
21 O QUE FAZER PARA CONTINUAR
CRESCENDO? – Mateus 19.16-22
22 EU PRECISO DE MAIS DO QUE EU JÁ
TENHO – 2 Reis 5.1-15
23 POR QUE AS PESSOAS NÃO MUDAM? – Lucas
7.36-50
24 CONSULTE O PASSADO, MAS VIVA O PRESENTE – Gênesis 33.1-4
25 A ÚNICA FORMA DE NÃO CRESCER – Atos
9
26 OUVINDO O QUE ME ASSUSTA – 1
Samuel 28.1-5
27 QUANDO NÃO DÁ PRA
VOLTAR PARA CASA – Rute 1.15-18
28 ESCOLHENDO SER NOBRE – Ester 4.11-16
21
O QUE FAZER PARA CONTINUAR
CRESCENDO
Marcelo
Augusto de Carvalho
MATEUS
19.16-22, MARCOS 10.17-22, LUCAS 18.18-23 – o jovem rico.
Em tudo
o que Deus criou foi colocado o princípio do crescimento. E não é diferente em
nosso caso. Ele espera que cresçamos fisicamente desde o zigoto, socialmente
por meio de todas as conexões humanas que construímos, espiritualmente por meio
de cada encontro que temos com Ele pela Bíblia, oração e comunhão com os
outros.
Mas
isto só é possível acontecer se estivermos dispostos a acrescentarmos novas
crenças às que já estabelecemos.
A GRANDE PERGUNTA DA VIDA
Aprendeu
com seus pais e com a Igreja de Deus na Terra os grandes princípios da Lei de
Deus.
Desenvolveu
um caráter puro, reto, que expressava-se em um
comportamento impecável.
Era
elogiado por todas as pessoas que o conheciam.
E as
evidências exteriores confirmavam sua performance pois sua riqueza, pensava ele
e os judeus de forma geral, era resultado das benções de Deus por sua
fidelidade aos princípios do Céu.
Mas lá
dentro sentia-se insatisfeito. Por isto perguntou a Cristo: “O que ainda me
falta?”
SEU ERRO
O
excelente jovem rico queria o certo, mas tinha o foco errado.
Focou
no COMPORTAMENTO e não nos RELACIONAMENTOS
O bom
comportamento existe para ser usado para me relacionar adequadamente com as
pessoas.
Ser
bom sozinho é como ser milionário vivendo numa caverna!
Se eu
foco no comportamento sem me relacionar com os outros fatalmente sentirei um
vazio sem fim e uma inutilidade atroz pois aquilo que sou não me serve para
nada.
ELIAS
comportava-se muito bem morando sozinho no deserto, mas realizou muito mais
indo à casa de uma viúva pobre salvando-a da miséria e da fome.
Focou
na CAPACITAÇÃO e não no DESENVOLVIMENTO
Ele
acreditava que fazendo o curso certo, sabendo as respostas adequadas e tendo
todo o conhecimento possível, tudo da ria certo em sua vida.
Esqueceu-se
que Deus nos fez, não para saber tudo, mas para usufruir o desenvolvimento de
nossas capacidades por toda a eternidade.
EVA
tentou conhecer o bem e o mal sem o desenvolvimento natural para isto, e o
resultado foi destruir sua vida e a nossa.
Focou
na PRESSA e não DESFRUTE
A
pressa mata o desenvolvimento, pois não dá o tempo necessário para que os
frutos amadureçam no momento certo.
Também
mata os relacionamentos porque não paramos para ouvir, ver e nos conectarmos
aos outros.
DINÁ
conheceu a paixão e o sexo em apenas um encontro com. Mas sua pressa destruiu a
vida de seu futuro esposo como a tornou vergonha de seu pai a ponto de nunca
receber a benção de ter uma tribo em Israel.
Focou
no RESULTADO e não na REALIZAÇÃO
Chegar
lá sem me tornar alguém melhor é o mesmo que ganhar um prêmio sem merecê-lo.
ABSALÃO
chegou ao trono de Israel de um dia para o outro, só para revelar à nação o
quão despreparado estava para liderar pessoas.
Agindo
assim, o jovem rico parou de crescer, tornando-se cheio de si, mas
completamente vazio, de Deus e dos outros. Sozinhos somos muito pouco!
O QUE JESUS NOS ENSINOU?
Desde
o momento em que somos formados em nossa mãe desenvolvemos CRENÇAS, a nosso
respeito e do mundo no qual vivemos.
São a BASE
de todo nosso conhecimento, estruturando nossa autoestima, nosso comportamento
e a maneira como nos relacionaremos com as coisas, com os inúmeros processos e
as pessoas.
Só há
crescimento se estamos dispostos a MUDANÇAS: deixar o velho e aceitar o novo,
ou acrescentar àquilo que já possuímos.
Precisamos
ter consciência dessas CRENÇAS INTERIORES para então nos abrirmos a tudo de
NOVO que nos é proposto para continuarmos CRESCENDO.
A SOLUÇÃO DE CRISTO PARA O JOVEM RICO E PARA NÓS
DEIXA
“O que
você já tem é bom, mas não é o suficiente para a enorme fome que Eu já coloquei
em você”.
ELISEU
era um excelente filho, mas para continuar crescendo teve que deixar seus pais,
seguir Elias e tornar-se um mensageiro de Deus para chegar à sua plenitude.
VENDE
O que
você já tem é de muito valor. É bom para você e pode ser muito bom para os
outros. Mas não adianta nada existir só para você.
OS
LEPROSOS DE SAMARIA foram ao acampamento dos sírios para pedirem comida. Não
encontraram ninguém, pois Deus os havia feito fugirem. Comeram à vontade. Mas
tocados de compaixão, foram até a cidade e avisaram as pessoas, que vieram e se
fartaram com eles.
DISTRIBUA
AOS POBRE
“Relacione-se
com as pessoas, dividindo com elas seus dons, talentos e conhecimento”.
PAULO
sabia muito, foi preparado para ser o maior rabino de Israel. Mas por aceitar
ir e dividir com a Igreja ao redor do mundo foi que ele tornou-se
a pessoa mais influente do cristianismo, depois de Jesus.
VEM
“Para
o que é novo!”
Quando
RAABE aceitou viver a nova vida que Deus lhe ofereceu por intermédio dos
israelitas, ela salvou a si e a toda sua família.
SEGUE-ME
“Ande
comigo, aprenda comigo, torne-se Eu”.
O rico
publicano LEVI MATEUS, bem como o humilde pescador PEDRO tornaram-se ambos
plenos porque aceitaram o convite de Cristo para andarem e aprenderem com Ele
por todo o restante de sua vida.
APELO
Aceite
o crescimento que Deus te oferece. Avance com Ele, sem medo!
Um novo
“astro”, embora de secundária grandeza, surgiu há pouco no já recamado céu de
Hollywood: tenho a honra de apresentar dona ADELINA DE WALT REYNOLDS, velhinha
de olhos vivos e azuis, cabelo fofo de prata, que aos 80 anos viu baixar diante
dela as pontes levadiças do castelo roqueiro do cinema. Vovozinha, que aos 83,
é o “ai Jesus” da metrópole do celuloide animado. Nunca adoece, e chega sempre
a horas no estúdio; decora os seus papéis mais depressa do que muita atriz
jovem, é tão vivaz e jovial como um melro, e ganha um ordenadão.
O cheque dos honorários chega-lhe, como é de lei, com um corte: é o desconto
que lhe fazem para a pensão de reforma na velhice. E ela de comentar: “Reforma?
Nem me falem! Ideia boba. A gente devia sempre reservar os melhores anos da
vida para fazer o que sempre sonhou!”
Vovó
Reynolds fez precisamente isso. “Para mim - diz ela - a vida recomeçou aos 70
anos.” Com efeito, nessa idade respeitável ela se diplomava com altas honras
pela Universidade da Califórnia.
Nascida
e criada numa fazenda do Iowa, segou o feno dos campos, mungiu vacas, guiou
cavalos de lavoura, fez em suma trabalhos de homem. Conseguiu finalmente
convencer o pai a deixá-la frequentar uma escola preparatória, na próxima vila
de Blairstown. Por sorte, conheceu ali um Frank
Reynolds, por quem se apaixonou; e em breve os dois pombinhos batiam as asas...
Poucos
anos passados, quando o jovem casal, já então com dois filhos, se mudou para
Boston, a sra. Reynolds estudou arte dramática no Conservatório de Música e
Eloquência da Nova Inglaterra. Ali produziu um dia uma leitura tão
impressionante da Twelfth Night, que os seus mestres
a remeteram a Bram Stoker, agente do famoso ator inglês Sir Henry Irving.
Stoker The ofereceu um papel dramático, mas insistiu em que, se ela queria ser
bem-sucedida no palco, devia dar entrada numa companhia regular. E aconselhou
mais a jovem atriz a confiar seus filhos a alguém que olhasse por eles.
Com
essa enorme perspectiva ao alcance da mão, a sra. Reynolds resolveu criar
primeiro os filhos-tarefa que, como se iria ver, havia de levar-lhe o melhor da
vida. Em 1900, residindo então na Califórnia, a senhora Reynolds enviuvou,
ficando a braços com a criação de quatro filhos, e sem recursos.
Para
sustentar a família, aprendeu então estenografia e procurou emprego. Mas a
resposta foi desconcertante: consideravam-na demasiado velha, aos 40 anos, para
lhe dar trabalho!
Furiosa
de se ver assim julgada, associou-se com uma amiga e abriu um escritório de
estenografia pública em São Francisco. A freguesia acorreu, cresceu, e em 1906
a viúva Reynolds papava a derradeira prestação de uma casinha nova que
comprara. Era o teto, o abrigo seguro. No dia seguinte, o tristemente célebre
sismo e incêndio de São Francisco destruiu-lhe o
escritório e a casa... Passou as duas semanas seguintes, acompanhada dos
filhos, numa tenda do exército, nas faldas dos Twin Peaks.
Tempos depois transferia os penates para Berkeley, onde abriu uma escola para
secretárias, e dentro de poucos anos, à custa de trabalho, estava apta a
comprar nova casa.
A vida
correu, e a viúva Reynolds tinha 66 anos quando sua filha mais nova recebeu o
diploma universitário. A boa senhora anunciou que era agora a sua vez de entrar
para o College! E assim fez. Pagou todas as despesas
dos seus próprios estudos fazendo cópias à máquina para os colegas, e em 1930
obteve o grau: era nessa altura meia dúzia de vezes avó...
Mas não tardou a se inscrever num curso de arte dramática para pós-graduados, e
à custa de muito falar abriu caminho até as provas de admissão às classes do Professor
Charles von Newmayer.
