejavam sobre Ele. Um, percebendo seu erro, arrependeu-se e pediu para que o Salvador lembrasse dele em seu reino. Seu humilde pedido foi aceito e confirmado. Já o outro ladrão, mesmo diante de todas as evidências da divindade de Cristo em meio a atrocidade de uma crucifixão, mesmo com o testemunho da decisão do colega, e sem nenhum motivo para se orgulhar naquele momento, ele preferiu rejeitar a Cristo, morrendo perdido!

OS DEZ ESPIAS – nasceram, cresceram e passaram a liderar em Israel sendo escravos no Egito. Sofreram tudo o que a escravidão pode pesar na vida de um ser humano. Mas viram as 10 pragas e o modo maravilhoso como Deus libertou Seu povo. Por 2 anos viram como Deus manteve de forma poderosa uma nação inteira andando pelo deserto. Mas quando foram espiar a terra de Canaã preferiram descrer das promessas de Deus a Seu povo. Trocaram o cuidado e a intimidade divina pela distância e incredulidade aquele que mantém o Universo!

ACÃ – mesmo depois de presenciar tantos milagres de Deus por Seu povo, e saber da ordem clara de que nenhum israelita poderia pegar para si qualquer coisa da cidade de Jericó, Acã escolheu o dinheiro, os objetos preciosos, uma capa caríssima do que depender de Deus, do que andar com Ele pela fé.

 

QUAL É O RESULTADO DO ORGULHO EM NOSSA VIDA?

 

CONSTRUTORES DE BABEL – quiseram usar as pessoas de seu tempo para celebrizar seu nome para sempre. Deus não permitiu esse comportamento funesto. Foram confundidos em sua língua, espalhados pelo mundo e esquecidos pela história humana.

CAIM – quis dominar seu irmão. Não conseguindo, matou-o por motivo leviano. Teve que separar-se de seus pais, viver como fugitivo, e viver de forma errante pela Terra.

FARAÓ – além de manter a escravatura sobre Israel, foi tornando cada vez mais pesado o fardo de trabalho dos hebreus. Tentou evitar o contato com Moisés e com Arão, os servos de Deus, para nunca ter que se relacionar com o Deus Criador. Recebeu as 10 pragas e como resultado foi exposto, humilhado, perdeu o filho na décima praga, e finalmente destruído nas águas do Mar Vermelho.

 

EVITAMOS OS OUTROS PARA NÃO PRECISARMOS CRESCER

 

SAULO – tentou evitar a Igreja cristã para não precisar crescer em sua compreensão sobre o Messias.

JOSÉ – tentou evitar sua futura cônjuge, Maria, para não passar pela vergonha de aparentemente ser traído por ela durante o noivado.

ISAQUE – tentou evitar o filho, Jacó, porque não queria aprender a amar um filho diferente do que ele havia planejado amar.

IRMÃOS DE JOSÉ – tentaram evitar o irmão melhor do que eles, José, porque não queriam aprender a serem obediente ao pai e a Deus.

JUDÁ – tentou evitar a nora, Tamar, porque ele não queria enxergar que havia criado tão mal seus filhos que eles foram mortes por Deus.

PEDRO – tentou evitar seus colegas, os discípulos, dizendo que eles poderiam negar a Cristo, mas jamais ele.

FARISEUS – evitavam os pecadores, publicanos, prostitutas porque não queriam aprender com eles o que há na natureza humana e como superar nossas dificuldades pessoais.

 

PESSOAS CRESCEM CONVIVENDO COM PESSOAS

 

SAULO – tentou evitar a Igreja, mas por conviver com ela tornou-se o cristão com maior influência sobre o mundo, por meio de seus escritos e seu trabalho em favor dela.

RUTE – cresceu convivendo com sua sogra, Noemi, tornando-se uma fiel adoradora de Jeová, um exemplo de devoção estrangeira a Israel, a bisavó do maior rei de Israel, Davi, e uma das precursoras de Jesus.

DAVI – cresceu tendo que conviver com seu inimigo Saul, preparando-se para ser o futuro rei de Israel.

 

CRESCER, COM QUEM ENTÃO?

 

CÔNJUGE – com este nós aprendemos a ter intimidade e cumplicidade.

FILHOS – com eles aprendemos amar sem limites.

IGREJA – com nossos irmãos de fé aprendemos a dividir as mesmas crenças.

COLEGAS – aprendemos a cooperar para um fim maior.

Enfim, crescer significa ter CRENÇAS NOVAS, seguramente PENSAMENTOS DIFERENTES, e acima de tudo, RELAÇÕES MELHORES.

 

APELO – 2 Coríntios 12.9

 

Aceite que, para crescer, você não pode fazer tudo sozinho!

Assuma que para ter força espiritual, é preciso ter contato com sua fraqueza.

E que para entender-se é impossível fazê-lo sozinho. Precisamos da ajuda dos outros. De Deus e de nosso próximo.

Isto só é possível se nos abrimos, se nos revelamos aos outros. Nossas crenças mais profundas, e que nos atrapalham a vida estão fora do alcance de nossa visão. Precisamos que os outros nos revelem para que façamos as devidas mudanças.

Que a melhor maneira de conseguir isto é pedir a ajuda dos outros.

E que esta necessidade nunca é um sinal de fraqueza, mas nossa maior força.

 

PRECISO DE AJUDA AQUI

Joe Cabuk era o tipo de piloto que fazia os passageiros se sentirem em boas mãos. Coronel da Força Aérea, 67 anos, pilotara caças F-100 no Vietnã, comandara uma esquadrilha de caças na Inglaterra e fora vice-diretor de operações da Otan na Itália. Depois da reforma, em 1989, voltou para o Estado americano da Louisiana, onde nascera, e passou 20 anos pilotando voos fretados no Aeroporto Regional Monroe. De cabeça branca e postura ereta, era pai de dois filhos adultos, diácono da igreja batista e nunca corria riscos com seu avião.

Por volta de uma e meia da tarde do Domingo de Páscoa deste ano, Cabuk estava nos controles de um Beechcraft King Air 200, de seis lugares, informando os itens da lista de verificação depois de ter decolado de Naples, na Flórida: "Yaw damper, ligado. Potência de subida, ajustada. Hélices a 1.900 rpm." Em sua companhia, no assento do copiloto, estava o dono do avião, o empresário da construção civil Doug White. A mulher de White, Terri, e as duas filhas adolescentes aconchegavam-se sob cobertores na área dos passageiros, na esperança de ler e cochilar durante o voo de três horas para casa.

White, 56 anos, acalmou-se com o recitar cuidadoso de Cabuk. Fora uma semana difícil. No sábado anterior, o irmão do empresário, 53 anos, morador de Naples, tivera um infarto e morrera. White e a família, que moravam na cidadezinha rural de Archibald, na Louisiana, tinham ido à Flórida para o funeral. Agora, Cabuk levava os quatro de volta ao Oeste.

"Vamos ter um pouco de turbulência quando passarmos por essas nuvens", avisou Cabuk, e começou a ligação de rotina para os controladores de tráfego aéreo de Miami, usando o número N559DW, identificação do avião na FAA, órgão federal de controle da aviação comercial americana: "Centro de Miami, King Air CincoCinco-Nove-Delta-Whiskey..." De repente, a sua voz sumiu e a cabeça pendeu sobre o peito.

White deu um tapinha no ombro do piloto e o chamou pelo nome. Cabuk ergueu a cabeça e soltou um longo gemido. Depois, os olhos rolaram nas órbitas e ele ficou imóvel.

White virou-se e gritou para sua mulher:

- Terri, venha cá! Estou com um problema. Quando ela viu Cabuk caído na poltrona, agarrou-lhe o braço e tentou sacudi-lo.

- Não adianta - disse White, depois de alguns segundos, ao perceber a terrível verdade. - Ele está morto.

Na cabine, Maggie, 18 anos, caloura na Universidade do Estado da Louisiana, e a irmã Bailey, 16, que cursava o segundo ano do secundário, começaram a tremer. O avião estava 1.500 metros acima do solo, subindo numa velocidade de 600 metros por minuto. Ninguém a bordo sabia fazê-lo pousar com segurança.

Doug White tinha brevê de piloto, mas pouca experiência. Em 1990, fizera horas de voo suficientes para a prova num Cessna 172, monomotor minúsculo projetado para iniciantes. Só voara sozinho uma vez, depois abandonara o passatempo. White era assim: inquieto e curioso, disposto a aceitar desafios, e a buscar outro assim que vencia um. Dezoito anos mais tarde, comprara o King Air usado, como investimento, a fim de alugá-lo ao Aeroporto Monroe para voos fretados. Ser dono do avião fez com que voltasse a se interessar pela pilotagem, e cumpriu mais algumas horas de voo em pequenos Cessnas. Mas aqueles eram aviões bem básicos, com velocidade de cruzeiro de uns 100 nós (cerca de 185 km/h).

Em comparação, o King Air era complicadíssimo: bimotor turbo-hélice, três vezes mais veloz e cinco vezes mais pesado do que todos os aparelhos que White já pilotara, com o painel de instrumentos cheio de mostradores e соmandos desconhecidos. O único que ele sabia operar era o rádio; da última vez que estivera a bordo, perguntara ao piloto como funcionava.

Agora, o avião voava no piloto automático, sistema que White nunca usara. Estava regulado para 3 mil metros de altitude, mas, como Cabuk ainda não havia apertado todos os botões, o avião continuou subindo depois de ultrapassar esse limite. White sabia que, se o avião subisse muito além dos 10 mil metros, perderia a sustentação no ar e despencaria em parafuso.

Um temor mais urgente era que Cabuk caísse sobre os controles.

- Tire-o daqui! - gritou White para Terri.

Ela chamou Maggie, mas não havia espaço na cabine para que as duas se segurassem. Terri lutou para erguer sozinha o corpo de Cabuk, mas desistiu e apertou bem o cinto de segurança a fim de mantê-lo preso no lugar.

- Volte para lá e reze o quanto puder - disse-lhe White. Terri o beijou no rosto e falou:

- Você vai conseguir.

Em seguida, voltou à cabine e abraçou as meninas. Depois de consolar Maggie, que, cheia de medo, vomitara, fez o que o marido pedira. Sobrevivera a um câncer havia quatro anos. Senhor, pensou, se a minha hora de morrer chegou, tudo bem. Mas minha sogra já enterrou um filho esta semana. Por favor, não lhe dê mais razões para chorar.

White pegou o rádio.

- Miami - disse -, tenho uma emergência. O meu piloto está inconsciente. Preciso de ajuda aqui em cima!

Nate Henkels, de 30 anos, sentado diante de uma tela de radar que cobria uma faixa do espaço aéreo da Flórida, recebeu o chamado no Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Miami.

- O senhor é piloto? - perguntou ele, um dos 97 controladores de plantão naquele dia.

- Com pouca experiência e só em monomotores. Preciso falar com um piloto de King Air.

Henkels se assustou; embora houvesse passageiros que pousavam aviões quando o piloto ficava incapacitado, poucos aparelhos eram tão grandes e complexos quanto aquele. Depois de avisar os supervisores do problema de White, Henkels o instruiu a manter a altitude de 3.600 metros, mas, por ter pouca experiência, não sabia explicar a White o que fazer. Durante seis minutos, enquanto Henkels controlava a dezena de aviões naquele setor, o King Air continuou ganhando altitude.

- Preciso parar de subir - disse White. - Fique comigo.

- Estou aqui - respondeu Henkels, lutando contra o próprio medo. - Não se preocupe. Estou tentando encontrar uma solução.

Nisso, chegou um supervisor trazendo Lisa Grimm, que se ajoelhou ao lado de Henkels e ligou o fone de ouvido no painel do radar. Com 31 anos, ela já pilotara Learjets e trabalhara como instrutora de voo antes de se tornar controladora; embora só tivesse pilotado um King Air uma vez durante duas horas, conseguiu explicar a White como desligar o piloto automático.

Antes disso, o avião já chegara aos 5.300 metros de altitude.

"Agora vamos começar uma descida lenta e suave", disse Lisa, com voz calma. "Puxe devagar a manete para trás e solte o manche suavemente."

O "suavemente" é que foi difícil. Mesmo em condições normais, mudar manualmente a direção de um King Air exige mais força do que White estava acostumado. Mas, com os outros controles do avião ainda ajustados para subir, para mover o leme ele teve de usar toda a sua força. Lembrou-se do compensador, que ajusta o fluxo de ar para aliviar a pressão nos controles principais, no lado esquerdo do console central. Empurrando para o lado a perna de Cabuk, virou o disco, do tamanho de um pires, e conseguiu baixar o nariz do avião.

No centro de controle de Miami, Lisa continuava orientando White.

"Quero que o senhor desça para 3.300 metros", disse ela. Ele tentou manter a descida gradual, mas a velocidade e o ângulo variavam loucamente. Ao lado de Lisa, Henkels e a colega Jessica Anaya, 26 anos, trabalhavam freneticamente para afastar do caminho os outros aviões.

Quando o aparelho de White chegou à altitude de cruzeiro adequada, Lisa começou a pensar no pouso. Sabia que seria difícil e que ele não poderia pousar em Miami; a FAA exige que os aviões com problemas sejam guiados para o aeroporto mais próximo. O supervisor já entrara em contato com o Aeroporto Internacional do Sudoeste da Flórida, em Fort Myers.

"Daqui a um minuto o senhor vai falar com a torre de Fort Myers para a aproximação", informou Lisa. "Eles o ajudarão a pousar em segurança." Ela disse a White que virasse para a esquerda, por sobre o Golfo do México, para começar a manobra circular que 90 o colocaria na rota correta. Quando o horizonte sumiu num borrão azul, ele só conseguiu se orientar pelo horizonte artificial do mostrador do painel de instrumentos. Era difícil manter constante a altitude e, ao mesmo tempo, ficar de olho no mostrador, de modo que White regulou o piloto automático para 3.300 metros e voltou a ligá-lo, sem prever que isso faria o avião se inclinar para a direita. Rapidamente o desligou.

"O senhor está indo bem", disse Lisa, e em seguida lhe explicou como passar o rádio para a frequência de Fort Myers. White detestou interromper o contato com Lisa; a sua voz calma era como um salva-vidas. Ela prometeu ficar de prontidão, caso ele quisesse conversar com ela de novo.

Brian Norton estava indo embora do centro de controle de Fort Myers quando o chefe foi buscá-lo.

"Temos uma emergência", disse o supervisor.

Norton, 48 anos, era um dos dois controladores com experiência de pilotagem que trabalhavam naquela tarde, junto do recém-chegado Dan Favio, 29 anos, que estava em Fort Myers havia só dois meses. Nenhum deles pilotara um King Air 200, mas Favio sabia de alguém que conhecia o avião: o antigo colega Kari Sorenson, 43 anos, piloto de empresa que ele conhecera quando trabalhava no aeroporto de Danbury, em Connecticut.

Sorenson colecionava tragédias aéreas no seu histórico. Quando adolescente, perdera o pai, também piloto, num acidente aéreo; o padrasto, piloto de prova de jatos particulares, morreu em 1996, quando o voo 800 da TWA explodiu em Long Island. Sorenson, que, entre outras razões, era piloto em homenagem a seu pai, se dedicava a impedir novos desastres.

Quando Norton ligou o fone no painel do radar, Favio sentou-se ao seu lado e puxou o celular para ligar para Sorenson. O amigo disse que desde 1995 não pilotava um King Air, mas que ainda tinha o manual e o esquema da cabine. Com os dois na mão e o número de série do avião de White, sentou-se ao computador de casa para verificar qual era o modelo certo.

- Conseguimos ajuda de outro piloto que conhece o seu avião - disse Norton a White pelo rádio. - Está usando o piloto automático ou o controle manual?

- Eu e o bom Deus estamos controlando este avião manualmente - respondeu White, aliviado com a ajuda adicional. Na cabine atrás dele, Terri e as meninas ainda estavam juntas, de mãos dadas.

- Certo - disse Norton. - Vamos começar a levar o senhor para o aeroporto. - Ele instruiu White a fazer uma curva de 90 graus para a esquerda. White achou que não conseguiria, dada a velocidade da descida. Perguntou como ajustar os controles para ficar na velocidade adequada. A sugestão de Sorenson, que Favio passou a Norton e este a White, envolvia ajustar um aparelho chamado indicador de curso. Mas White não sabia usá-lo e não havia tempo para aprender. A velocidade oscilava entre 230 e 110 nós, deixando o avião em risco de estolar, ou seja, perder a sustentação.

Finalmente, Sorenson encontrou a solução: "Diga-lhe que pilote o King Air como se fosse um monomotor. Todo avião é um avião."

O conselho deu liberdade a White para confiar no instinto de piloto; enquanto isso, os três homens em terra limitaram as instruções aos comandos mais básicos do aparelho. Logo, White voava de forma mais regular.

Quando o King Air chegou aos 600 metros de altitude, White avistou uma faixa cinzenta a distância.

- Acho que estou vendo a pista bem à frente - disse. O avião estava a menos de 25 quilômetros do aeroporto, na posição para a aproximação final. Sorenson pediu a White que reduzisse a velocidade para 160 nós, e depois baixasse o trem de pouso e os flapes.

- Quando eu tocar o solo, é só reduzir a manete? - perguntou White.

- Isso mesmo - disse Norton. - Reduza a manete e freio no máximo.

O altímetro mostrou 550 metros, depois 300, depois 150. Um exército de ambulâncias e carros do corpo de bombeiros alinhava-se ao longo da pista. Terri e as garotas rezaram ainda mais.

- Daqui tudo parece bem - disse Norton a White. - A pista é toda sua.

Em Miami, um supervisor gritou para Lisa Grimm:

- Ele pousou!

- Como assim? - berrou ela. – O avião está inteiro ou pegou fogo?

Em Fort Myers, Favio saiu correndo do prédio para ver o que acontecera. O King Air estava parado na pista, depois de um pouso perfeito. Na torre e no centro de controle de Miami, os gritos de alegria e os tapinhas nas costas já haviam começado.

Depois de receber do controlador em terra instruções para desligar o motor, White e a família saíram do avião. Paramédicos tiraram Joe Cabuk da cabine e tentaram em vão revivê-lo. Mais tarde, a autópsia confirmou que ele morrera de infarto.

Em casa, na Louisiana, White mandou vales-presentes para Lisa, Norton, Favio e Sorenson. Por sua vez, eles lhe deram quase todo o crédito por fazer o King Air descer do céu são e salvo.

"Para nós, é uma sensação de dever cumprido", diz Sorenson. "Mas, na verdade, foi Doug quem fez tudo. Só lhe demos as ferramentas para realizar o serviço." Depois do incidente, durante um mês, White acordou, por volta das três da manhã, com sonhos nítidos: estava mais uma vez no controle de um avião que não sabia pilotar. Logo voltou às aulas de voo, decidido a se preparar para qualquer emergência. Além da ajuda que recebeu naquele domingo, ele acredita que havia um poder maior envolvido na salvação de sua família.

- Deus nos poupou para alguma outra coisa - diz ele.

- Só espero que tenhamos juízo suficiente para reconhecer o motivo, quando ele aparecer - acrescenta Terri.

 

 

Marcelo Augusto de Carvalho 6 de julho de 2025 Artur Nogueira SP


 

26

OUVINDO O QUE ME ASSUSTA

Marcelo Augusto de Carvalho

 

TOPO

 

1 SAMUEL 28.5-7 - Saul

 

AS CRENÇAS DE SAUL

 

Filho de um fazendeiro, da menor tribo de Israel, Benjamim.

Era alto, bonito de aparência, porte principesco, chamava a atenção de todos.

Quando Israel pediu um rei, Deus o escolheu porque suas características eram o que o povo tanto queria: “Um rei que vá adiante de nós frente às nações!”

Assim que foi ungido, o Espírito de Deus tomou conta dele. Qual foi o resultado? Procurou a Escola dos Profetas, e lá passou a conhecer e a ser conhecido pelos outros.

Mas, assim que sentiu o PODER em suas mãos, a LITURGIA da corte, as conquistas militares e a POLÍTICA com os fazendeiros de sua nação e com as nações vizinhas, FECHOU-SE completamente ao crescimento pessoal.

Saul passou à RECLUSÃO.

Não quis ouvir seus conselheiros mais próximos.

Não quis ouvir o profeta de Deus e suas repreensões, Samuel.

Não quis ouvir seu bravo comandante, Abner.

Não quis ouvir seu sábio filho, Jônatas.

Não quis ouvir seu mais bravo soldado, Davi.

Não quis ouvir o sumo sacerdote, Abiatar.

Ele passou a não ouvir mais ninguém porque sabia que havia muitas coisas para melhorar, não no reino, não nos outros, mas NELE mesmo. E isto ele não estava nenhum pouco disposto a assumir. Era orgulhoso demais!

No fundo Saul tinha MEDO de examinar o que existia dentro dele. Sua dor era ter que deixar as velhas CRENÇAS que por tanto tempo ele havia construído e acalentado em seu inconsciente. Pior era pagar o preço pelo crescimento, deixando para trás aquilo que ilusoriamente lhe trazia tanta segurança e conforto.

Claro que ele sabia que eram falsas estas certezas, mas tinha medo do NOVO.

O RESULTADO foi que Saul nunca cresceu, nunca venceu-se, nunca foi benção à sua família e a seu povo, pois nunca esteve disposto a ouvir sobre ele.

 

QUEM NÃO RESOLVE SEU INTERIOR, ESTÁ CONDENADO A REPETÍ-LO

 

Por não querer ouvir SAMUEL em suas repreensões, Saul foi errando cada vez mais, perdendo o respeito político e religioso que o povo tinha por ele.

Por não ouvir os sábios conselhos de seu filho JÔNATAS, Saul foi tomando decisões políticas tão absurdas que mais parecia um louco à solta do que um rei no pleno direito de governar.