A
prova consistia numa leitura de Shakespeare: leu Twelfth
Night, como lera em Boston 40 anos antes e foi um dos vinte candidatos
aprovados para о curso de Newmayer. Para pagar
as respectivas despesas, trabalhou durante dois anos como monitora de
estudantes Novembro de francês. Aos 72 obtinha o seu Master's
Degree. Para adquirir experiência representou com as
companhias populares de teatro ambulante, os Community Players de São Francisco
e de Berkeley, e por volta de 1940 sentiu-se com forças para tomar de assalto
Hollywood. Por ali andou de escritório em escritório, esperando que a incluíssem
no elenco de alguma fita: “Ninguém tomava a sério a velhota!” diz ela entre
risos.
Acabou
por se dirigir à Hollywood Assistance League Theater, que já revelara muitos dos artistas de cinema mais
apreciados. O «diretor» precisava de uma velha para tomar o papel de Hephzibah no drama Landslide e a
vovó Reynolds fez tal barulho, que um «caçador de talentos» da M.G.M. foi dar
parte da descoberta aos estúdios da sua companhia. E não tardou que ela fosse incluída
no cartaz de Come Live With Me (Pede-se um Marido),
no papel de avó, ao lado do James Stewart.
“Vovó,
você nasceu para isto”, exclamou o diretor, quando ela concluiu as primeiras
cenas. Em breve estava encarnando nova personagem noutro filme Shadow of the Thin
Man (A Sombra dos Acusados), com William Powell e Myrna Loy.
Desde então a viúva Reynolds ainda não esteve desocupada mais de três semanas a
fio. Terminada a filmagem de Tuttles of Tahiti (Os Tuttles de Taití) em que desempenhou o papel de mãe de Charles Laughton, este deu-lhe um abraço e segredou-lhe ao ouvido: “Vovó,
tu és uma grande atriz!”
A sra.
Reynolds confessa modestamente que tudo o que faz é ser sincera, ser ela
própria. Sendo a menos das estrelas de Hollywood, só a uma coisa se opõe: as
fitas pouco saudáveis. Repudiou um papel que lhe ofereciam em Tobacco Road, sob
o pretexto de que seus netos não poderiam ver tal filme e dizer com orgulho: “Aquela
é a vovó!”
Vive
num apartamento que mais parece um escritório, atravancado de arquivos, livros
e papéis. Sentada em frente de uma máquina de escrever - no que é ainda um
primor! - bate todos os dias pelo menos cinco cartas para os soldados com os
quais sustenta uma animada correspondência.
Para
se manter em boa forma física, Vovó exercita-se regularmente no Clube Atlético
de Hollywood, para homens, que por concessão especial a considerou sócia, de
modo a permitir-lhe ser assistida por seus mestres de esgrima.
Estava
ela num cenário do estúdio, certa manhã, quando viu quatro homens deitados por
terra, a empurrar penosamente as rodas de um automóvel a cujo volante ia
sentado um velho ator que não sabia conduzir. Voltando-se para o diretor, Vovó
disse: “Agora é que se vai ver como a velhota aprende a guiar automóvel!” No
dia seguinte começava as lições...
Vovó
Reynolds recebe montanhas de correspondência dos seus admiradores, e o que mais
a surpreende é que a maioria das cartas são de gente moça, que quer saber o
segredo do vigor juvenil da que depois de ser velha foi atriz. A resposta dela
é esta: “O que você precisa é de ter entusiasmo pelo que está fazendo no
presente; desse modo se preparará para fazer algo de melhor no futuro. E isso
não é filosofia que eu tenha surripiado de algum livro: cheguei a ela por minha
própria experiência, e sei que esse é o segredo da perene juventude. Desde que
fiz 50 anos que venho rejuvenescendo...”
Marcelo Augusto de Carvalho 3 de
julho de 2025 Artur Nogueira SP
22
EU PRECISO DE MAIS DO QUE JÁ TENHO
Marcelo
Augusto de Carvalho
2 REIS
5.1-15 – Naamã.
NAAMÃ, O CONQUISTADOR SEM ESPERANÇA
POSIÇÃO:
Naamã era um comandante do exército do rei da
Síria, Ben-Hadade II.
FAMA: era
conhecido por sua bravura e vitórias.
PROBLEMA:
sofria de lepra, a mais temida doença da antiguidade.
EMOÇÕES:
apesar de todos os seus talentos em liderar exércitos e elaborar planos para
conquistas militares, não tinha qualquer esperança de continuar vivo por muito
tempo.
RELIGIÃO:
servia os grandes deuses pagãos do mundo antigo, mas que nada faziam para
curá-lo. Estava desiludido com sua sincera devoção a estes deuses.
A MENINA CATIVA, A CONQUISTADA COM A MENSAGEM DE ESPERANÇA
POSIÇÃO:
seu país foi vencido na guerra, e ela foi levada cativa para a Síria e vendida
como escrava à mulher de Naamã.
FAMA: nenhuma.
Era tão desconhecida que mesmo citada pelo autor bíblico sequer foi registrado
seu nome!
PROBLEMA:
seria escrava para sempre, lavando, passando, cozinhando e servindo seus
senhores até sua morte.
EMOÇÕES:
saudade de seus pais, saudade de sua terra, tristeza, humilhação e abandono.
RELIGIÃO:
apesar de tudo levá-la ao desespero, ela decidiu encarar sua vida com
esperança. Não conseguia explicar os fatos de sua vida, mas sabia que Deus
tinha um plano maior para sua existência. Decidiu prosseguir sendo fiel a Ele,
servindo seus senhores. Em vez de tornar-se amargurada e reclusa decidiu manter
conexão emocional com quem Deus lhe deu ao seu redor. Ao saber da sorte de seu
senhor, indicou-lhe o caminho da cura: ir até Samaria e pedir por cura ao
profeta Eliseu.
CRENÇAS CERTAS DE NAAMÃ
FÉ: ouvindo
a sugestão de sua serva, ele creu que a garota tinha razão.
CONEXÃO:
buscou seu rei, pedindo cartas de apresentação para que fosse bem aceito e
atendido na terra que algum tempo atrás assolara!
OBRAS:
viajou, por dias, até chegar à Samaria.
CRENÇAS ERRADAS DE NAAMÃ
DEUS
NÃO QUER SE RELACIONAR COMIGO.
Como
criador e mantenedor do Universo, Ele tem coisas mais importantes a fazer. Eu
não sou interessante.
DEUS
ME CASTIGOU.
Minha
lepra mostra quão desagradável sou a ele. Pequei, e por isto Ele me castigou
dando-me essa doença tão terrível.
PRECISO
MERECER A CURA.
Para
receber as bençãos de Deus eu preciso merecê-las. Preciso comprá-las. Assim ele
trouxe dezenas de animais carregados de ouro, prata e vestidos caros para
agradar o homem de Deus e convencê-lo da cura.
EU
CONHEÇO COISA MELHOR.
Eliseu
não o atendeu pessoalmente, mas enviou seu servo Geazi
com a mensagem: “Mergulhe 7 vezes no rio Jordão e você será curado!”
Até ali Naamã foi
humilde. Ouviu a garota cativa, pediu indicação de seu rei, humilhou-se a ir à
terra conquistada, pediu ajuda ao rei conquistado, foi até à casa do profeta do
Deus perdedor, e teve que engolir a falta de trato social de Eliseu de nem
aparecer para atendê-lo.
Mas exigir que ele fosse ao estreito,
barrento e feio rio Jordão, entrasse nele e mergulhasse por 7 vezes era
humilhá-lo demais!
Assim Deus revelou a seu filho Naamã quão orgulhoso ele era. Quanto a idolatria tinha desvirtuado
sua percepção de vida. E como sua mente era fechada ao novo.
Naamã se orgulhava de já conhecer rios maravilhosos. Podia banhar-se neles. Ele
já o fazia, diariamente, mas continuava leproso. Precisava de algo melhor, e
isto só Deus tinha para ele. Precisava de ALGO MAIS, nascer de novo.
O QUE DEUS TEM DE MELHOR PARA NÓS? 2
Coríntios 2.9.
Assim como a menina cativa aceitou o plano de
Deus para ela, de viver em uma nova terra, nova cultura, nova posição social,
novas pessoas a quem testemunhar dEle, Naamã precisava fazer em sua vida!
Deus sempre tem algo novo, bom e melhor do
que já nos deu para nos dar hoje.
Tem Sua Lei (Êxodo 20), Sua Graça (Atos 16.30-34).,
Sua Igreja (Salmo 133), Sua Missão (Mateus 28.18-20). Seus planos para nós (Jeremias
29.11).
O QUE DEUS NOS ENSINA POR MEIO DE NAAMÃ
Os
princípios INCONSCIENTE guardados em nossa mente, fruto de nossa história, são excelente. São a base do que somos e do que acreditamos, e
seria impossível vivermos sem eles. Jamais teríamos chegado aqui sem esse
presente do Céu.
Mas
não podemos parar aí. FIXAR-SE neles, fechar-se no pensamento RÍGIDO e
recusar-se a MUDAR é falta de fé nesse Deus que nos provê tudo o que
precisamos, inclusive o crescimento.
O
pensamento RÍGIDO emperra nosso crescimento, incapacita nossa sensibilidade à
vida, destrói nossas relações e ofende a Deus.
A
MENTE FECHADA é um problema do coração, uma forma de reagir à insegurança por
meio de um mecanismo de defesa bitolado e estéril.
Portanto,
não jogue fora o que Deus já te deu. Elimine sim sua vontade de não quere saber
mais do que já sabe.
Aceite
sua CONDIÇÃO humana, suas incapacidades, sua ignorância.
Assuma seu
medo de descobrir a pior verdade que existe, a verdade a seu RESPEITO. Deus já
a conhece e não tem nem medo nem dissabor disso. Ele a quer revelar para que
você possa aceitar a mudança que só Ele pode realizar em sua vida!
APELO
Todos
os dias Deus tem algo a nos ensinar a nosso respeito, a respeito das pessoas
que Ele nos enviou, e a respeito dEle.
Aceite
que o que você tem pode ser bom. Construa em cima disso. Deus tem algo ainda
melhor a acrescentar a você.
GEORGE
L. KIRKHAM é professor assistente da Escola de Criminologia da Universidade da
Flórida e autor do livro Signal Zern.
Como
professor de criminologia tive problemas durante algum tempo, devido ao fato de
que, como a maioria daqueles que escrevem livros sobre assuntos policiais, eu
nunca fui policial. Contudo, alguns elementos da comunidade acadêmica
norte-americana, tal como eu, foram muitas vezes demasiado precipitados ao
apontar erros da nossa política. Dos incidentes que lemos nos jornais, formamos
imagens estereotipadas, como as do policial violento, racista, venal ou
incorreto. O que não vemos são os milhares de dedicados agentes da polícia, homens
e mulheres, lutando e resolvendo problemas difíceis para preservar nossa
sociedade e aquilo que nos é mais caro.