Por não ouvir a advert6encia do sumo sacerdote ABIATAR, Saul, enfurecido, desviou a ira de Davi e matou todos os sacerdotes que serviam a Deus em Gilgal.

Por não ouvir NINGUÉM, Deus parou de falar com ele. Sua solidão foi tão absurda, que um dia a única pessoa que aceitou falar com ele foi o próprio DIABO, que por suas palavras o incitou à ruína, ao suicídio e à perdição eterna.

 

PESSOAS IGUAIS A SAUL

 

JOANA foi criada para ESCONDER tudo o que vê, e principalmente, tudo o que SENTE. Ela mantém em absoluto segredo o caos que é sua casa, sua família, sua vida. A mãe é alcóolatra e o pai um viciado em apostas. Há miséria financeira e emocional. O passado foi horrível, o presente solitário, o futuro ansiógeno.

O que a domina é o MEDO! Medo de que seus segredos mais íntimos sejam descobertos, ela seja desmascarada e passe por uma vergonha irremediável.

O problema é que, por não RESOLVER seu passado, ela o repete.

Igual a Saul, Joana, na vida adulta, longe dos pais, passou a se envolver com pessoas destrutivas, iguaizinhas à mãe e ao pai, repetindo-lhe o sofrimento da infância.

 

JUDAS rejeitou terminantemente as mensagens claras que Jesus lhe disse a seu respeito. No banquete, na casa de Simão, ficou tão furioso pela repreensão de Cristo que saiu para entregá-lo aos sacerdotes. Traiu o Redentor do mundo, e quando teve plena consciência do que fizera, e muito mais de quem ele era, suicidou-se para tentar apagar sua vergonha e remorso, mas em vão

ACABE vivia projetando sobre Elias a culpa por Israel sofrer tanto diante da seca interminável. É que ele não queria aceitar que ele era o perturbador de Israel. Acabou trazendo cada vez mais juízos divinos sobre seu povo, morrendo à mingua em sua carruagem e perdido para sempre.

 

O QUE PRECISAMOS APRENDER?

 

Podemos achar que estamos crescendo na vida: na carreira, nas posições de destaque, ou mesmo na condução de nossa família, para um dia percebermos que tudo não passa de um engano.

Que fique claro: o crescimento só acontece de fato quando, em meio a tudo e a todos, nos tornamos conscientes de nós mesmos.

Compreender as coisas nunca é o bastante. Precisamos nos relacionar com Deus e com o próximo. Isto nos levará ao conhecimento de nós mesmos, a mudarmos verdadeiramente, e a crescermos plenamente.

Portanto, conhecer ideias, entender processos, prospectar negócios é menos importante do que gastarmos tempo com Deus, com as pessoas e conosco a sós.

O Evangelho nos ensina que só podemos entender, compreender e aceitar Sua mensagem se houver um encontro pessoal com Ele, e continuarmos dispostos a ouví-Lo diariamente.

Nosso crescimento é fruto de nos sentirmos AMADOS, por Deus, pelo próximo e por nós mesmos.

 

APELO – "Quem tem ouvidos, ouça." Mateus 11:15

 

Todo mundo é capaz de mudar. De crescer. De ser muito melhor do que já é.

Para isto precisamos aceitar o que DEUS tem a falar de nós para nós, diretamente, por meio de Sua palavra, por meio das pessoas que encontramos, e por meio das evidências do dia a dia.

Ao nos encontrarmos, estaremos dispostos a lidar com o que encontramos?

 

ALCOOLISMO: HORROR E SALVACÃO - LINDA J.,

De repente, como se alguém tivesse dado uma alfinetada em meu cérebro, meus olhos se abriram, e pude ver e pensar. Estava numa cama, num quarto estranho. Meus filhos estavam comigo- ambos dormindo em camas próximas. Levantei-me, fui à janela, e puxei as cortinas. A forte luz do sol me feriu os olhos. Foi então que vi meu carro. Estava coberto de lama e com o lado direito inteiramente amassado.

Eu estava num hotel à beira da estrada, e não tinha a menor ideia de há quanto tempo me encontrava fora de casa e de como tinha quase chegado a matar meus gêmeos de oito anos, dirigindo embriagada.

Deixe-me escrever a verdade, como eu a digo para mim mesma todos os dias: eu sou uma alcoólatra. Sou também, agora, uma alcoólatra recuреrada. Mas, até que pudesse acrescentar essa palavrinha crucial, vivi 13 anos no inferno. Esta é a história desses anos de pesadelo e de como eles chegaram ao fim - para sempre, espero.

Mas, nunca se pode ter certeza. Toda manhã, digo em minhas preces que não cairei outra vez nas trevas. E termino cada dia com outra prece, de agradecimento, por não ter sucumbido. Assim é, e assim será pelo resto de minha vida. Tenho 38 anos.

O pior período de minha vida como alcoólatra começou naquele dia (10 de outubro de 1963) quando acordei num hotel, a 400 quilômetros de casa. O que terá acontecido antes ainda é um borrão em minha mente. Devo ter viajado tão longe para levar as crianças a um show de Elvis Presley, possivelmente para me reabilitar aos olhos deles, pela maneira como os vinha tratando. Os bilhetes para o espetáculo, que encontrei em minha bolsa, confirmaram isto.

Naquela época, meu marido também estava fora de casa, em seu trabalho como caixeiro-viajante. Sabia que eu bebia, mas nunca pensara a que ponto tinham chegado as coisas. (Os alcoólatras são incrivelmente espertos quando se trata de ocultar seu vício.) Eu estava então consumindo mais de meio litro de bebida por dia. Já tinha sofrido vários lapsos de memória, ou alheamentos, comuns aos bêbados, mas eles tinham durado apenas poucas horas. Porém aquele, como descobri depois, quando comprei um jornal e li a data, me tinha roubado dois dias de vida.

Examinei novamente o horrível amassado no carro, e tive um arrepio. Mas, de alguma forma, consegui vestir Carla e Carlo, e voltar para casa - auxiliada por grandes goles de uma garrafa. Quando cheguei, finalmente, fui para a cama, e só acordei na manhã seguinte. As crianças tinham se levantado sozinhas e ido para a escola.

Dois dias depois, eu estava no consultório de um psiquiatra. Já o consultara duas vezes antes, para que me ajudasse a parar de beber, mas sem sucesso. Agora, chorando, eu prometia ardentemente ao médico -е a mim mesma - que, desta vez, poderia, e iria realmente parar.

Como primeiro passo, sabia que teria de ser drenada de tudo que já havia bebido. Tendo tentado aquilo antes, e fracassado, sabia também que a experiência seria terrível. O médico me obrigou a dar entrada num hospital do Estado, enfatizando que minha alta teria de ser condicionada a supervisão médica*. “Posso fazer o tratamento em casa”, sugeri, tibiamente. O que eu estava fazendo, naturalmente (e ele sabia disso), era, não apenas enganando a mim mesma (os alcoólatras são brilhantes nisto), mas também caindo em outra arapuca clássica do gênero: a de que nós sempre somos mais espertos do que os que nos tentam ajudar.

Pedi a minha irmã Betty que ficasse comigo. Ela já estava em minha casa quando lá cheguei, e lhe fui grata. A primeira fase (os tremores) já tinha começado. Minhas mãos tremiam tanto que precisei de ajuda para me despir. Fui para a cama, е logo todo o meu corpo estava se agitando.

Uma hora depois, sentia-me como se estivesse formigando, como se caranguejos estivessem cravando suas garras em cada músculo do meu corpo - além de longas e terríveis fisgadas. Durante toda aquela noite e o dia seguinte, senti náuseas, e os tremores e formigamentos continuaram.

Na segunda noite, tive uma convulsão. Embora durasse menos de um minuto, Betty, apavorada, contou-me depois que ela tinha sido horrível. O pior é que Carla e Carlo, acordados pelo barulho, abriram a porta do meu quarto e viram tudo.

Finalmente dormi, mas quando acordei no dia seguinte, sentindo dores em todos os ossos e formigamento em cada nervo, sabia que não aguentaria muito tempo. “Estou precisando é disto”, gritei, correndo para o banheiro, onde tinha escondido uma garrafa, na gaveta de roupa suja. Entornei meio copo, e bebi-o de um gole.

Alguns dias depois, contei ao psiquiatra o que se tinha passado е, em lágrimas, prometi-lhe tentar outra vez. Durante três outras consultas com ele (nas quais eu estava, invariavelmente, bêbada), fiz a mesma e cansativa promessa. Foi na última consulta que ele me olhou bem nos olhos: “Nada do que está me dizendo é verdade”, disse. “Você nunca se ajudará. Para que desperdiçar o seu dinheiro e o meu tempo? Você morrerá alcoólatra. Sugiro-lhe que conte tudo ao seu marido, e comece a preparar os seus filhos.”

Como começou tudo isto? Como tinha eu chegado a tal ponto?

Embora tivesse investigado muito, não sabia responder a essas perguntas. Mas sei que dois dos fatores que estiveram presentes em minha infância são quase sempre decisivos na vida dos alcoólatras. Em primeiro lugar, meu pai, que eu adorava, sempre fora um terrível bebedor desde que eu me lembrava, e se tornou depois um. alcoólatra. (Um médico afirma que 80% dos alcoólatras têm um parente, em linha sanguínea direta, com o mesmo problema.) Em segundo lugar, minha mãe (uma mulher trabalhadora, rígida e de pouca conversa), que raramente me dispensava um pouco de afeição. Fizesse eu o que fizesse, em casa ou na escola, nada lhe parecia bastante. Não me repreendia; apenas me dava um olhar irritado e severo, que eu temia e detestava. Cada vez mais, passei a sentir que não valia grande coisa.

Quando tinha 13 anos, tomei minha primeira bebida. Uma amiga e eu roubamos uma garrafa de vinho da despensa, e a levamos para o porão, onde a bebericávamos em segredo. Senti, pela primeira vez, aquela sensação maravilhosa de alívio e relaxamento, que, mais tarde; faria de mim uma alcoólatra. Durante o ginásio, beber com os namorados passou a ser rotina. Não achava nada errado naquilo, pois quase todos os meus conhecidos faziam a mesma coisa.

Quando terminei o curso secundário, tornei-me enfermeira prática licenciada. Um ano depois, casei-me com Brian. Os gêmeos chegaram em 1955 e, em seguida, voltei ao trabalho no hospital, ganhando o suficiente para manter uma empregada em casa.

Embora nem Brian nem eu pensássemos a meu respeito como uma bêbada “problemática”, eu estava me tornando uma, rapidamente. À medida que os meses passavam, ia precisando de quantidades cada vez maiores de bebida, para me sentir eufórica e bem-disposta. Comecei a beber durante o dia - sozinha. Até que, certo dia, apaguei, justamente pouco antes da festa de aniversário dos gêmeos, que teve de ser cancelada. Fui parada na rua, três vezes em um mês, pelos guardas de trânsito. Como deixei de ser presa por dirigir embriagada, até hoje não sei.

Toda manhã, eu acordava com uma terrível dor de cabeça, necessitando de um drinque para me levantar da cama. Uma amiga íntima viu o que estava acontecendo, e tentou fazer-me parar; mas tomei sua preocupação por uma intromissão, e fiquei furiosa. Como não podia deixar de ser, perdi meu emprego no hospital, e, inevitavelmente, Brian descobriu.

É desnecessário narrar aqui as noites que perdemos em discussões - ele me implorando que parasse, eu lhe prometendo que o faria. Quebrava a promessa. Ele ficava irritado e me ameaçava. Eu chorava - mas continuava a beber.

A esta altura, também as crianças sabiam o que se estava passando. Certa ocasião, ofereci-me para ajudá-las a pintar o cenário para uma peça, no teatrinho da escola. Botei um avental com bolsos grandes e fundos, perfeito para guardar as ferramentas - e as garrafinhas em miniatura. Numa tarde, escondi-me atrás de uma cortina, para um rápido gole. Quando me voltei, vi imediatamente o rosto de Carla, me espreitando. Havia lágrimas em seus olhos.

Fui para casa e enxuguei uma garrafa inteira. Foi nessa noite que decidi levar as crianças ao show de Elvis Presley.

Depois de meu último encontro com o psiquiatra, passei a acreditar inteiramente em sua firme convicção de que eu teria a morte de uma alcoólatra. Estava cansada de tudo-de ficar doente, de ter que inventar truques para beber, das humilhações, dos aborrecimentos, das brigas. Mas, parar de beber? Nunca.

Passei então a cumprir a última prescrição do médico. Fiz um testamento, doando meu corpo a uma universidade, e escrevi uma carta para Brian, falando-lhe de um lugar onde ele poderia internar as crianças. Então, imaginei um plano para me matar, injetando ar numa veia. A bolha de ar circularia até o coração, e poria fim à minha vida - sem deixar marcas de suicídio que pudessem atormentar os meus filhos.

Nunca me esquecerei daquele dia - 20 de março de 1964, uma 6.ª feira. Levei os gêmeos para a casa de Betty, e disse que ia para o campo, durante alguns dias. Então, voltei para casa...

Nove dias depois, abri os olhos num hospital. O ar que eu injetara havia errado a veia, e as anfetaminas que eu tomara para acabar com tudo não tiveram tempo de agir, porque, por acaso, uma vizinha aparecera logo que eu acabara de tomá-las.

Queria sair do hospital imediatamente, e voltar ao meu inferno particular, mas os médicos insistiram em que eu precisava de, pelo menos, um mês para me recuperar. Fisicamente, eu estava “um lixo”, e bem o mostrava - anêmica, subnutrida e com um problema no fígado. Pesava apenas 42 quilos, o que é ser bem magra, para quem mede 1,70 m. Mas, mesmo assim, recusava a deixar que me ajudassem. John Barrow, um pastor da Igreja Episcopal, que trabalhava com alcoólatras hospitalizados, tentou conversar comigo, mas eu não queria conversa. “Se houvesse um Deus, e ele fosse justo, eu não estaria aqui”, disse-lhe. “Não preciso do seu Deus. Ele destruiu minha vida.”

Certa noite, duas semanas depois que tinha me internado, apossei-me de um casaco que uma visitante havia esquecido, joguei-o sobre minha camisola, e fugi do hospital. Estava frio e úmido, mas caminhei durante horas, odiando a ideia de voltar para casa e não ter outro lugar para ir. Pouco depois, quando já estava quase morrendo de cansaço, e perdida na zona pobre da cidade, uma mulher se aproximou de mim, e perguntou se eu precisava de ajuda. Tomou-me pelo braço, e me levou para uma casa. Ela também era alcoólatra (estamos sempre encontrando “colegas”), e vivi com ela durante dois meses, partilhando seu apartamento infestado de baratas, sua comida e sua bebida.

Até que, numa manhã de julho, eu mesma me dirigi para o hospital, sem razão aparente, e pedi para ver John Barrow, o pastor. “Não consegui morrer, infelizmente”, disse-lhe. “Pode me ensinar a viver?” Minha luta começava.

Desta vez, a desintoxicação foi clinicamente supervisionada. Em doses certas, os sedativos, tranquilizantes e antiespasmódicos que os médicos me davam tornaram o processo menos penoso. Enquanto minhas forças voltavam, passei a tomar parte em outros aspectos do programa de reabilitação da unidade alcoólica: recreação e exercício, uma dieta especial para me refazer e discussões em grupo com elementos treinados nesse tipo de reabilitação.

Mas, entretanto, as conversas particulares que tive com o pastor John Barrow foram as que mais me ajudaram. Foi ele quem me entendeu e me fez aceitar a verdade sobre mim mesma. “Muitos alcoólatras insistem em negar seu alcoolismo”, disse. “Tudo que lhes acontece - desapontamentos, frustrações, fracassos - é sempre culpa de outra pessoa. Naturalmente, isso é tolice. Nossos problemas estão dentro de nós mesmos. A menos que admitamos que estamos doentes e que temos de ser tratados, fatalmente morreremos.”

E Barrow continuou: “Aprendi isso sozinho, há algum tempo, e minha vida mudou. Eu era comandante. de navio, antes de ser pastor, e vim do mesmo inferno de onde você veio. Quero dizer, eu também sou um alcoólatra recuperado.”

Assim que fui capaz de admitir minha fraqueza contra o álcool, estava pronta para os Alcoólatras Anônimos. Juntei-me a eles e, como muitos outros, ganhei força observando-os trabalhar - com compreensão e apoio, sem fazer julgamentos ou passar sermões.

Tem havido períodos sombrios, naturalmente, mas oito anos já se passaram, e eu permaneço sóbria. Agora, minha vida está centrada em minha família e em meu trabalho - tenho um emprego de meio-expediente na mesma unidade de recuperação de alcoólicos na qual fui tratada. Ajudar os outros fortalece a minha vontade.

Brian levou algum tempo para compreender que as causas de minha embriaguez eram mais profundas do que o mero abuso, mas, assim que reconheceu que eu era uma doente, ficou francamente do meu lado. E os gêmeos, graças a Deus, têm sido maravilhosos, desde que Brian e eu lhes explicamos minha doença. Longe de se envergonharem de mim, orgulham-se de minha capacidade para lutar e vencer.

Mas continuo preocupada por eles - gostaria de saber até que ponto aqueles terríveis primeiros anos os terão afetado e lhes transmitido uma possível “herança” de alcoolismo. Por isso, continuo a rezar por eles - e por mim - todas as noites.

 

 

Marcelo Augusto de Carvalho 7 de julho de 2025 Artur Nogueira SP


 

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QUANDO NÃO DÁ PRA VOLTAR PARA CASA

Marcelo Augusto de Carvalho

 

TOPO

 

RUTE 1.15-18 - Rute.

 

A VIDA SEMPRE APONTA O CAMINHO DO CRESCIMENTO

 

Rute nasceu em Moabe.

De cultura e religião idólatra, ela aprendeu da pior maneira como viver em busca do prazer, da satisfação de seus desejos sem se importar com nada nem com ninguém, sem se preocupar com o passado ou com o futuro. Tudo é um eterno agora, e é sempre você quem determina o que é bom ou ruim. Vá então se divertir.

Mas na juventude, apareceu uma família diferente na cidade. Judeus vindos de Canaã, fugindo da seca em seu país.

Malom e Quiliom

Rute passou a conviver naquela família tão diferente: trabalhavam arduamente toda a semana, mas paravam tudo no sexto dia para prepararem-se para o Shabat (o descanso), e nada faziam no sétimo dia, apenas descansavam e adoravam o Deus Criador.

Também tinham uma rígida disciplina de higiene, pureza moral e estudo sistemático do pentateuco, os 5 livros de Moisés, de onde tiravam suas convicções religiosas, sua visão histórica do mundo, bem como a esperança de que um dia o Salvador do mundo viria para morrer, libertando cada ser humano do pecado.

Mas o que mais a admirava era o jeito que eles se tratavam, com muito amor e gentileza, principalmente sua sogra, NOEMI.

Ela aprendeu uma nova vida, e decidiu crescer nessa direção.

 

NO CAMINHO DO CRESCIMENTO SEMPRE APARECEM MOTIVOS PARA DESISTIR DE CRESCER

 

Apesar de tanta fidelidade a Deus, e tanto desejo de crescer, muitas coisas colaboraram para que Rute desistisse de continuar tentando.

Primeiro, nem ela nem a cunhada engravidavam.

Depois um duro golpe foi a morte do sogro, a referência da família.

Por fim, Malom e Quiliom morreram, ficando as três mulheres viúvas, desterradas e sem qualquer parente que garantisse seus direitos econômicos.

Tudo conspirava para que Rute desistisse.

 

CRESCER É UMA DECISÃO PESSOAL, E NÃO UMA CONSPIRAÇÃO CÓSMICA DE AJUDA HUMANITÁRIA MUNDIAL.

 

Sua sogra, em amargura de espírito, percebeu que não poderia continuar crescendo, nem se mantendo em Moabe, por isto decidiu voltar à Israel.

Então aconselhou suas noras a voltarem para suas famílias.

Órfa decidiu voltar ao conhecido, à segurança dos velhos hábitos, ao retorno da velha vida, ao amor dos parentes e amigos.

Mas Rute percebeu que ela não queria aquilo. Decidiu continuar crescendo.

Sabia que se voltasse a seus pais, sua família, sua cultura, seu país, tudo o que havia aprendido seria perdido. E eles jamais a aceitariam vivendo a nova vida que escolhera.

Por isto decidiu firmemente seguir sua SOGRA aonde fosse, para continuar crescendo em sua relação com Deus, com aqueles que tinham as mesmas aspirações que ela, e quem sabe ainda fosse um instrumento de bençãos aos outros nas mãos do Criador.

 

APELO - Mateus 13:57

 

Depois que as pessoas se envolvem em um relacionamento de amor e salvação com Deus, e com seu próximo, elas nunca mais são as mesmas, e jamais irão olhar a vida da mesma maneira. Buscam continuamente seu crescimento!

Mas crescer pode ser RADICAL para nossos relacionamentos. Nem sempre nossos amigos e familiares ficam felizes com nosso crescimento pessoal.

Se isto acontece, temos de SEGUIR em frente, rumo aquilo que o Senhor nos propõe. Então, SIGA!

 

SOU NUJOOD DEZ ANOS E DIVORCIADA

Minha cabeça gira; nunca vi tanta gente assim. No pátio fora do tribunal, uma multidão se agita em todas as direções: homens de terno e gravata com pastas amareladas debaixo do braço; outros homens de zanna, túnica até os tornozelos tradicional no Norte do lêmen; e todas essas mulheres gritando e chorando tão alto que não consigo entender nada. É como se eu fosse invisível. Ninguém me vê: sou pequena demais para eles. Só tenho 10 anos, talvez nem isso. Quem sabe?