Muitos
dos meus alunos tinham sido policiais, e eles várias vezes opunham às minhas
críticas o argumento de que uma pessoa só poderia compreender o que um agente
da polícia tem de suportar quando também experimentasse ser policial. Por fim,
me decidi a aceitar o repto. Entraria para a polícia e assim iria testar a
exatidão daquilo que vinha ensinando. Um dos meus alunos (um jovem agente que
gozava licença para frequentar o curso, pertencente à delegacia de polícia de
Jacksonville, Flórida) me incitou a entrar em contato com o xerife Dale Carson
e o vice xerife D. K. Brown e explicar-lhes minha pretensão.
Lutando por um distintivo. Jacksonville me parecia
ser o lugar ideal. Era um porto de mar e um centro industrial em crescimento
acelerado. Ali ocorriam também manifestações dos maiores problemas sociais que
afligem nossos tempos: crime, delinquência, conflitos raciais, miséria e doenças
mentais. Tinha igualmente a habitual favela e o bairro reservado aos negros.
Sua força policial, composta por 800 elementos, era tida como uma das mais
evoluídas dos Estados Unidos.
Esclareci
o xerife Carson e o vice xerife Brown de que pretendia um lugar não como
observador, mas como patrulheiro uniformizado, trabalhando em expediente
integral durante um período de quatro a seis meses. Eles concordaram, mas
puseram também a condição de que eu deveria primeiro preencher os mesmos
requisitos exigidos a qualquer outro candidato a policial: uma investigação
completa ao caráter, exame físico e os mesmos programas de treinamento. Havia
outra condição com a qual concordei prontamente: em nome da moral, todos os
outros agentes deviam saber quem eu era e o que estava fazendo ali. Fora disso,
em nada eu me distinguiria de qualquer agente, desde o meu revólver Smith e Wesson calibre 38 até o distintivo e o uniforme.
O
maior obstáculo foram as 280 horas de treinamento estabelecidas por lei.
Durante quatro meses (quatro horas por noite e cinco noites por semana), depois
das tarefas de ensino teórico, eu aprendia como utilizar uma arma, como
aproximar-me de um edifício na escuridão, como interrogar suspeitos, investigar
acidentes de trânsito e recolher impressões digitais. Por vezes, à noite,
quando regressava a casa depois de horas de treinamento de luta de defesa pessoal,
com os músculos cansados, pensava que estava precisando era de um exame de
sanidade mental por ter-me metido naquilo. Finalmente, veio a graduação e, com
ela, o que viria a ser a mais compensadora experiência da minha vida.
Patrulhando a rua. Ao escrever este artigo, já
completei mais de 100 rondas como agente iniciado, e tantas coisas aconteceram
no espaço de seis meses que jamais voltarei a ser a mesma pessoa. Nunca mais
esquecerei também o primeiro dia em que montei guarda defronte à porta da
delegacia de Jacksonville. Sentia-me ao mesmo tempo estúpido e orgulhoso no meu
novo uniforme azul e coma cartucheira de couro.
A
primeira experiência daquilo que eu chamo de minhas «lições de rua>
aconteceu logo de imediato. Com meu colega de patrulha, fui destacado para um
bar, onde havia distúrbios, no centro da zona comercial da cidade. Lá chegando,
encontramos um bêbado robusto e turbulento que, aos gritos, se recusava a sair.
Tendo adquirido certa experiência em admoestação correcional, apressei-me a
tomar conta do caso. “Desculpe, amigo”, disse eu sorridente, “não
quer
dar uma chegadinha aqui fora para bater um papo
comigo?” O homem me encarou esgazeado e incrédulo, com os olhos raiados de
sangue. Cambaleou para mim e me deu um empurrão no ombro. Antes que eu tivesse
tempo de me recuperar, chocou-se de novo comigo -e desta vez fazendo saltar da
dragona a
corrente
que prendia meu apito. Após breve escaramuça, conseguimos levá-lo para a
radiopatrulha.
Como
professor universitário, eu estava habituado a ser tratado com respeito e
deferência e, de certo modo, presumia que isso iria continuar assim em minhas
novas funções. Agora, porém, estava aprendendo que meu distintivo e uniforme,
longe de me protegerem do desrespeito, muitas vezes atuavam como um «ímã»
atraindo indivíduos que odiavam o que eu representava. Confuso, olhei para meu
colega, que apenas sorriu.
Teoria e prática. Nos dias e semanas seguintes,
eu iria aprender mais coisas. Como professor, sempre procurara transmitir aos
meus alunos a ideia de que era errado exagerar o exercício da autoridade, tomar
decisões por outras pessoas ou nos basearmos em ordens e mandatos para executar
qualquer tarefa. Como agente da polícia, porém, fui muitas vezes forçado a
fazer exatamente isso. Encontrei indivíduos que confundiam gentileza com
fraqueza -o que se tornava um convite à violência. Também encontrei homens,
mulheres e crianças que, com medo ou em situações de desespero, procuravam
auxílio e conselhos no homem uniformizado.
Cheguei
à conclusão de que existe um abismo entre a forma como eu, sentado calmamente
no meu gabinete com ar-condicionado, conversava com o ladrão ou o assaltante a
mão armada, e a maneira como os patrulheiros encontram esses homens - quando
eles estão violentos, histéricos ou desesperados. Esses agressores, que
anteriormente me pareciam tão inocentes, inofensivos e arrependidos depois do
crime cometido, agora, como agente da polícia, eu os encarava pela primeira vez
como uma ameaça à minha segurança pessoal e à da nossa própria sociedade.
Aprendendo com o medo. Tal
como o crime, o medo deixou de ser um conceito abstrato para mim, e se tornou
algo bem real, que por várias vezes senti: era a estranha impressão em meu
estômago, que experimentava ao me aproximar de uma loja onde o sinal de alarme
fora acionado; era uma sensação de boca seca quando, com as lâmpadas azuis
acesas e a sirena do carro ligada, corríamos para atender a uma perigosa
chamada onde poderia haver tiros.
Recordo
especialmente uma dramática lição no capítulo do medo. Num sábado à noite,
patrulhava com meu colega uma zona de bares mal frequentados e casas de
bilhares, quando vimos um jovem estacionar o carro em fila dupla. Dirigimo-nos
para o local, e eu lhe pedi que arrumasse devidamente o automóvel, ou então que
fosse embora - ao que ele respondeu inopinadamente com insultos. Ao sairmos do carro de radiopatrulha e nos aproximarmos do
homem, a multidão exaltada começou a nos rodear. Ele continuava a nos insultar
e se recusando a retirar o carro. Então, tivemos que prendê-lo. Quando o
trouxemos para a viatura da polícia, a turma nos cercou completamente. Na
confusão que se seguiu, uma mulher histérica me abriu o coldre e tentou sacar
meu revólver.
De
súbito, eu estava lutando para salvar minha vida. Recordo a sensação de
verdadeiro terror que senti ao premir o botão do armeiro onde se encontravam
nossas armas. Até então, eu sempre tinha defendido a opinião de que não devia
ser permitido aos policiais o uso de armas, pelo aspecto “agressivo” que
denotavam, mas as circunstâncias daquele momento fizeram mudar meu ponto de
vista, porque agora era minha vida que estava em perigo. Senti certo amargor
quando, logo na noite seguinte, voltei a ver já em liberdade o indivíduo que tinha
provocado aquele quase motim - e mais amargurado fiquei quando ele foi julgado
e, confessando-se culpado, condenaram-no a uma pena leve por «violação da
ordem».
Vítimas silenciosas. Dentre todas as trágicas
vítimas do crime que vi durante seis meses, uma se destaca. No centro da
cidade, num edifício de apartamentos, vivia um homem idoso que tinha um cão.
Era motorista de ônibus, aposentado. Encontrava-os quase sempre na mesma
esquina, quando me dirigia para o serviço, e por vezes me acompanhavam durante alguns
quarteirões.
Certa
noite, fomos chamados por causa de um tiroteio numa rua perto do edifício.
Quando chegámos, о velho estava estendido de costas no meio de uma grande
poça de sangue. Fora atingido no peito por uma bala e, em agonia, me sussurrou
que três adolescentes o tinham interceptado e lhe pediram dinheiro. Quando
viram que tinha tão pouco, dispararam e o abandonaram na rua.
Em
breve, comecei a sentir os efeitos daquela tensão diária a que estava sujeito.
Fiquei doente e cansado de ser ofendido e atacado por criminosos que depois
seriam quase sempre julgados por juízes benevolentes e 87 por jurados dispostos
a concederem aos delinquentes uma “nova oportunidade”. Como professor de
criminologia, eu dispunha do tempo que queria para tomar decisões difíceis.
Como policial, no entanto, era forçado a fazer escolhas críticas em questão de
segundos (prender ou não prender, perseguir ou não perseguir), sempre com a incômoda
certeza de que outros, aqueles que tinham tempo para analisar e pensar,
estariam prontos para julgar e condenar aquilo que eu fizera ou aquilo que não
tinha feito.
Como
policial, muitas vezes fui forçado a resolver problemas humanos
incomparavelmente mais difíceis do que aqueles que enfrentara para solucionar
assuntos correcionais ou de sanidade mental: rixas familiares, neuroses,
reações coletivas perigosas de grandes multidões, criminosos. Até então,
estivera afastado de toda espécie de miséria humana que faz parte do dia-a-dia da vida de um policial.
Bondade em uniforme. Frequentemente,
fiquei espantado com os sentimentos de humanidade e compaixão que pareciam
caracterizar muitos dos meus colegas agentes da polícia. Conceitos que eu
considerava estereotipados eram, muitas vezes, desmentidos por atos de bondade:
um jovem policial fazendo respirações boca a boca num imundo mendigo, um
veterano grisalho levando sacos de doces para as crianças dos guetos, um agente
oferecendo a uma família abandonada dinheiro que provavelmente não voltaria a
reaver.
Em consequência
de tudo isso, cheguei à humilhante conclusão de que tinha uma capacidade
bastante limitada para suportar toda a tensão a que estava sujeito. Recordo em
particular certa noite em que o longo e difícil turno terminara com uma
perseguição a um carro roubado. Quando largamos o serviço, eu me sentia cansado
e nervoso. Com meu colega, estava me dirigindo para um restaurante a fim de
comer qualquer coisa, quando ouvimos o som de vidros se quebrando, proveniente
de uma igreja próxima, e vimos dois adolescentes cabeludos fugindo do local.
Conseguimos interceptá-los e pedi a um deles que se identificasse. Ele me olhou
com desprezo, xingou e me virou as costas com intenção de se afastar. Não me
lembro do que senti. Só sei que o agarrei pela camisa, colei seu nariz bem no
meu e rosnei: “Estou falando com você, seu cretino!”
Então,
meu colega me tocou no ombro, e ouvi sua reconfortante voz me chamando à razão:
“Calma, companheiro!” Larguei o adolescente e fiquei em silêncio durante alguns
segundos. Depois, me recordei de uma das minhas lições, na qual dissera aos
alunos: “O sujeito que não é capaz de manter completo domínio sobre suas
emoções em todas as circunstâncias não serve para policial.”