Todos dizem que os juízes ajudam quem precisa. Por isso tenho de achar um deles e lhe contar minha história. Sinto-me exausta. Está quente debaixo do véu, minha cabeça dói e sinto muita vergonha.

Noto que um homem de camisa branca e terno preto vem na minha direção. Um juiz, talvez ou advogado?

- Com licença, senhor, quero ver o juiz.

- Por ali, subindo a escada - responde ele, que mal me olha antes de sumir na multidão. Meus pés parecem feitos de chumbo quando finalmente piso no chão de mármore.

Espio um grupo de homens fardados. Se me virem, podem me prender. Uma menininha que fugiu de casa. Trêmula, agarro discretamente o primeiro véu que passa, na esperança de chamar a atenção da mulher que ele encobre.

- Quero falar com o juiz.

Dois grandes olhos emoldurados de preto me fitam surpresos.

- Que juiz você procura?

- Leve-me a um juiz... não importa qual!

Ela me olha espantada.

- Venha comigo - diz a mulher, finalmente.

A porta se abre e revela uma sala cheia de gente; na outra ponta, atrás de uma mesa, um homem de bigode e rosto magro. Finalmente, o juiz. Sento-me, descanso a cabeça no encosto da cadeira e espero minha vez.

- E o que posso fazer por você? – uma voz masculina me desperta do cochilo. É uma voz estranhamente gentil. Esfrego os olhos e reconheço, em pé na minha frente, o juiz de bigode. A sala está quase vazia.

- Quero o divórcio!

Khardji

Em Khardji, aldeia onde nasci no Iêmen, as mulheres não aprendem a escolher. Quando tinha uns 16 anos, Shoya, minha mãe, se casou com meu pai, Ali Mohammad al-Ahdel, sem protestar. E, quatro anos depois, quando ele decidiu escolher uma segunda esposa, minha mãe, obediente, aceitou a decisão. Foi com essa mesma resignação que, a princípio, concordei com meu casamento, sem perceber o que estava em jogo. Na minha idade, ninguém faz muitas perguntas.

Оmma - mamãe - me teve do jeito que teve todos os 16 filhos: em casa. Cresci vendo omma cuidando da саsa, ansiosa pelo dia em que eu tivesse idade suficiente para ir com minhas duas irmãs mais velhas buscar água na fonte. Eu tinha 2 ou 3 anos quando houve uma briga violenta entre meu pai e os outros aldeões. Eu só sabia que Mona, a segunda filha e com no máximo 13 anos, se casara de repente. Tivemos de partir de imediato.

Nossa chegada a Sana'a foi um choque. A capital era uma confusão de poeira e barulho. Fomos morar numa favela no bairro Al-Qa. Meu pai finalmente conseguiu emprego de varredor no órgão de limpeza pública. Dois meses depois da partida, Mona chegou com o marido que se impusera à vida dela tão de repente.

Na escola do bairro, fui muito bem no primeiro ano e mal começara o segundo. Numa noite de fevereiro de 2008, aba - papai - me disse que tinha boas-novas: "Nujood, você vai se casar."

A notícia veio do nada. Não entendi direito. A princípio, me senti quase aliviada, porque a vida em casa se tornara impossível. Depois de perder o emprego de varredor de rua, aba não conseguira mais trabalho fixo, e o aluguel vivia atrasado. Meus irmãos se juntaram aos vendedores de rua que, nos sinais de trânsito, batiam nas janelas dos carros parados na esperança de vender uma caixa de lenços de papel por alguns tostões. Depois, foi minha vez e da minha irmã Haifa de tentar aquilo. Não gostei.

Agora com mais frequência, aba passava as tardes mascando khat com os vizinhos. Afirmava que aquilo o ajudava a esquecer os problemas. Foi durante uma dessas sessões de khat que um homem de uns 30 anos o procurou: "Gostaria de unir as nossas famílias", disse ele, que se chamava Faez Ali Thamer e trabalhava como entregador.

Ele viera de Khardji como nós e procurava uma esposa. Meu pai aceitou a proposta. Como a próxima da fila depois das duas irmãs mais velhas, a lógica era que eu me casasse.

Naquela noite, ouvi uma conversa entre Mona e nosso pai.

- Nujood é nova demais para se casar - insistia Mona.

- É a melhor maneira de protegê-la. Não será estuprada por um estranho nem vítima de boatos maldosos. Esse homem parece honesto. Prometeu não tocar em Nujood até ela ficar mais velha. Além disso, não temos dinheiro suficiente para alimentar a família inteira.

Minha mãe não disse nada. Parecia triste, mas resignada. Em nosso país, é o homem quem dá as ordens.

Meu casamento

Os preparativos para o casamento foram rápidos, e logo percebi meu infortúnio quando a família do meu futuro marido decidiu que eu teria de abandonar os estudos. Eu adorava a escola. Era meu refúgio, uma felicidade só minha.

No dia do meu casamento, minhas primas começaram a gritar e a bater palmas ao me verem chegando. Mas eu mal conseguia ver o rosto delas, pois tinha os olhos cheios de lágrimas. Avancei lentamente para não tropeçar na roupa, que era grande demais para mim. Tinham me vestido às pressas com uma túnica comprida de um tom chocolate desbotado que pertencia à mulher do meu futuro cunhado. Uma parenta prendera meu cabelo num coque que me pesava na cabeça.

Mal tinham se passado duas semanas desde que eu fora pedida em casamento. As mulheres comemoraram na minúscula casa dos meus pais; éramos 40. Enquanto isso, os homens se reuniram na casa de um dos meus tios. Quando haviam assinado o contrato de casamento, dois dias antes, o evento também fora só para homens. Combinaram meu dote em 150 mil riais (cerca de 540 euros).

Ao pôr do sol, os convidados foram embora e eu adormeci, totalmente vestida. Na manhã seguinte, omma me acordou. Minha trouxinha estava diante da porta. Quando um carro buzinou, minha mãe ajudou a me cobrir com uma capa e um véu pretos e me avisou: "A partir de hoje, você tem de se cobrir quando sair à rua. Agora é uma mulher casada. É a honra dele que está em jogo."

Concordei com tristeza.

No banco traseiro da picape que aguardava diante da porta, um homem baixo me fitava. Vestia uma zanna branca comprida e tinha bigode. O cabelo crespo e curto estava cheio de gomalina e o rosto, mal barbeado. Não era bonito. Então aquele era Faez Ali Thamer!

Quando o motor rugiu e o motorista deu a partida, comecei a chorar em silêncio, com o rosto na janela, enquanto via omma ficar cada vez menor.

Uma mulher nos esperava no patamar de uma das casas de pedra de Khardji. Senti na mesma hora que ela não gostara de mim. Minha sogra era velha, com a pele enrugada como a de um lagarto. Mandou que eu entrasse. O interior da casa quase não tinha mobília; eram quatro quartos, uma sala e uma cozinha minúscula.

Devorei o arroz com carne que as irmãs dele tinham preparado. Depois da refeição, alguns adultos da aldeia se reuniram para mascar khat. Ninguém parecia se surpreender com minha pouca idade. Mais tarde, soube que o casamento com meninas pequenas não é raro no interior. Há até um provérbio tribal que diz: "Para garantir um casamento feliz, escolha uma menina de 9 anos."

Como me senti aliviada quando me levaram para meu quarto! Havia uma esteira comprida no chão: minha cama. Nem precisei apagar a luz para adormecer.

Preferiria nunca mais ter despertado. Quando a porta se escancarou de repente, acordei assustada. Mal abrira os olhos quando senti um corpo peludo e úmido se apertando contra mim. Alguém apagara a lâmpada, deixando o quarto totalmente escuro. Era ele! Reconheci-o pelo cheiro forte de cigarro e khat. Começou a se esfregar em mim.

- Por favor, deixe-me em paz - implorei quase sem ar.

- Você é minha mulher!

Fiquei de pé num pulo. A porta não estava completamente fechada e, ao espiar um brilho de luz, saí correndo para o pátio.

Ele correu atrás de mim.

- Socorro! Socorro! - eu gritava, chorando. Minha voz soou na noite, mas era como se eu estivesse gritando no vácuo. Corri, ofegando para respirar. Tropecei em alguma coisa, caí e me levantei para continuar fugindo, mas ele me pegou, me segurou com força, me arrastou de volta para o quarto e por fim me jogou na esteira.

Fiquei paralisada, como se tivessem me amarrado.

Na esperança de encontrar uma aliada, gritei por minha sogra.

- Amma! Tia!

Não houve resposta. Quando ele tirou a túnica, me enrolei como um caracol para me proteger, mas ele começou a puxar minha camisola.

Tentei fugir de novo, gemendo:

- Vou contar para o meu pai!

- Pode contar para o seu pai o que quiser. Ele assinou o contrato de casamento.

- Você não tem esse direito!

Ele começou a gargalhar.

- Você é minha mulher. Agora tem de fazer tudo o que eu quiser!

De repente, foi como se eu tivesse sido levada por um furacão, jogada longe, atingida por um raio, e não tive mais forças para lutar. Alguma coisa ardente invadiu minha parte mais íntima. Por mais que eu gritasse, ninguém veio me ajudar. Doeu demais. Gritei mais uma vez, acho e desmaiei.

A fuga

Tive de me ajustar depressa à nova vida. Não tinha o direito de sair da casa, de me queixar, de dizer não. Durante o dia, tinha de obedecer às ordens da minha sogra: "Corte os legumes!", "Limpe o chão!", "Lave a louça!". Se parasse um instante, ela puxava meu cabelo.

Certa manhã, eu lhe pedi permissão para brincar com as crianças da minha idade. "Impossível! Era só o que faltava, você sair e arruinar nossa reputação."

Ele saía toda manhã e voltava pouco antes do pôr do sol. Toda vez que o ouvia chegar, o mesmo pânico me enchia o coração. Quando a noite caía, sabia que aquilo começaria de novo. A mesma selvageria, a mesma dor, a mesma angústia. No terceiro dia, ele começou a me bater, primeiro com as mãos, depois com um bastão. E a mãe o estimulava.

Sempre que ele se queixava de mim, ela lhe dizia: "Bata nela com mais força ainda. Ela tem de lhe dar ouvidos; é sua mulher."

Eu vivia com um medo permanente. Sempre que podia, me escondia num canto, perdida e desnorteada. Dias e noites se passaram assim. Sentia saudades de Sana'a e da escola, dos meus irmãos e irmãs. Pensava em Haïfa, torcendo para que ela não se casasse como eu.

Certa manhã, incomodado com meu choro incessante, ele disse que me deixaria visitar meus pais. Finalmente! Ele iria comigo e ficaria com o irmão dele em Sana'a, mas depois, insistiu, teríamos de voltar para a aldeia. Corri para juntar minhas coisas.

- Está fora de questão você abandonar seu marido! - Eu não esperara essa reação do meu pai, que logo pôs fim à alegria da minha volta. Quanto à minha mãe, ficou calada e só murmurou:

- A vida é assim, Nujood: as mulheres têm de aguentar.

Mas por que ela não me avisara? Agora eu estava presa.