Desafio complicado. Muitas
vezes perguntara a mim próprio: “Por que um homem quer ser policial?” Ninguém
está interessado em dar conselhos a uma família com problemas às três da
madrugada de um domingo, ou em entrar às escuras num edifício que foi
assaltado, ou em presenciar dia após dia a pobreza, os desequilíbrios mentais,
as tragédias humanas. O que faz um policial suportar o desrespeito, as
restrições legais, as longas horas de serviço com baixo salário, o risco de ser
assassinado ou ferido?
A
única resposta que posso dar é baseada apenas na minha curta exреriência como policial. Todas as noites eu
voltava para casa com um sentimento de satisfação e de ter contribuído com algo
para a sociedade - coisa que nenhuma outra tarefa me tinha dado até então. Todo
agente da polícia deve compreender que sua aptidão para fazer cumprir a lei,
com a autoridade que ele representa, é a única “ponte” entre a civilização e o
submundo dos fora da lei. De certo modo, essa convicção faz com que todo o
resto (o desrespeito, o perigo, os aborrecimentos) mereça que se façam
quaisquer sacrifícios.
Marcelo Augusto de Carvalho 3 de
julho de 2025 Artur Nogueira SP
23
POR QUE AS PESSOAS NÃO MUDAM?
Marcelo
Augusto de Carvalho
LUCAS 7.36-50
– Simão, o fariseu leproso.
SIMÃO TINHA CERTEZA QUE CONHECIA TUDO SOBRE SI MESMO!
ORGULHO
RACIAL – era filho de Abraão, o amigo de Deus.
RELIGIÃO
CERTA – adorava Jeová, o Criador do Céu e da Terra.
ESPERANÇA
CERTA – ele esperava pela vinda do Messias, filho de Davi.
COMPORTAMENTO
CERTO – era um dos 6 mil fariseus de seu tempo!
IGREJA
CERTA – adorava no Templo de Jerusalém, habitado pela presença de Jeová.
SE TUDO ESTÁ TÃO BEM, POR QUE ELE PROCUROU JESUS?
Mesmo
tudo tão certo, algo falta. Vem a doença, a mais temível de todas a LEPRA. Além
de causar exclusão do povo e na maioria das vezes a morte certa, é o sinal
claro do juízo de Deus sobre a pessoa, evidenciando, segundo a crença daquele
tempo, a perdição eterna.
Os
fariseus odiavam a Jesus. Mas em seu desespero Simão ignora o preconceito e o
ódio de seus iguais, vai a Jesus e pede a cura, e Jesus o
salva de sua condição lastimável.
Para
então demonstrar sua gratidão, respeito e fé pública ele oferece um BANQUETE a
Cristo em sua casa.
“Ufa,
essa foi por pouco!” – ele pensava. Meu inconsciente, minha história, meus
medos, meus pecados e minha perdição, quase tudo veio à tona, mas a cura de
Jesus resolveu a questão. Posso então continuar como sempre fui.
QUE COISAS QUE USAMOS PARA EVITAR FALAR COM DEUS SOBRE NÓS
MESMOS?
Deu o
banquete, para celebrar a vitória, para esquecer o que não quer tocar, para
prosseguir sem precisar mudar.
Convidou as pessoas certas, todas aquelas que
lembravam seu sucesso.
Evitou todas aquelas que lembravam seu
interior e seu passado, como a mulher pecadora, MARIA, a quem ele havia levado
ao pecado!
Discutimos
teologia, brigamos sobre as datas certas dos cumprimentos das profecias, nos
encantamos com os milagres de Cristo e fazemos aplicações espirituais e
pertinentes das parábolas do Mestre.
Damos
uma de benfeitores anotando e apresentando os pedidos por curas e milagres dos
irmãos de nossa igreja, de nossos parentes e amigos.
Lemos
a Bíblia de capa a capa, pregamos o Evangelho aos vizinhos, e se precisar
estamos dispostos a brigar e a até morrer pelo Evangelho...desde que...não
toquemos no que há no mais íntimo de nosso ser: a NATUREZA PECAMINOSA e seus
efeitos!
JESUS ENTÃO DECIDE MOSTRAR A ELE A VERDADE, DE SI MESMO!
Quando
MARIA unge a Cristo com aquele caríssimo nardo, e esquecendo a toalha o enxuga
com seus cabelos, o orgulho fariseu se revela. Das profundezas de seu
INCONSCIENTE brota naturalmente seu ódio por Jesus. Internamente o rejeita como
Messias, repugna a mulher que fora pecadora (por motivação dele) e se acha o
melhor dos três envolvidos.
Ele
julga a Cristo em seu interior. Jesus o julga, de forma discreta também.
Conta
a parábola do CREDOR COMPASSIVO. Só os 3, de todos os presentes, entende o que
Jesus diz.
Como
fizera Natã com Davi, Cristo ocultou Seu bem atirado golpe sob o véu de uma
parábola. Lançou sobre o hospedeiro a responsabilidade de proferir a própria
sentença. Simão induzira ao pecado a mulher que ora desprezava. Fora por ele
profundamente prejudicada. Pelos dois devedores da parábola, eram representados
Simão e a mulher. Jesus não intentava ensinar que diferentes graus de obrigação
houvessem de ser sentidos pelas duas pessoas, pois [397] cada uma tinha um
débito de gratidão que nunca se poderia solver. Mas Simão se julgava mais justo
que Maria, e Jesus desejava fazer lhe ver quão grande era na verdade a sua
culpa. Queria mostrar-lhe que seu pecado era maior que o dela, tão maior, como
um débito de quinhentos dinheiros é superior a uma dívida de cinquenta. Simão
começou então a ver-se sob um novo aspecto. Observou como Maria era considerada
por Alguém que era mais que profeta. Notou que, com o
penetrante olhar profético, Cristo lhe lera o amorável e devotado coração. A
vergonha apoderou-se dele, e percebeu achar-se em presença de
Alguém que lhe era superior.
Simão
foi tocado pela bondade de Jesus em não o repreender abertamente diante dos
hóspedes. Não fora tratado como desejara que Maria o fosse. Viu que Jesus não
desejava expor sua culpa diante dos outros, mas buscava, por uma exata
exposição do fato, convencer-lhe o espírito e por piedosa bondade vencer-lhe o coração.
Viu a
magnitude do débito que tinha para com seu Senhor. Seu orgulho humilhou-se, ele
se arrependeu, e o altivo fariseu tornou-se um humilde e abnegado discípulo O
Desejado de Todas as Nações, 483-494.
Simão
deu o banquete para agradecer a cristo. É um excelente gesto!
Mas o
plano da salvação também envolve saber de nós mesmos.
Por
medo, vergonha e até incapacidade, somos peritos em nos JUSTIFICARMOS. Damos a
entender que tudo está bem minimizando nossa verdadeira condição.
Mas isso
é apenas uma FUGA infantil. Agir assim não resolve nada!
E
quanto mais nos escondemos menor é nossa capacidade de nos compreendermos e de
mudarmos realmente.
Ninguém
muda o que não entende! Sem compreender-nos é impossível perceber a mudança que
precisa acontecer em nós.
Sem
conhecer a mim mesmo de verdade...sem reconhecer o que verdadeiramente
preciso...sem me aceitar e me amar apesar do que sou...jamais haverá qualquer
mudança em minha vida!
Nossa
maior necessidade então não é sentirmos melhor a nosso respeito, mas que nos
compreendamos melhor.
DEUS USOU ESSE MÉTODO COM:
ADÃO –
Deus perguntou-lhe: “Onde estás? Comeste do fruto da árvore que eu te proibi?” Adão
precisava compreender quão PRESUNÇOSO havia sido em buscar conhecimento fora de
Deus, comendo o fruto proibido.
CAIM –
Deus perguntou-lhe: “Onde está o teu irmão?” Ele precisava compreender que seu
ORGULHO havia levando-o a não entregar a oferta pedida, a odiar seu irmão
obediente e por fim matá-lo.
JACÓ –
Deus perguntou-lhe: “Qual é o teu nome?” Jacó precisava compreender que era um
ENGANADOR desde sua infância, fazendo de todos que o amavam um objeto de seu
vício pela primogenitura.
ELIAS
– Deus perguntou-lhe: “Que fazes aqui?” Elias precisava compreender quão
COVARDE ele era diante das ameaças de Jezabel, a
mesma que nunca tivera poder em encontrá-lo ou fazer qualquer mal a ele.
SIMÃO PRECISAVA NASCER DE NOVO!
Ter um
novo orgulho, o de ser HUMILDE e SERVIÇAL.
Ter
uma nova religião, RELACIONAR-SE com a pessoa de Cristo.
Usar
os RITOS religiosos para lembrá-lo de Deus, de Seu amor e poder.
Ter o COMPORTAMENTO
certo: andar com Deus, relacionar-se com próximo, amar os inimigos, cuidar dos
necessitados, e viver em paz consigo mesmo.
Este
era o NOVO NASCIMENTO que ele tanto precisava, mas tinha tanto mesmo de
vive-lo.
EXEMPLO DOS CORAJOSOS QUE ASSUMIRAM A VERDADE A SEU RESPEITO
Deus
usou a história que o profeta Natã contou para dizer a DAVI que ele gostava de
sexo com dominação do outro. Foi o que ele fez com Bate-Seba.
Davi confessou, não o seu pecado, mas quem ele era, a tal ponto que pediu que
Deus: “Cria em mim um coração puro!” Ele queria ser novo.
Deus
usou o tempo da maturidade para mostrar a SALOMÃO que todos os seus dons e
capacidades bem como suas realizações como rei eram dominados pela
sensualidade. Ele arrependeu-se e para testificar disso a outros escreveu o
livro de Eclesiastes.
Deus
usou o profeta Daniel para revelar a NABUCODONOSOR que a única e pobre
expressão de sua vida era o poder e a glória política. Como ele não se
arrependeu, tornou-se louco, vivendo com os animais e comportando-se como um
deles por alguns anos. Quando finalmente arrependeu-se, Deus o perdoou
restaurando-o à sua antiga posição.
Deus
usou a prisão e o cativeiro para mostrar ao rei MANASSÉS que todos
os seus relacionamentos era dominados por violência.
APELO
Pare de evitar o que Deus tem para dizer a
você, sobre Ele, mas principalmente sobre você mesmo. Assim você receberá a
nova vida!
Numa clínica
de doenças venéreas em Paris, MICHELE, uma enfermeira já passada dos cinquenta,
com um rosto extraordinariamente alegre e risonho, acabara de colher uma
amostra de sangue de uma jovem sifilítica, e lhe prometia uma rápida
recuperação.
“Com a
vida que levo, não vou demorar a ter uma recaída”, retrucou a paciente. “Mas
como é que uma mulher pode largar esta vida de rua? Você não sabe como é duro.”