- Nujood - repetiu meu pai -, agora você é uma mulher casada. Tem de ficar com seu marido. Se você se divorciar, meus irmãos e primos vão me matar! A honra vem em primeiro lugar.

Eu estava andando em círculos, sem ver uma saída. Meu pai, meus irmãos e meus tios não me dariam ouvidos.

Fui visitar Dowla, a segunda mulher do meu pai, que morava com os cinco filhos num apartamento minúsculo do outro lado da rua. Subi a escada, tapando o nariz para não sentir o mau cheiro do lixo e do banheiro comunitário. Dowla abriu a porta com um vestido preto e vermelho comprido e um enorme sorriso:

- Nujood! Que surpresa ver você outra vez. Bem-vinda!

Eu gostava de Dowla. Alta e magra, era mais bonita do que omma e nunca ralhava comigo. Mas a pobre mulher não tivera boa vida. Meu pai a negligenciara totalmente. A pobreza a obrigava a mendigar nas ruas.

Ela me convidou a sentar no grande fardo de palha que ocupava metade do cômodo, junto ao minúsculo fogão onde a água fervia.

- Nujood - arriscou ela -, você parece muito preocupada.

Abri meu coração. E minha história pareceu comovê-la profundamente. Ela pensou um instante, em silêncio, e depois serviu o chá. Ao me entregar a xícara, inclinou-se e me olhou fundo nos olhos.

- Nujood - sussurrou -, se ninguém lhe der ouvidos, você tem de ir diretamente ao tribunal.

- Aonde?

- Ao tribunal!

Mas é claro! Num flash, vi imagens de juízes de turbante, advogados apressados, homens e mulheres indo se queixar de problemas familiares, furtos, brigas por heranças. Vira o tribunal num programa a que costumava assistir na casa dos vizinhos.

- Vá ao tribunal - continuou Dowla. - Peça para falar com o juiz; o trabalho dele é ajudar as vítimas.

Abracei Dowla com força, imensamente agradecida. Ela colocou 200 riais na minha mão, toda a quantia - que mal valia 50 centavos de euro - que conseguira mendigar naquela manhã.

No dia seguinte, esperei com impaciência que minha mãe se levantasse.

- Nujood - disse ela, me entregando 150 riais -, vá comprar pão para o café da manhã.

- Sim, omma - respondi, obediente.

Peguei a rua que levava à padaria da esquina. Mas, no último minuto, mudei de direção e segui para a avenida principal. Puxei as dobras do véu sobre o rosto. Dessa vez, o niqab se mostrou muito útil. Saltei para dentro do micro-ônibus amarelo e branco que se dirigia ao centro da cidade, torcendo para sair do bairro antes que meus pais notassem meu sumiço.

A porta se fechou. Pela janela, vi a cidade passar. "Ponto final!", gritou o motorista.

Com dedos trêmulos, lhe entreguei algumas moedas. Mas não fazia ideia de onde ficava o tribunal. Estava ansiosíssima. Grudada num poste, tentava organizar os pensamentos quando avistei um táxi. Já tomara táxis quando fora a Bab al-Yemen com Mona.

Levantei a mão e fiz sinal para que parasse: "Quero ir para o tribunal!", exclamei para o motorista, que me fitou espantado. Ele não imaginava como fiquei grata por não me fazer perguntas.

Com uma freada forte, ele parou o carro junto ao portão de um prédio imponente. O tribunal! Desci logo do carro e entreguei ao taxista o resto do meu dinheiro.

O juiz

O juiz Abdo não consegue esconder sua surpresa.

- Você quer se divorciar?

- É.

- Mas... Quer dizer que é casada?

- Sou!

Os traços dele são distintos. A саmisa branca destaca a pele azeitonada. Mas, quando escuta minha resposta, seu rosto se entristece.

- Com essa idade? Como já pode ser casada?

Sem me preocupar em responder à pergunta, repito com voz decidida:

- Quero o divórcio.

Nervoso, ele começa a coçar o bigode. Ah, se pudesse me salvar!

- E por que quer o divórcio? - continua.

Olho-o bem nos olhos.

- Porque meu marido me bate.

É como se eu lhe tivesse dado um tapa na cara. A expressão dele se paralisa de novo. Sem hesitar, me pergunta:

- Você ainda é virgem?

Engulo em seco. Sinto vergonha de falar dessas coisas. Mas nesse instante entendo que, se quiser vencer, tenho de falar.

- Não. Eu sangrei.

Ele fica chocado. Consigo ver sua surpresa e sua tentativa de ocultar as emoções. Depois, respira fundo e diz:

- Vou ajudá-la.

Sinto-me aliviada. Vejo-o pegar o celular e noto que está com a mão trêmula. Com sorte, ele agirá depressa e naquela mesma noite poderei voltar para a casa dos meus pais e brincar com meus irmãos e irmãs como antes. Divorciada! Sem aquele medo de ficar sozinha, ao anoitecer, no mesmo quarto que meu marido.

Um segundo juiz vem nos encontrar na sala e acaba com meu entusiasmo.

- Minha criança, isso pode levar muito mais tempo do que você pensa. E, infelizmente, não posso lhe prometer que conseguirá o que quer.

Esse segundo homem é Mohammad al-Ghazi, o juiz-presidente. Ele diz nunca ter visto um caso como о meu. Os dois me explicam que, no Iêmen, é comum as meninas se casa rem muito jovens, com menos do que a idade legal de 15 anos. Uma tradição antiga, acrescenta o juiz Abdo. Mas, até onde ele sabe, nenhum desses casamentos precoces acabou em divórcio, porque nenhuma menininha, até então, tinha ido ao tribunal.

- Teremos de achar um advogado - explica Abdo.

Será que eles entendem que, se eu voltar para casa sem garantias, meu marido irá me buscar e a tortura recomeçará?

- Quero me divorciar! - Franzo bem a testa para mostrar que estou falando sério. O som da minha própria voz me assusta.

- Acharemos alguma solução murmura al-Ghazi, endireitando seu turbante.

O relógio acaba de dar duas horas, quando todos os escritórios se fecham. Hoje é quarta-feira, e o fim de semana muçulmano está prestes a começar.

- Não há a menor chance de ela voltar para casa - continua. Abdel Wahed, um terceiro juiz, se apresenta para me oferecer ajuda. A família dele tem espaço para me abrigar. Estou salva, pelo menos por enquanto.

Às nove horas da manhã de sábado, estamos na sala de Abdel Wahed no tribunal, com Abdo e Mohammad alGhazi, que estava muito preocupado ao dizer:

- De acordo com a lei iemenita, é difícil você entrar com um processo contra seu marido e seu pai.

Como muitas crianças nascidas em aldeias iemenitas, eu não tinha certidão de nascimento e era jovem demais para entrar com um processo contra alguém. Um contrato fora assinado e aprovado pelos homens da minha família, e era válido, de acordo com a tradição iemenita.

- Por enquanto - disse Mohammad al-Ghazi aos colegas -, temos de agir depressa. Sugiro que ordenemos a prisão temporária do pai e do marido de Nujood. Se quisermos protegê-la, é melhor que estejam presos do que em liberdade.

Prisão! Será que aba um dia me perdoaria? Fui tomada pela vergonha e pela culpa.

No Iêmen não havia abrigo para meninas como eu, mas não podia continuar com a família de Abdel Wahed, que já tinha feito tanto por mim.

- Quem é o seu tio favorito? - perguntou um dos juízes.

Achei que a melhor opção seria Shoyi, irmão de omma, soldado reformado com certo prestígio na família. Morava com as duas esposas e os sete filhos num bairro não muito longe do nosso. É verdade que não se opusera ao meu casamento, mas pelo menos não batia nas filhas.

Shoyi não me fez muitas perguntas e deixou que eu brincasse com minhas primas. No fundo, acho que meu tio ficou tão consternado quanto eu com aquilo tudo.

Nos três dias seguintes, passei a maior parte do tempo no tribunal, torcendo por um milagre. Quantas vezes mais teria de ir lá? Abdo me avisara que meu caso era bastante incomum. Mas o que fazem os juízes quando enfrentam um caso desses?

Estou aprendendo a resposta com Shada. Todos dizem que ela é uma das melhores advogadas do Iêmen e luta pelos direitos das mulheres. É bonita e tem cheiro de jasmim. Assim que a vi, gostei dela. Não cobre o rosto. Usa uma capa comprida, preta e sedosa, e apenas um véu colorido na cabeça.

Quando veio falar comigo pela primeira vez, vi como me olhou com grande emoção antes de exclamar "Céus!". Depois, conferiu o relógio, abriu a agenda e reorganizou os compromissos marcados, telefonando para familiares, amigos e colegas; várias vezes, eu a ouvi dizer: "Tenho de assumir um caso importantíssimo."

Essa mulher parece ter uma determinação infinita.

- Nujood, eu não a abandonarei ela me sussurra. Sinto-me segura a seu lado. Ela sabe como achar as palavras exatas, e sua voz melodiosa me acalma.

- Pode me prometer que nunca mais voltarei à casa do meu marido?

- Farei o possível para impedir que ele volte a machucá-la. Mas você tem de ser forte, porque pode levar algum tempo. A parte mais difícil já passou. A parte mais difícil foi ter forças para fugir, e isso você fez muito bem. Agora, posso lhe fazer uma pergunta? Como conseguiu reunir coragem para fugir e ir ao tribunal?

- Coragem para fugir? Eu não aguentava mais as maldades dele. Simplesmente não aguentava mais.

O divórcio

O grande dia veio antes do que se esperava. O tribunal estava cheio. A campanha de Shada nos meios de comunicação dera certo; eu nunca vira tantas câmeras. Debaixo do meu véu preto, estou suando muito.

"Nujood, um sorriso!", grita um fotógrafo. Uma fila de câmeras se forma à minha frente. Agarro-me a Shada. Seu aroma me tranquiliza, aquele cheiro de jasmim que agora conheço tão bem.

Lá no fundo, me sinto totalmente paralisada, incapaz de me mexer. Como acontece um divórcio? E se o monstro simplesmente disser não? E se ele ameaçar o juiz?

Na entrada do tribunal, os câmeras começam a se acotovelar para conseguir um ângulo melhor.

Tremo: vejo aba e... o monstro sendo escoltados por dois policiais. Os presos parecem furiosos. Ao passar à nossa frente, o monstro baixa os olhos e depois se vira de repente para Shada.

- Cheia de si, hein? - grunhe.

Shada nem pisca. Seu olhar revela todo o desprezo que sente por ele. Aprendi muito com ela.

- Não lhe dê ouvidos - me diz.

Meu coração pula. Quando ergo os olhos, vejo-me fitando os de aba. Ele parece tão nervoso! "Honra", diz. E, ao ver seu rosto, começo a entender o que significa essa palavra tão complicada.

Vejo nos olhos do meu aba que ele está zangado e envergonhado ao mesmo tempo. Estou furiosíssima com ele, mas não posso deixar de sentir pena também. O respeito dos outros homens: eis o que é tão importante aqui.