Michele virou-se para ocultar a sua emoção. “Oh, sim, eu sei”, pensou, pois ela
também havia sido uma prostituta, além de assaltante e alcoólatra. Michele
contou a sua história num livro que já vendeu 58 mil exemplares, e já deu
várias conferências a respeito. Com isso, ela tentou provar às infelizes
mulheres de rua que a prostituição não é uma viagem sem volta.
Michele
nasceu de uma família pobre, nos subúrbios de Paris. Desde que se lembra, ela,
sua irmã e dois irmãos assistiam aos espancamentos que a mãe recebia do pai
alcoólatra.
“Agora
consigo ver”, escreveu em seu livro, “a mesa virada, e o meu irmão mais novo me
escondendo por trás do tampo lateral para me salvar das pancadas. Quando meu
pai saía de casa de manhã, era um alívio.” Finalmente, sua mãe morreu em
consequência das brutalidades do marido, e o ódio alimentado por Michele contra
o pai transformou-se num desprezo por todos os homens.
Aos 15
anos, a garota dormia sob as pontes de Paris e roubava para sobreviver. Então,
uma noite, em seu refúgio num barracão perto da Porte d'Ivry,
uma jovem se dirigiu a ela com simpatia, ofereceu-lhe um quarto no Boulevard de
la Chapelle e um emprego
como garçonete num bar.
A
garota nunca havia possuído um quarto para si própria, com água e luz elétrica.
Além disso, segundo parecia, sua amiga Suzanne desmanchava-se em atenções para
com ela. Um dia apresentou-a a um homem chamado Mimile,
quarentão e adulador, que convidou as duas para jantar num restaurante. Michele
estava caminhando sobre nuvens. E deixou-se levar pela boa comida e pelo vinho.
Ela
estava prisioneira num bordel. Os dias que se seguiram foram de pesadelo. “Lembrei-me”,
conta ela, “dos vizinhos do bairro onde eu morava, e que costumavam dizer: Você
vai acabar na sarjeta!' Bem, era lá que eu tinha acabado.”
No fim
da primavera de 1940, quando os seus clientes já não eram franceses, mas sim
alemães, - disseram para Michele que a França havia perdido a guerra. Envolvida
numa tentativa gorada para assaltar uma joalharia, ela conseguiu iludir a
polícia e convenceu um oficial alemão a arranjar-lhe um passaporte para a
Alemanha.
Trabalhou
como criada num restaurante perto de Stuttgart e passava suas noites num campo
de prisioneiros das proximidades, no qual, em troca de certos favores, era
introduzida por um soldado alemão. “Entretanto”, declara ela, “lá bem no fundo
de mim havia uma voz que bradava pelo meu desejo de ter outra vida.”
Uma
noite, no restaurante, encontrou quatro franceses que haviam sido recrutados
pelo S.T.O. (Serviço de Trabalho Obrigatório - Uma instituição criada pelo
governo de Vichy a favor dos alemães, para organizar o envio de mão-de-obra forçada
pаrа as fábricas alemãs.) Adotando-a num
espírito fraternal, eles lhe contaram quais eram as suas atividades
subterrâneas - ajudar prisioneiros a escapar e fornecer aos Aliados informações
sobre a fábrica de aviões onde trabalhavam. Pela primeira vez, Michele sentiu
que alguém estava confiando nela.
Um
sábado, ela perdeu o último trem, e um dos rapazes, Jacques, convidou-a para
ficar na casa dele. Teria ela errado ao pensar que os
quatro estavam oferecendo apenas amizade? Será que este também mostraria ser
igual aos outros? Entretanto, para sua surpresa, assim que ficaram a sós,
Jacques tirou da sua mala uma batina e um crucifixo e disse-lhe que era padre.
Ao ver que ela não havia compreendido - pois nada sabia de religião - ele lhe
explicou o significado daquilo.
À
medida que os dias passavam, ela se deslumbrava cada vez mais com os presentes
que estava recebendo - amizade, confiança, fraternidade. Não, felizmente para a
humanidade, nem todos os homens eram iguais.
“Mesmo
de pois de ficarem sabendo quem eu era, os meus amigos não me condenaram”,
conta ela. “Até acreditaram que eu podia me tornar uma mulher como as outras.”
Eles
lhe ofereceram trabalho numa creche improvisada, criada para os filhos dos
prisioneiros franceses. Ali, trocando fraldas de bebês, ela finalmente começou
a sentir-se útil e a pensar que podia esquecer o seu terrível passado.
Mas o
fim da guerra uma vez mais a lançou no abismo da solidão. Os amigos se
separaram. Em Paris, quase inconscientemente, ela se viu de volta à Rue
Saint-Denis, de volta à prostituição. Dentro de três semanas, sua saúde chegou
a um estado crítico e, no hospital, disseram-lhe que tinha uma séria infecção
pulmonar.
Entre
lances de delírio, ela se lembrou de um amigo em Stuttgart, chamado François, e
escreveu-lhe pedindo auxílio.
François
veio imediatamente e deu um jeito para que Michele fosse viver no Jura, com uma
família do interior, durante seis meses. Mas agora ela sabia que nunca poderia
vencer sozinha, sem um auxílio constante.
Resolveu
ir falar com o padre da cidade. Por coincidência, ele estava em contato com um
bretão, o padre André Talvas, que tinha acabado de
inaugurar Le Nid (O Ninho), um lar dedicado à reabilitação de prostitutas. “Gostaria
de vir para cá?”, perguntou o Padre Talvas a Michele.
Em Fontenay (Hauts-de-Seine), Michele.
tornou-se uma das garotas, num grupo de cinco, que tentavam romper com a
prostituição. Aprendeu a tolerar o trabalho regular - fabricando chinelos na
oficina de Le Nid - e em breve foram-lhe confiadas responsabilidades básicas
(limpeza, cozinha, recados). Um grupo de quatro auxiliares de Le Nid a
estimulava e tentava fazer com que ela reestabelecesse os laços familiares.
Eufórica, renovou as ligações com os seus irmãos Jean e Marcel.
Em
1948, após uma longa convalescença na Normandia, Michele, finalmente em paz
consigo própria, sentiu-se suficientemente forte para começar a ajudar os
outros. Associou-se ao quadro do pessoal de Le Nid, ensinando aos novos membros
as normas da instituição, as habilidades da costura e da cozinha, Para não perder o contato com o mundo exterior, ia a Paris
duas tardes por semana para trabalhar como mulher de limpeza.
Mas Michele
vacilou mais uma vez. Um dia, ao fim da tarde, num passeio a pé pelos Champs-Elysées, permitiu-se entrar em discussão com um homem.
Foram depois para um bar e, embora ela tivesse abandonado o álcool, resolveu
pedir um conhaque. Depois de alguns drinques, tudo se enevoou. O despertar foi
brutal: encontrava-se numa cama, ao lado do seu companheiro fortuito. Na
verdade, ele não lhe havia oferecido qualquer dinheiro, mas ela se sentia
terrivelmente humilhada.
“Pulei
da cama e vesti-me”, diz ela. “Às cinco da manhã encontrava-me na rua, chorando
aos soluços. Estava tão envergonhada!”
Como
uma sonâmbula, viu-se de repente à porta do Padre Talvas.
“Estive à sua espera”, ele disse.
Por
volta de 1953, a jovem já se havia elevado à categoria de líder de grupo num
movimento juvenil de um subúrbio de Paris. Daí, foi promovida à importante
função de operadora telefônica em Le Nid.
Michele
queria, entretanto, a todo o custo, aprender uma profissão que a tornasse
independente. Já próxima dos 40 anos de idade, ela começou a estudar para obter
o seu diploma do curso ginasial, trabalhando em meio expediente como
telefonista. Em seguida, aprendeu álgebra e direito, а fim de poder
entrar para a escola de Beneficência Social dos Trabalhadores, onde passou a
trabalhar junto com garotas que tinham idade para ser suas filhas. Ao realizar
estágios em hospitais de Paris, ela descobriu a sua verdadeira vocação:
enfermagem. “Eu descobri que os pacientes necessitavam de uma presença
simpática que os ajudasse a se recuperarem. Eles estavam à minha espera. Eu
podia lhes trazer alívio, e até fazê-los rir!” Entrou para a Escola de
Enfermagem e, graças à sua aplicação aos estudos, obteve o diploma em 1963.
Michele
estava finalmente em posição de mostrar o que podia fazer. As irmãs da Ordem da
Assunção, num superpopuloso bairro de um subúrbio de Paris, necessitavam de uma
enfermeira, e ela se apresentou como candidata. Todas as manhãs, percorria
dezenas de quilômetros em sua moto e subia centenas de degraus. A uma mulher
espancada pelo marido alcoólatra, ela segredou: “Sabe que ele pode ser curado?”
E em seguida tratou de alojar o homem aos cuidados de um grupo da Vie Libre,
uma instituição antialcoólica.
Em
1966, foi nomeada diretora do serviço de beneficência do seu bairro, onde
poderia aplicar os meios e a eficiência de uma organização oficial ao serviço
dos menos privilegiados.
Finalmente
redimida, Michele estava agora decidida a utilizar a sua experiência para
ajudar os outros. Já em 1958, o Padre Talvas lhe
havia pedido que participasse de um programa de televisão sobre a prostituição,
e contasse diretamente para o público a sua história. Entre 1968 e 1972, ela
realizou cerca de 50 conferências por toda a França. A 9 de março de 1972, mais
de cinco mil pessoas foram ouvi-la no salão da Mutualité,
em Paris.
Incansavelmente,
Michele explicou que a prostituição não é um beco sem saída. Nenhuma mulher
nasce prostituta; mas torna-se uma prostituta, empurrada para tal por
motivações profundas, como a falta de afeto dos pais, a solidão e a ausência de
qualquer experiência profissional.
Ela
também atacou a aplicação inadequada das leis contra a exploração da
prostituição e exigiu mais centros baseados no modelo de Le Nid. Para os
céticos, ela resumiu os resultados de Le Nid: em mais de três mil mulheres que
o centro auxiliou nos últimos 30 anos, 60% a 70% conseguiram edificar novas
vidas para si próprias.
“Gostaria
que todo mundo soubesse”, repetia constantemente, “que nós, mulheres da vida,
não estamos perdidas para sempre. Mas a sociedade nos deve dar a oportunidade
de viver como toda a gente.”
Agora,
depois de ter escrito o seu livro, Michele acha que cumpriu a sua missão como
um exemplo, e devota-se com toda a energia a ajudar os doentes de uma maneira
direta.
Todos
os dias, na clínica de doenças venéreas, ela trata de cerca de 150 pessoas, das
quais 60% são jovens. No seu bairro, ela dirige um grupo de solidariedade, que
tenta aliviar as misérias da vizinhança. Isabelle, uma ex-prostituta
que se tornou fisioterapeuta, faz parte do grupo, tal como Roger, um viciado em
drogas reabilitado, além de Pierre, ex-presidiário.
Pelo menos uma vez por mês, Michele trabalha com um grupo da Vie Libre; ela própria
fez um voto de abstinência.
Apesar
de toda a infelicidade que conheceu, Michele nunca se mostra amarga. “Não
lamento absolutamente nada”, contou-me ela. “Se não tivesse percorrido um
caminho tão longo, talvez nunca tivesse me encontrado com os outros. E a
alegria que eles me trouxeram suavizou todas as minhas infelizes memórias e
reforçou a minha esperança de que nada está jamais perdido.”
Marcelo Augusto de Carvalho 4 de
julho de 2025 Artur Nogueira SP
24
CONSULTE O PASSADO, MAS VIVA O PRESENTE
Marcelo
Augusto de Carvalho
GÊNESIS
33.1-4 – Jacó
PRESO NO PASSADO
REJEIÇÃO – Jacó havia sido rejeitado por seu
pai. Isaque idolatrava Esaú, o filho mais velho, por suas habilidades
intrépidas de caçador e ignorava Jacó por ser pacato e sensível, como ele. Por
não resolver esse desprezo, ele o guarda em seu inconsciente para repetir o que
mais o machucou na educação de seus filhos, preferindo José, e desprezando os
demais filhos.
ADULAÇÃO – numa família disfuncional, tudo
tende a ser desproporcional, tanto a rejeição quanto o amor. O pai rejeita Jacó
por um motivo infantil, a mãe o acolhe e o ama por compaixão, mas o cerca de
tantos mimos e proteção que ele passa a usá-la como arrimo emocional. Entra em
um ciclo vicioso de dependência que quando a mãe o ordena a vestir-se como o irmão
para roubar a benção ele não tem forças para dizer não a ela.
IDENTIFICAÇÃO PATOLÓGICA – numa tentativa
inconsciente e desesperada para ter a valorização do pai Jacó faz do maior
sonho do pai, a primogenitura, o seu objetivo de vida. E para consegui-la,
abusa da necessidade do irmão, a fome depois de ir caçar, e extorque dele a
venda da primogenitura. Acha que deu certo, mas ninguém reconhece tal compra.
Então aceita enganar o pai e o irmão da forma mais sorrateira possível. Nem
assim o pai o ama por isto!
PARE DE VIVER NO PASSADO
Nosso
INCONSCIENTE guarda tudo o que passamos e tudo o que sentimos diante desses
eventos, criando PRINCÍPIOS pelos quais analisaremos nossa vida e pelos quais
tomaremos nossas decisões diárias.
Precisamos
examinar esses PRINCÍPIOS estabelecidos para podermos ser livres de fato para
desenvolvermos novas CONVICÇÕES necessárias em nosso presente.
Quem se prende ao seu passado, fatalmente o
REPETE!
É
sempre melhor poder escolher viver pelas NOVAS CONVICÇÕES, nascidas de nosso
crescimento, do que repetir o que nos desalentou no passado.
O PREÇO DE SE VIVER NO PASSADO
ISRAEL
NO DESERTO – saíram do Egito de forma miraculosa, mas o Egito nunca saiu deles.
Diante de cada falta ou insegurança, voltavam às memórias do passado. O pior
era que eram memórias falsas, deformadas pela imaginação de um inconsciente
doentio. Eles foram escravos por séculos. Por pior que fosse o deserto, eram
livres, e Deus cuidava deles em cada situação. Mas como decidiram viver do
passado, toda aquela geração teve que morrer no deserto, sem entrarem para
desfrutar a terra que mana leite e mel.
ABSALÃO
– usou os erros de seu pai, no passado, para justificar seu direito ao trono. Isto
não o ajudou em nada. Como decidiu mirar no passado, tornou-se adúltero,
assassino, ladrão e enganador, muito pior do que seu pai, caindo rapidamente em
desgraça e morte.
EZEQUIAS
– usou suas virtudes, boas ações e escolhas fiéis do passado para justificar
que ele merecia a cura de sua grave doença. Deus o atendeu, apenas para nos
mostrar que nem a FIDELIDADE a Ele deve viver do passado. Naqueles 15 anos a
mais que recebeu, Ezequias cometeu seus piores erros, abrindo os cofres de
Jerusalém ao conhecimento dos babilônicos e ainda educando pessimamente seu
filho Manassés, que seguramente tornou o rei mais violento de Judá.
CONSULTE O PASSADO, MAS CONSTRUA SEU PRESENTE
MOISÉS
tinha medo de voltar ao Egito. Ele tinha um cadáver nas costas, aquele egípcio
que ele matara para defender o hebreu. Diante da sarça ardente, Deus o chamou
para viver a missão de sua vida, e para resolver seu medo do passado, disse-lhe
que seus perseguidores já haviam morrido, e que ele podia viver o presente em
plenitude de espírito.
GIDEÃO
olhava o passado glorioso de Israel com alegria, mas via o presente com
amargura e decepção. Deus o encontrou no lagar e disse para que ele que se
estivesse disposto no presente seria usado poderosamente para livrar os hebreus
de seus piores inimigos.
SANSÃO
foi capturado, cegado e humilhado. Olhava para seu passado depravado com vergonha
e arrependimento. Mesmo cego decidiu olhar o presente e pediu a Deus a chance
de vingar seus inimigos para finalmente honrar a Deus como o Criador merece.
Deus lhe concedeu a força que ele precisava para isto. Morreu, mas libertou
Israel, descansando salvo em Cristo!
A SOLUÇÃO DE DEUS PARA JACÓ
Não
foi “Denuncie”, “Processe”, “Odeie”, “Persiga”. Isso tem o seu lugar, mas
depois de feito, voltamos à vida diária, e o que temos? O que somos?
RECONHEÇA
quem você é: suas emoções e sua forma de ser.
RESTABELEÇA
seus relacionamentos rompidos ou mal resolvidos.
PERDOE
você por seus sentimentos e erros praticados. Perdoe seu irmão pela rivalidade
expressa. Perdoe seu pai pelo comportamento alterado. Perdoe sua mãe pela
ausência ou pela conivência.
ORE
por seus inimigos. Mateus 5.38-44.
VOLTE
à sua terra, para se analisar, compreender o que há dentro de você e dentro dos
seus queridos.
RECONSTRUA
sua história quebrando os ciclos familiares de destruição e morte.
APRENDA
novas e melhores crenças, e armazene-as em seu Inconsciente. Construa NOVOS
RELACIONAMENTOS com pessoas com as quais você possa ter o que te faltou no
passado!
APELO
Consulte
seu passado, mas não fique lá. Viva seu presente pelo poder que há em Cristo!
VOLTA AO PASSADO - Por
HALLIE SCOTT
Começou
com um dente perdido... e acabou numa descoberta inesperada
Um dia
pela manhã, no ano passado, minha filha Laurel desceu as escadas com um vestido
de seda rosa, sapatos de plástico vermelhos de salto alto e cintilantes asas
multicoloridas. Trazia uma varinha na mão. "Você acha que a fada dos
dentes vem hoje à noite?", perguntou, referindo-se à tradição de colocar
dinheiro sob o travesseiro da criança, em "troca" do dente que ela
perdeu. O sorriso desfalcado mostrava que ela esperava, ansiosa, essa visita
mágica.
A fada
dos dentes nunca apareceu na minha infância. Mas, no ano anterior, comecei uma
série de consultas ao dentista que me trouxeram recordações enterradas havia
muito. Tudo começou num exame em que, para minha surpresa, fui informada de que
teria de extrair um dente.
Era um
problema de reabsorção, distúrbio que faz com que o dente se fragmente e se
dissolva. Por fora parece são, mas por dentro está doente. Ninguém sabe o que
causa a reabsorção, disse-me o dentista, mas muitas vezes o problema está
associado a um traumatismo, podendo manifestar-se anos mais tarde. “Você
machucou o dente quando era criança?”, perguntou ele.
Lembrei-me
de um incidente durante um jogo de beisebol, quando tinha uns 12 anos. Eu, de
pé no campo, levantando as mãos e vendo a bola vir na minha a bola vir na minha
direção.
Foi o
que contei e ele. E não pensei mais a respeito até visitar meu irmão, semanas
depois, com um dente provisório na boca. “Esse seu problema foi causado por um
traumatismo?”, perguntou meu irmão, arregalando os olhos.
Sua
expressão assustada trouxe-me a recordação: lábios rachados, batom
cor-de-laranja, a boca aberta enquanto a mão direita atinge meu maxilar. Não
sei quantas vezes minha mãe me bateu. Numa ocasião chegou a me cuspir.
Depois
do divórcio de meus pais, passei a adolescência tomando conta de meu irmão. Nós
nos acostumamos a ver mamãe berrando do alto da escada. Certa madrugada,
acordei e a encontrei junto de mim, na minha cama, abrindo e fechando uma
tesoura. “Que tal eu cortar todo o seu cabelo?”, disse ela. Depois disso passei
a fazer uma barricada na minha porta à noite.
Os
médicos que a trataram nunca me disseram o diagnóstico, tampouco a ajudaram a
escapar do mundo apavorante que habitava.
Em
1979, quando completei 18 anos, meu pai entrou com um pedido da guarda de meu
irmão. Ele ganhou a ação duas semanas antes de eu partir para a universidade.
Desde então, só vi minha mãe uma vez.
Parentes
me disseram que ela mora num condomínio para aposentados.
Como
adulta lutei contra o legado de minha mãe.
- Ela
não era realmente mãe para mim – eu disse uma vez a um psicólogo. – Não cuidava
de mim como mãe.
- Mas
era sua mãe - insistiu ele.
- Não
era, não. - Eu sabia que soava ridículo, mas não podia evitar. Não queria
reconhecer nenhum vínculo com ela.
- Era,
sim - afirmou ele, com delicadeza.
Havia
décadas que ela me batera. Por que meu dente esperou tanto para morrer?
Descobri
que fazer um implante dentário é um processo demorado, como ter um bebê. São
necessárias várias consultas. Cada vez que eu me sentava na cadeira do
dentista, ficava pensando por que não me dera conta da verdadeira causa da reabsorção.
Eu não mentira ao dentista de propósito; no entanto, minha mente se agarrara a
um meio de proteção: o esquecimento.
Existe
a memória consciente e a memória corporal. Meu corpo não me deixava esquecer.
Mas pensar em minha mãe me fazia querer esconder essas recordações debaixo de
um travesseiro, para que ninguém as visse.
Quando
me casei, a questão de ter filhos me preocupava muito. Eu me perguntava se o
ato de dar à luz e cuidar de meus filhos não me levaria a perder o controle,
tal qual minha mãe. Se eu realmente saberia ser mãe, com o modelo que tivera.
Será que toda a tristeza e o terror que eu sentira passariam para meus filhos,
tornando-se parte de sua natureza?