Mohammad al-Ghazi, juiz-presidente do tribunal, senta-se atrás da sua mesa alta. O juiz Abdo ocupa a cadeira ao lado dele.

- Em nome de Deus Todo-Poderoso e Misericordioso, declaro aberta a sessão deste tribunal - anuncia alGhazi, fazendo sinal para nos aproximarmos.

Shada me sinaliza para segui-la. À nossa esquerda, aba e o monstro também avançam. Sinto a multidão ferver atrás de nós. Neste exato momento, parte de mim daria tudo para ser um minúsculo camundongo. É a vez de o juiz Abdo falar: - Temos aqui o caso de uma menininha que foi casada contra o seu consentimento. Depois que o contrato de casamento foi assinado sem o seu соnhecimento, ela foi levada à força para a província de Hajja. Lá, o marido a agrediu sexualmente, quando ela sequer atingira a puberdade e não estava pronta para ter relações sexuais. Também a espancou e insultou. Ela veio aqui hoje para pedir o divórcio.

Al-Ghazi bate na mesa algumas vezes com um martelinho de madeira.

- Escute-me com atenção - diz ele à criatura que odeio. - O senhor se casou com essa menininha há dois meses, dormiu com ela, bateu nela. É verdade? Sim ou não?

O monstro pisca e responde:

- Não, não é verdade! Ela e o pai concordaram com o casamento.

Agarro-me à capa de Shada e digo: "Ele está mentindo!"

O juiz se volta para meu pai.

- O senhor concordou com o casamento?

- Concordei.

- Que idade tem sua filha?

- Minha filha tem 13 anos.

Treze? Ninguém nunca me disse que eu tinha 13 anos. Torço as mãos, tentando me acalmar.

- Casei minha filha porque temia que fosse sequestrada.

Não entendo nada do que ele diz. Suas respostas são vagas e complicadas, e as perguntas do juiz ficam cada vez mais incompreensíveis. As vozes se elevam. Os acusados se defendem. O barulho na sala aumenta enquanto meu coração bate mais depressa.

O juiz faz um sinal para que o sigamos até outra sala, longe do público.

- Faez Ali Thamer, o senhor consumou o casamento? Sim ou não? - pergunta o juiz.

Prendo a respiração.

- Consumei - admite o monstro. - Mas fui gentil com ela, fui cuidadoso. Não bati nela.

A resposta dele é como um tapa na cara, que me faz lembrar todos aqueles outros tapas, os insultos, o sofrimento.

- Isso não é verdade! - berro, descontrolada de raiva.

Todos se viram para me olhar. Mas sou a primeira a me espantar com a explosão. Depois disso, tudo acontece depressa. O monstro diz que meu pai o traiu quando mentiu sobre minha idade. Aí aba fica furioso e diz que ele concordara em esperar até que eu fosse mais velha para me tocar. O monstro anuncia que está disposto a aceitar o divórcio, mas com uma condição: que meu pai devolva o dote. E aba replica que nunca recebeu nem um centavo.

É como uma feira! Quanto? Quando? Como?

No fim, sou salva pela decisão do juiz, que anuncia:

- O divórcio será concedido.

16 de setembro de 2008

O divórcio mudou minha vida. Quando saio às ruas, as mulheres me chamam para me dar os parabéns. Recentemente, saí da casa do meu tio e voltei a morar com meus pais. É como se fingíssemos esquecer o que houve.

Meus pais se mudaram para outro bairro. Aqui posso ficar de olho em Haïfa. Se alguém ousar pedir a mão dela, protestarei. E, se ninguém me der ouvidos, chamarei a polícia.

Meus pesadelos pararam há algumas semanas. Agora, sonho com a escola. Uma associação humanitária internacional paga a escola para mim e Haïfa. Quando crescer, serei advogada como Shada, para defender outras menininhas como eu.

Uma das professoras nos convida a sentar nas carteiras. Escolho uma perto da janela. Com meu uniforme verde e branco, sou apenas uma das 50 meninas da classe, aluna do segundo ano da escola primária. Quando voltar para casa, terei exercícios e desenhos coloridos para fazer.

Hoje, finalmente sinto que me tornei uma menina normal de novo. Como antes. Sou apenas eu.

Epílogo: Em abril de 2009, o parlamento iemenita aprovou uma nova lei que eleva a idade de consentimento legal para 17 anos, derrubada no dia seguinte por pressão dos partidos conservadores de oposição. A mudança da idade de consentimento legal ainda está sendo negociada.

 

 

 

Marcelo Augusto de Carvalho 8 de julho de 2025 Artur Nogueira SP


 

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ESCOLHENDO SER NOBRE

Marcelo Augusto de Carvalho

 

TOPO

 

ESTER 4.10-16 - Ester

 

TUDO PARA SER UMA DERROTADA!

 

Ester nasceu Hadassa - este nome significa "murta" ou "mirto" em hebraico. A murta é uma planta com flores e folhas perfumadas, símbolo de beleza e pureza na cultura judaica. 

Logo muito pequena ainda perdeu sua mãe e seu pai.

A vida tornou-se carência, dependência, necessidade, viver do favor dos outros.

Como construir um destino quando a única coisa que sobra é a bondade de outro?

 

PESSOAS QUE PODIAM TER ESCOLHIDO DESISTIR DE SUAS VIDAS

 

JACÓ – foi rejeitado pelo pai desde o nascimento, e no máximo tolerado em casa.

JOSÉ – foi vendido pelos irmãos para ser escravo, pelo resto de sua vida, a pior posição social que uma pessoa poderia passar na vida em seus dias.

O LEPROSO – quando o sacerdote constatou sua terrível doença, precisou sair de casa, abandonar sua família e amigos, viver recluso fora das cidades, além de crer, pela educação que recebeu, de estar sob o juízo de Deus e perdido.

 

PESSOAS QUE HOJE TEM TUDO PARA DESISTIREM

 

A garota que foi suprimida emocionalmente pela mãe, tendo que viver como um ser anexo ao Ego narcisista, doentio ou inseguro da pessoa que ela mais ama.

O garoto que se apavora só de pensar na hora em que o pai chegar em casa, e o terror se instalar no ar.

O jovem que desenvolveu uma ansiedade atroz pelas etapas do crescimento humano. Tem medo de olhar para as pessoas, medo de se aproximar de gente estranha, medo de ter que conversar e não saber o que falar, ter que realizar uma tarefa e não conseguir desempenhá-la, ter que se relacionar com uma garota e passar a vergonha de não satisfazer suas expectativas.

 

HADASSA ESCOLHEU IR ALÉM!

 

CONFIOU no amor e afeto que seu primo, mais velho, tornando-se seu pai, lhe assegurou.

PRATICOU fielmente a educação que seus pais adotivos lhe deram.

TROCOU a baixa autoestima, a desconfiança, o vitimismo e a expectativa do fracasso pela esperança em Deus, na bondade do próximo e no amor eterno do Criador.

Quando veio a possibilidade do CONCURSO para rainha da Pérsia, ela OUVIU o conselho de seus pais, inscreveu-se, dedicou-se ao objetivo proposto e dentre milhares foi escolhida pelo rei do maior império de seu tempo.

Ao tornar-se rainha de fato continuou FIEL aos princípios que recebeu desde a sua infância.

Quando a perseguição aos judeus foi anunciada, ela ouvir a orientação de Mardoqueu, posicionou-se claramente como adoradora de Jeová e judia, orou a Deus para que lhe desse graça diante do rei, e arriscou-se a comparecer perante ele para enfim INTERCEDER pela vida de seu povo!

Ela confiantemente decidiu REVELAR ao rei a estratégia política e genocida do ardiloso e poderoso Hamã.

 

APELO - Marcos 8:34 – “Tome sua cruz e siga-me de perto”. (Living Bible)

 

O fato de crescer em todos os aspectos da vida NÃO APAGA as crenças que por tanto tempo guardamos em nosso inconsciente.

É certo que para sempre nos LEMBRAREMOS de nosso passado, mesmo escolhendo ir além dele.

E diante de muitas circunstâncias importantes, tenderemos a REAGIR baseado nessas crenças que um dia decidimos abandonar.

Crescer significa buscar os bons sentimentos internos e não tentar inutilmente escapar dos maus. Podemos sim, RECONHECÊ-LOS, aprender a lidar com eles e desenvolver outros melhores!

Portanto crescer é um trabalho diário, a LONGO PRAZO, por toda a vida, de sucessos e derrotas, de quedas e superações.

Precisamos AVANÇAR, mesmo quando o exército inimigo está à nossa caça e a única opção é entrar no Mar Vermelho! (Êxodo 14).

 

O MUNDO LUMINOSO DE HELEN KELLER - Van Wyck Brooks

No inverno de 1932 fui ver e ouvir Helen Keller atraído por uma curiosidade semelhante à que desperta qualquer pessoa de fama mundial. Sim, porque Helen Keller é famosa desde a idade de dez anos. Mark Twain disse que as duas personalidades mais interessantes do século XIX eram, simplesmente, Napoleão e Helen Keller. Contudo, ali estava ela em St. Augustine, ainda moça em 1932, e lá continua ainda 22 anos depois.

Lembro-me de uma frase que então pronunciou, referindo-se ao subway de Nova York, que “abria” as mandíbulas como uma fera imensa". Eu ignorava então até que ponto ia a sua familiaridade, literalmente, com mandíbulas de feras. Não sabia que ela uma vez afagara a boca de um leão. É verdade que o leão era jovem e fora bem alimentado de antemão, mas ainda assim Helen entrou corajosamente na jaula, porque a "professora" dela, como Helen sempre chamou Anne Sullivan, a mulher extraordinária que desenvolveu seu espírito, queria que ela passasse por experiências de toda a sorte.

Filha de um oficial do Exército do Sul durante a Guerra Civil dos Estados Unidos, Helen Keller nasceu numa fazenda do Estado de Alabama, e desde a primeira infância conheceu vacas, burros e cavalos. Eles comiam maçãs da sua mão e nunca lhe fizeram mal. Achando que ela devia conhecer também animais ferozes, sua professora desde cedo a pôs em contato com os animais de um circo. Helen apertou a mão de um urso, fez festas a um tigre, foi erguida para apalpar as orelhas de uma girafa. Incitava os elefantes a enrolarem a tromba em torno de seu pescoço e enormes cobras se enroscaram no seu corpo. Em parte, por esse motivo, cresceu sem medo e assim se manteve física e moralmente.

O mundo em que vive Helen Keller é feito de sensações tácteis, vazio de cores e sons, e ela tem escrito muita coisa sobre a mão pela qual vive e que ocupa o lugar da vista e do ouvido dos outros. Ela tem "dez olhos para a escultura", disse o Professor Gaetano Salvemini quando, em 1950, Helen Keller visitou Florença e ele lhe proporcionou a ocasião de ver os túmulos dos Médicis, de Miguel Ângelo, e a escultura de Donatello, no Bargello. Salvemini fez instalar andaimes móveis para que ela pudesse passar as mãos pelas cabeças dos Médicis e de São João Batista, pelas figuras da Noite e do Dia e da Madona e o Menino. O escultor Jo Davidson, que estava presente, declarou que nunca vira aquelas esculturas como quando observou as mãos de Helen passando por cima das formas.