Esses
temores voltaram na noite em que Laurel foi se deitar, aguardando a fada dos
dentes. Entrei em seu quarto na ponta dos pés, para colocar moedas debaixo de
seu travesseiro, e me demorei um instante, olhando o corpinho esguio relaxado
no sono, o rosto que combinava duas famílias numa só. Apesar do receio de
despertá-la, não resisti e toquei-lhe os cabelos compridos.
Fiquei
ali sentada ao lado dela, alisando aquelas mechas sedosas. E aos poucos foi
tomando conta de mim a consciência de que meus filhos também terão memórias
corporais. Em algum lugar recôndito, meu filho vai guardar a lembrança de
minhas mãos segurando-o com firmeza na banheira, deixando-o brincar e espalhar
a água sem medo. Minha filha vai lembrar-se da brisa em seu rosto quando ela
pulava de alegria em nosso jardim e eu girava de mãos dadas com ela.
Esses
atos de ternura e amor rompem o ciclo antigo e iniciam um novo. Coloquei minhas
recordações debaixo do travesseiro. Em seu lugar foi deixada uma dadiva: a
certeza de que mil beijos de boa noite ficar do guardados nos ossos de meus
filhos.
Marcelo Augusto de Carvalho 5 de
julho de 2025 Artur Nogueira SP
25
A ÚNICA FORMA DE NÃO CRESCER
Marcelo
Augusto de Carvalho
ATOS 9
– Saulo.
AS CRENÇAS DE SAULO (PAULO)
Nasceu para crescer. Com uma mente
privilegiada, foi desde pequeno preparado para ser o maior rabino de Israel. E
ele correspondeu ao investimento.
Mas...ele pensava assim: para crescer controlo
tudo. Assim evito problemas, sim, as pessoas que me incomodam!
Mas as pessoas, os outros, é tudo o que
precisamos ter nessa vida. É deles que virá o verdadeiro conhecimento que
precisamos, pois só com as pessoas temos as informações aliadas à conexão
emocional que tonar o conhecer uma experiência edificante e humana.
Por isto, jamais deveríamos evitá-las.
PESSOAS ORGULHOSAS DEMAIS PARA PEDIREM AJUDA
O LADRÃO NA CRUZ – quando Cristo foi
crucificado, os 2 ladrões praguejavam sobre Ele. Um, percebendo seu erro,
arrependeu-se e pediu para que o Salvador lembrasse dele em seu reino. Seu
humilde pedido foi aceito e confirmado. Já o outro ladrão, mesmo diante de
todas as evidências da divindade de Cristo em meio a atrocidade de uma crucifixão,
mesmo com o testemunho da decisão do colega, e sem nenhum motivo para se
orgulhar naquele momento, ele preferiu rejeitar a Cristo, morrendo perdido!
OS DEZ ESPIAS – nasceram, cresceram e
passaram a liderar em Israel sendo escravos no Egito. Sofreram tudo o que a
escravidão pode pesar na vida de um ser humano. Mas viram as 10 pragas e o modo
maravilhoso como Deus libertou Seu povo. Por 2 anos viram como Deus manteve de
forma poderosa uma nação inteira andando pelo deserto. Mas quando foram espiar
a terra de Canaã preferiram descrer das promessas de Deus a Seu povo. Trocaram
o cuidado e a intimidade divina pela distância e incredulidade aquele que
mantém o Universo!
ACÃ – mesmo depois de presenciar tantos
milagres de Deus por Seu povo, e saber da ordem clara de que nenhum israelita
poderia pegar para si qualquer coisa da cidade de Jericó, Acã
escolheu o dinheiro, os objetos preciosos, uma capa caríssima do que depender
de Deus, do que andar com Ele pela fé.
QUAL É O RESULTADO DO ORGULHO EM NOSSA VIDA?
CONSTRUTORES DE BABEL – quiseram usar as
pessoas de seu tempo para celebrizar seu nome para sempre. Deus não permitiu
esse comportamento funesto. Foram confundidos em sua língua, espalhados pelo
mundo e esquecidos pela história humana.
CAIM – quis dominar seu irmão. Não
conseguindo, matou-o por motivo leviano. Teve que separar-se de seus pais,
viver como fugitivo, e viver de forma errante pela Terra.
FARAÓ – além de manter a escravatura sobre
Israel, foi tornando cada vez mais pesado o fardo de trabalho dos hebreus.
Tentou evitar o contato com Moisés e com Arão, os servos de Deus, para nunca
ter que se relacionar com o Deus Criador. Recebeu as 10 pragas e como resultado
foi exposto, humilhado, perdeu o filho na décima praga, e finalmente destruído
nas águas do Mar Vermelho.
EVITAMOS OS OUTROS PARA NÃO PRECISARMOS CRESCER
SAULO – tentou evitar a Igreja cristã para
não precisar crescer em sua compreensão sobre o Messias.
JOSÉ – tentou evitar sua futura cônjuge, Maria,
para não passar pela vergonha de aparentemente ser traído por ela durante o
noivado.
ISAQUE – tentou evitar o filho, Jacó, porque
não queria aprender a amar um filho diferente do que ele havia planejado amar.
IRMÃOS DE JOSÉ – tentaram evitar o irmão
melhor do que eles, José, porque não queriam aprender a serem obediente ao pai
e a Deus.
JUDÁ – tentou evitar a nora, Tamar, porque
ele não queria enxergar que havia criado tão mal seus filhos que eles foram
mortes por Deus.
PEDRO – tentou evitar seus colegas, os
discípulos, dizendo que eles poderiam negar a Cristo, mas jamais ele.
FARISEUS – evitavam os pecadores, publicanos,
prostitutas porque não queriam aprender com eles o que há na natureza humana e
como superar nossas dificuldades pessoais.
PESSOAS CRESCEM CONVIVENDO COM PESSOAS
SAULO – tentou evitar a Igreja, mas por
conviver com ela tornou-se o cristão com maior influência sobre o mundo, por
meio de seus escritos e seu trabalho em favor dela.
RUTE – cresceu convivendo com sua sogra, Noemi,
tornando-se uma fiel adoradora de Jeová, um exemplo de devoção estrangeira a
Israel, a bisavó do maior rei de Israel, Davi, e uma das precursoras de Jesus.
DAVI – cresceu tendo que conviver com seu
inimigo Saul, preparando-se para ser o futuro rei de Israel.
CRESCER, COM QUEM ENTÃO?
CÔNJUGE – com este nós aprendemos a ter
intimidade e cumplicidade.
FILHOS – com eles aprendemos amar sem
limites.
IGREJA – com nossos irmãos de fé aprendemos a
dividir as mesmas crenças.
COLEGAS – aprendemos a cooperar para um fim
maior.
Enfim, crescer significa ter CRENÇAS NOVAS,
seguramente PENSAMENTOS DIFERENTES, e acima de tudo, RELAÇÕES MELHORES.
APELO – 2 Coríntios 12.9
Aceite
que, para crescer, você não pode fazer tudo sozinho!
Assuma que
para ter força espiritual, é preciso ter contato com sua fraqueza.
E que
para entender-se é impossível fazê-lo sozinho. Precisamos da ajuda dos outros.
De Deus e de nosso próximo.
Isto
só é possível se nos abrimos, se nos revelamos aos
outros. Nossas crenças mais profundas, e que nos atrapalham a vida estão fora
do alcance de nossa visão. Precisamos que os outros nos revelem para que
façamos as devidas mudanças.
Que a
melhor maneira de conseguir isto é pedir a ajuda dos outros.
E que
esta necessidade nunca é um sinal de fraqueza, mas nossa maior força.
Joe Cabuk era o tipo de piloto que fazia os passageiros se
sentirem em boas mãos. Coronel da Força Aérea, 67 anos, pilotara caças F-100 no
Vietnã, comandara uma esquadrilha de caças na Inglaterra e fora vice-diretor de
operações da Otan na Itália. Depois da reforma, em 1989, voltou para o Estado
americano da Louisiana, onde nascera, e passou 20 anos pilotando voos fretados
no Aeroporto Regional Monroe. De cabeça branca e postura ereta, era pai de dois
filhos adultos, diácono da igreja batista e nunca corria riscos com seu avião.
Por
volta de uma e meia da tarde do Domingo de Páscoa deste ano, Cabuk estava nos controles de um Beechcraft
King Air 200, de seis lugares, informando os itens da lista de verificação
depois de ter decolado de Naples, na Flórida: "Yaw damper, ligado. Potência de
subida, ajustada. Hélices a 1.900 rpm." Em sua companhia, no assento do
copiloto, estava o dono do avião, o empresário da construção civil Doug White.
A mulher de White, Terri, e as duas filhas adolescentes aconchegavam-se sob cobertores
na área dos passageiros, na esperança de ler e cochilar durante o voo de três
horas para casa.
White,
56 anos, acalmou-se com o recitar cuidadoso de Cabuk.
Fora uma semana difícil. No sábado anterior, o irmão do empresário, 53 anos,
morador de Naples, tivera um infarto e morrera. White
e a família, que moravam na cidadezinha rural de Archibald, na Louisiana,
tinham ido à Flórida para o funeral. Agora, Cabuk
levava os quatro de volta ao Oeste.
"Vamos
ter um pouco de turbulência quando passarmos por essas nuvens", avisou Cabuk, e começou a ligação de rotina para os controladores
de tráfego aéreo de Miami, usando o número N559DW, identificação do avião na
FAA, órgão federal de controle da aviação comercial americana: "Centro de
Miami, King Air CincoCinco-Nove-Delta-Whiskey..."
De repente, a sua voz sumiu e a cabeça pendeu sobre o peito.
White
deu um tapinha no ombro do piloto e o chamou pelo
nome. Cabuk ergueu a cabeça e soltou um longo gemido.
Depois, os olhos rolaram nas órbitas e ele ficou imóvel.
White
virou-se e gritou para sua mulher:
-
Terri, venha cá! Estou com um problema. Quando ela viu Cabuk
caído na poltrona, agarrou-lhe o braço e tentou sacudi-lo.
- Não
adianta - disse White, depois de alguns segundos, ao perceber a terrível
verdade. - Ele está morto.
Na
cabine, Maggie, 18 anos, caloura na Universidade do Estado da Louisiana, e a
irmã Bailey, 16, que cursava o segundo ano do
secundário, começaram a tremer. O avião estava 1.500 metros acima do solo,
subindo numa velocidade de 600 metros por minuto. Ninguém a bordo sabia fazê-lo
pousar com segurança.
Doug White
tinha brevê de piloto, mas pouca experiência. Em 1990, fizera horas de voo
suficientes para a prova num Cessna 172, monomotor minúsculo projetado para
iniciantes. Só voara sozinho uma vez, depois abandonara o passatempo. White era
assim: inquieto e curioso, disposto a aceitar desafios, e a buscar outro assim
que vencia um. Dezoito anos mais tarde, comprara o King Air usado, como
investimento, a fim de alugá-lo ao Aeroporto Monroe para voos fretados. Ser
dono do avião fez com que voltasse a se interessar pela pilotagem, e cumpriu
mais algumas horas de voo em pequenos Cessnas. Mas
aqueles eram aviões bem básicos, com velocidade de cruzeiro de uns 100 nós
(cerca de 185 km/h).