Explorando o rosto de amigos e pessoas que acabam de lhe ser apresentadas, elas os lê como uma vidente e sabe distinguir sotaques regionais que nunca ouviu, tocando a garganta das pessoas enquanto falam. Diz que é tão fácil reconhecer mãos como rostos e que as mãos revelam mais claramente os segredos do caráter. Na sua terra de escuridão e silêncio, sabe sentir com as próprias mãos o belo, o forte, o fraco, o cômico. Pelas mãos sabe se as pessoas têm caráter forte ou se têm apenas "sangue de barata".

Como foram eliminados dois de seus sentidos, a natureza aumentou os três sentidos restantes, não só o do tato, mas também o do gosto e o do olfato. Conta ela no seu "Diário" que em Londres, transpondo um portão, percebeu imediatamente, pelo cheiro de folhas queimadas e pelo cheiro da erva, que estava em Green Park, e diz que sempre distingue a Quinta Avenida das ruas mais humildes de Nova York pelos cheiros que vêm das portas quando passa. Sabe os cosméticos que as mulheres usam e a qualidade do café que torram em casa, se usam velas e se queimam carvão ou lenha. "Que lindos lilases brancos!" exclama ela, sabendo que são brancos pelo tato ou pelo cheiro, pois tanto na consistência como no perfume os lilases brancos são diferentes dos roxos.

Helen Keller, que não ouve vozes, sente vibrações. Quando uma orquestra toca, ela acompanha as ondas musicais. Percebendo na sua mesa de trabalho, no andar de cima, a vibração da campainha da copa embaixo, ela responde com um arrastar de pés: "Já vou!" Diz ela que, "escutando" com os pés, numa sala de jantar de hotel, percebe a disposição e o caráter das pessoas que passam e sabe se são firmes ou indecisas, ativas ou preguiçosas, descuidadas, tímidas, cansadas, zangadas ou tristes.

Tudo isso deu motivo, nos tempos de sua juventude, a lendas sobre uma "menina prodígio" que sempre a aborreceram, pois Helen Keller é a personificação do humor e do simples bom senso. Anne Sullivan deu-se a grandes trabalhos para evitar que ela fosse considerada um prodígio, mas era impossível esconder que tinha uma inteligência notável e uma vontade ainda mais notável. Falando sobre o assunto, uma amiga disse que ela provava que a vontade humana tinha "um poder quase ilimitado".

Nada poderia ser mais tônico do que a educação de Helen Keller sob a orientação de Anne Sullivan, na fazenda de Alabama. As duas liam e estudavam ao ar livre, à margem do rio, na mata, nos campos e, lembra Helen, à sombra de um pé de tulipa silvestre. О perfume das mimosas, dos pinheiros e das uvas se misturou a todas as suas lições da infância. Aprendeu coisas sobre o sol e a chuva, como os pássaros faziam seus ninhos, sobre esquilos, sapos, flores silvestres, coelhos e insetos, e, lembra ela, tudo o que cantava ou floria, chilreava ou zumbia, fez parte da sua educação.

Foi Anne Sullivan quem inventou os processos de ligar um espírito a outro, graças aos quais, naturalmente, tudo isso se tornou possível... uma coisa que parecia "sobre-humana", segundo observou Einstein.

Que dizer de uma inteligência com tantas desvantagens como a sua, que. a levou tão longe, em tantas direções? Logo aprendeu Geografia por meio de mapas que a professora fazia de barro ou de areia, sentindo montanhas e vales e seguindo o curso dos rios. Aos 18 anos, se não tinha ainda dominado completamente essas matérias, ao menos aprendera muita coisa sobre Geometria, Álgebra, Física, Botânica, Zoologia e Filosofia. Escrevia cartas bem redigidas em francês; mais tarde aprendeu a falar alemão. Quando foi para a universidade, já lia também latim. Embora não pudesse ouvir as aulas, nem tomar notas, diplomou-se com distinção no Radcliffe College (a seção feminina da Universidade de Harvard para alunas sem diploma superior) onde escreveu a sua autobiografia na classe de Charles Copeland. Este declarou que ela mostrou que podia escrever melhor, em alguns de seus estudos, do que qualquer outro homem ou mulher que ele já tivera como aluno.

Poucos dos livros necessários para o curso estavam impressos para os cegos, e era preciso soletrar livros inteiros na sua mão. Sempre examinando, observando, refletindo, cercada de sombras e silêncio, ela escreveu que achava música e claridade dentro de si mesma. Por todos os seus pensamentos perpassava o que ela supunha ser cor. A par de suas qualidades naturais de bravura, energia e tenacidade, ela era dotada de espírito prático e de uma inteligência independente. Cresceu gostando de esportes, andando a cavalo e de bicicleta dupla, jogando cartas e xadrez e quase completamente confiante em si mesma.

Em Midstream, ela escreveu que lera tantas vezes a sua Bíblia em Braille que, em muitos lugares, os pontinhos haviam desaparecido. "A Bíblia", disse ela, "é o único livro que explica os tempos em que vivemos. Fala com sabedoria sobre o sol, o céu, o mar e a beleza das estrelas distantes... Não há diferenças entre os homens. As diferenças são apenas como a variação das sombras projetadas pelo sol.

Helen Keller tornou-se cidadã do mundo. Nas suas tournées pelos seis continentes para ajudar os cegos, leu em todos os países os sinais dos tempos. Compreendeu o Japão e a Grécia e talvez particularmente as terras bíblicas, onde fez conferências em universidades, desde o Cairo até Jerusalém, e onde iam surgindo à sua passagem novas escolas para os cegos. Esforçando-se por alcançar o espírito de homens de todos os tipos e classes, ela compreende suas necessidades e aspirações, e é assim um verdadeiro porta-voz da sua terra de múltiplas raças, que já é o vestíbulo do "mundo único" do futuro.

Ora acontece que, vivendo eu em Connecticut, não muito longe de Helen Keller, tomei algumas notas sobre ela nos últimos anos, assentando observações que fez ao acaso, bem como fatos e comentários que de vez em quando ela sugere. Transcrevo aqui algumas dessas notas, tal como foram tomadas:

Julho de 1945: Hoje Helen andou colhendo amoras silvestres. Só de tocá-las sabe quando estão maduras.

As passagens e o jardim de sua casa estão sempre tão bem tratados que eu os elogiei com entusiasmo. É Helen quem cuida de tudo. No verão, levanta-se todos os dias às cinco horas da manhã, aparando a grama da entrada e das passagens e arrancando as ervas daninhas dos canteiros de flores. (Distingue pelo tato as ervas das flores.)

Jantei com Helen e Salvemini na casa do Professor Robert Pfeiffer. A Sr.a Pfeiffer, que é natural de Florença, tocou uma canção italiana. Helen, de pé, colocou a mão esquerda sobre o piano, marcando o compasso com a direita. Dessa maneira conhece de cor a Nona Sinfonia de Beethoven e reconhece muitas outras músicas.

Alguém lhe perguntou como sabe a diferença entre o dia e a noite.

- Oh! - respondeu ela de dia o ar é mais leve, os perfumes são mais ligeiros e há mais movimento e vibração na atmosfera. De noite o ar é denso e sente-se menos movimento nas coisas.

Setembro de 1945: Fomos de ônibus até à Estação Grand Central de Nova York. Helen gosta de sentir a multidão em torno de si. De repente observou:

- Há um pintor neste ônibus.

Olhei em torno e de fato havia um pintor de paredes no outro extremo do ônibus, a uns seis metros de distância.

Outubro de 1949: Helen vem jantar. Um de nossos amigos lhe perguntou como foi que ela chegou a compreender as abstrações. Ela respondeu que descobrira que as maçãs boas eram doces e que havia também maçãs ruins, que eram ácidas. Aprendeu depois a pensar em doçura e acidez independentemente das maçãs, como ideias em si.

A verdade é que Helen tem um espírito filosófico. Conta em My Religion que, com cerca de 12 anos. dissera um dia à professora: “Eu já estive em Atenas." Referia-se, naturalmente, a uma visita imaginária, pois andara lendo sobre a Grécia, mas convém observar o que ocorreu em seu pensamento. Ela percebeu instantaneamente que a "realidade" do seu espírito independia das condições de lugar e corpo e que ela vira e sentira vividamente um lugar a milhares de quilômetros de distância, justamente porque possuía mente. De que outra maneira se poderia explicar esse "já estive em Atenas"? E continua: "Daquele momento em diante, a surdez e a cegueira deixaram de ter verdadeira importância. Deviam ser relegadas para o círculo exterior da minha vida."

Dezembro de 1951: Em geral, a datilografia de Helen é como a de uma perfeita secretária, mas um dia saíram algumas linhas um pouco apagadas em uma de suas cartas e ela acrescentou o seguinte pós-escrito: "Polly (Polly Thomson, a sucessora de Anne Sullivan) diz que os tipos desta máquina não estão bons. Minhas desculpas. H. K."

Polly gosta de implicar com ela, e, às vezes, é severa. Se Helen faz um erro de datilografia, Polly a obriga a copiar a página de novo. Devo acrescentar, como todos os seus amigos sabem, que Polly é, à sua maneira, uma pessoa tão extraordinária como Helen. Sem a sua vitalidade e o seu sentido diplomático, que faria Helen nas suas viagens pelo mundo? E que inesgotável animação têm as duas! Já as vi num trem noturno, quando todo mundo dormia, rindo e tagarelando como passarinhos num galho ao amanhecer.

Junho de 1953: Helen faz hoje 73 anos. Esta semana, ela voltou de uma visita de dois meses à América do Sul. Como é variado o seu espírito! Ela se interessa por tudo. Falou-me sobre as danças de La Argentina, embora eu não consiga imaginar como foi que as concebeu tão bem. E como são felizes as frases que lhe vêm à cabeça! Umas crianças soletraram palavras na sua mão e ela disse que seus dedinhos eram como "florezinhas silvestres da conversa."

Na minha opinião, foi o filósofo William James quem disse a última palavra sobre Helen Keller quando escreveu: "Em resumo, você é uma bênção..." - julgamento que tem sido ratificado em centenas de hospitais do mundo inteiro, onde só lhe tem faltado ressuscitar os mortos.

Algum dia se contarão histórias de milagres que ela realizou, ou de casos que poderiam passar por milagres em épocas menos cépticas do que a nossa, casos em que cegos abriram os olhos interiores e viram a vida pela primeira vez depois que Helen Keller passeou e conversou com eles.

 

A história da heroica superação de suas próprias limitações por Helen Keller ela ficou cega e surda com dois anos de idade tem sido contada repetidamente. Estas impressões de um seu vizinho lançam nova luz sobre uma criatura excepcional

 

 

Marcelo Augusto de Carvalho 9 de julho de 2025 Artur Nogueira SP

 

 

 

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