Em
comparação, o King Air era complicadíssimo: bimotor turbo-hélice,
três vezes mais veloz e cinco vezes mais pesado do que todos os aparelhos que
White já pilotara, com o painel de instrumentos cheio de mostradores e соmandos desconhecidos. O único que ele sabia
operar era o rádio; da última vez que estivera a bordo, perguntara ao piloto
como funcionava.
Agora,
o avião voava no piloto automático, sistema que White nunca usara. Estava
regulado para 3 mil metros de altitude, mas, como Cabuk
ainda não havia apertado todos os botões, o avião continuou subindo depois de
ultrapassar esse limite. White sabia que, se o avião subisse muito além dos 10
mil metros, perderia a sustentação no ar e despencaria em parafuso.
Um
temor mais urgente era que Cabuk caísse sobre os
controles.
-
Tire-o daqui! - gritou White para Terri.
Ela
chamou Maggie, mas não havia espaço na cabine para que as duas se segurassem.
Terri lutou para erguer sozinha o corpo de Cabuk, mas
desistiu e apertou bem o cinto de segurança a fim de mantê-lo preso no lugar.
-
Volte para lá e reze o quanto puder - disse-lhe White. Terri o beijou no rosto
e falou:
- Você
vai conseguir.
Em
seguida, voltou à cabine e abraçou as meninas. Depois de consolar Maggie, que,
cheia de medo, vomitara, fez o que o marido pedira. Sobrevivera a um câncer
havia quatro anos. Senhor, pensou, se a minha hora de morrer chegou, tudo bem.
Mas minha sogra já enterrou um filho esta semana. Por favor, não lhe dê mais
razões para chorar.
White
pegou o rádio.
-
Miami - disse -, tenho uma emergência. O meu piloto está inconsciente. Preciso
de ajuda aqui em cima!
Nate Henkels, de 30 anos, sentado diante de uma tela de radar
que cobria uma faixa do espaço aéreo da Flórida, recebeu o chamado no Centro de
Controle de Tráfego Aéreo de Miami.
- O
senhor é piloto? - perguntou ele, um dos 97 controladores de plantão naquele
dia.
- Com
pouca experiência e só em monomotores. Preciso falar com um piloto de King Air.
Henkels se
assustou; embora houvesse passageiros que pousavam aviões quando o piloto
ficava incapacitado, poucos aparelhos eram tão grandes e complexos quanto
aquele. Depois de avisar os supervisores do problema de White, Henkels o instruiu a manter a altitude de 3.600 metros,
mas, por ter pouca experiência, não sabia explicar a White o que fazer. Durante
seis minutos, enquanto Henkels controlava a dezena de
aviões naquele setor, o King Air continuou ganhando altitude.
-
Preciso parar de subir - disse White. - Fique comigo.
-
Estou aqui - respondeu Henkels, lutando contra o
próprio medo. - Não se preocupe. Estou tentando encontrar uma solução.
Nisso,
chegou um supervisor trazendo Lisa Grimm, que se ajoelhou ao lado de Henkels e ligou o fone de ouvido no painel do radar. Com 31
anos, ela já pilotara Learjets e trabalhara como
instrutora de voo antes de se tornar controladora; embora só tivesse pilotado
um King Air uma vez durante duas horas, conseguiu explicar a White como
desligar o piloto automático.
Antes
disso, o avião já chegara aos 5.300 metros de altitude.
"Agora
vamos começar uma descida lenta e suave", disse Lisa, com voz calma.
"Puxe devagar a manete para trás e solte o manche suavemente."
O
"suavemente" é que foi difícil. Mesmo em condições normais, mudar
manualmente a direção de um King Air exige mais força do que White estava
acostumado. Mas, com os outros controles do avião ainda ajustados para subir,
para mover o leme ele teve de usar toda a sua força. Lembrou-se do compensador,
que ajusta o fluxo de ar para aliviar a pressão nos controles principais, no
lado esquerdo do console central. Empurrando para o lado a perna de Cabuk, virou o disco, do tamanho de um pires, e conseguiu
baixar o nariz do avião.
No
centro de controle de Miami, Lisa continuava orientando White.
"Quero
que o senhor desça para 3.300 metros", disse ela. Ele tentou manter a
descida gradual, mas a velocidade e o ângulo variavam loucamente. Ao lado de
Lisa, Henkels e a colega Jessica Anaya,
26 anos, trabalhavam freneticamente para afastar do caminho os outros aviões.
Quando
o aparelho de White chegou à altitude de cruzeiro adequada, Lisa começou a
pensar no pouso. Sabia que seria difícil e que ele não poderia pousar em Miami;
a FAA exige que os aviões com problemas sejam guiados para o aeroporto mais
próximo. O supervisor já entrara em contato com o Aeroporto Internacional do
Sudoeste da Flórida, em Fort Myers.
"Daqui
a um minuto o senhor vai falar com a torre de Fort Myers para a
aproximação", informou Lisa. "Eles o ajudarão a pousar em
segurança." Ela disse a White que virasse para a esquerda, por sobre o
Golfo do México, para começar a manobra circular que 90 o colocaria na rota
correta. Quando o horizonte sumiu num borrão azul, ele só conseguiu se orientar
pelo horizonte artificial do mostrador do painel de instrumentos. Era difícil
manter constante a altitude e, ao mesmo tempo, ficar de olho no mostrador, de modo
que White regulou o piloto automático para 3.300 metros e voltou a ligá-lo, sem
prever que isso faria o avião se inclinar para a direita. Rapidamente o
desligou.
"O
senhor está indo bem", disse Lisa, e em seguida lhe explicou como passar o
rádio para a frequência de Fort Myers. White detestou interromper o contato com
Lisa; a sua voz calma era como um salva-vidas. Ela prometeu ficar de prontidão,
caso ele quisesse conversar com ela de novo.
Brian
Norton estava indo embora do centro de controle de Fort Myers quando o chefe
foi buscá-lo.
"Temos
uma emergência", disse o supervisor.
Norton,
48 anos, era um dos dois controladores com experiência de pilotagem que
trabalhavam naquela tarde, junto do recém-chegado Dan Favio,
29 anos, que estava em Fort Myers havia só dois meses. Nenhum deles pilotara um
King Air 200, mas Favio sabia de alguém que conhecia
o avião: o antigo colega Kari Sorenson, 43 anos,
piloto de empresa que ele conhecera quando trabalhava no aeroporto de Danbury, em Connecticut.
Sorenson colecionava
tragédias aéreas no seu histórico. Quando adolescente, perdera o pai, também
piloto, num acidente aéreo; o padrasto, piloto de prova de jatos particulares,
morreu em 1996, quando o voo 800 da TWA explodiu em Long
Island. Sorenson, que, entre outras razões, era
piloto em homenagem a seu pai, se dedicava a impedir novos desastres.
Quando
Norton ligou o fone no painel do radar, Favio
sentou-se ao seu lado e puxou o celular para ligar para Sorenson.
O amigo disse que desde 1995 não pilotava um King Air, mas que ainda tinha o
manual e o esquema da cabine. Com os dois na mão e o número de série do avião
de White, sentou-se ao computador de casa para verificar qual era o modelo
certo.
- Conseguimos
ajuda de outro piloto que conhece o seu avião - disse Norton a White pelo
rádio. - Está usando o piloto automático ou o controle manual?
- Eu e
o bom Deus estamos controlando este avião manualmente - respondeu White,
aliviado com a ajuda adicional. Na cabine atrás dele, Terri e as meninas ainda
estavam juntas, de mãos dadas.
-
Certo - disse Norton. - Vamos começar a levar o senhor para o aeroporto. - Ele
instruiu White a fazer uma curva de 90 graus para a esquerda. White achou que
não conseguiria, dada a velocidade da descida. Perguntou como ajustar os
controles para ficar na velocidade adequada. A sugestão de Sorenson,
que Favio passou a Norton e este a White, envolvia
ajustar um aparelho chamado indicador de curso. Mas White não sabia usá-lo e
não havia tempo para aprender. A velocidade oscilava entre 230 e 110 nós,
deixando o avião em risco de estolar, ou seja, perder a sustentação.
Finalmente,
Sorenson encontrou a solução: "Diga-lhe que
pilote o King Air como se fosse um monomotor. Todo avião é um avião."
O
conselho deu liberdade a White para confiar no instinto de piloto; enquanto
isso, os três homens em terra limitaram as instruções aos comandos mais básicos
do aparelho. Logo, White voava de forma mais regular.
Quando
o King Air chegou aos 600 metros de altitude, White avistou uma faixa cinzenta
a distância.
- Acho
que estou vendo a pista bem à frente - disse. O avião estava a menos de 25
quilômetros do aeroporto, na posição para a aproximação final. Sorenson pediu a White que reduzisse a velocidade para 160
nós, e depois baixasse o trem de pouso e os flapes.
-
Quando eu tocar o solo, é só reduzir a manete? - perguntou White.
- Isso
mesmo - disse Norton. - Reduza a manete e freio no máximo.
O
altímetro mostrou 550 metros, depois 300, depois 150. Um exército de
ambulâncias e carros do corpo de bombeiros alinhava-se ao longo da pista. Terri
e as garotas rezaram ainda mais.
-
Daqui tudo parece bem - disse Norton a White. - A
pista é toda sua.
Em
Miami, um supervisor gritou para Lisa Grimm:
- Ele
pousou!
- Como
assim? - berrou ela. – O avião está inteiro ou pegou fogo?
Em
Fort Myers, Favio saiu correndo do prédio para ver o
que acontecera. O King Air estava parado na pista, depois de um pouso perfeito.
Na torre e no centro de controle de Miami, os gritos de alegria e os tapinhas nas costas já haviam começado.
Depois
de receber do controlador em terra instruções para desligar o motor, White e a
família saíram do avião. Paramédicos tiraram Joe Cabuk
da cabine e tentaram em vão revivê-lo. Mais tarde, a autópsia confirmou que ele
morrera de infarto.
Em
casa, na Louisiana, White mandou vales-presentes para Lisa, Norton, Favio e Sorenson. Por sua vez,
eles lhe deram quase todo o crédito por fazer o King Air descer do céu são e
salvo.
"Para
nós, é uma sensação de dever cumprido", diz Sorenson.
"Mas, na verdade, foi Doug quem fez tudo. Só lhe demos as ferramentas para
realizar o serviço." Depois do incidente, durante um mês, White acordou,
por volta das três da manhã, com sonhos nítidos: estava mais uma vez no
controle de um avião que não sabia pilotar. Logo voltou às aulas de voo,
decidido a se preparar para qualquer emergência. Além da ajuda que recebeu
naquele domingo, ele acredita que havia um poder maior envolvido na salvação de
sua família.
- Deus
nos poupou para alguma outra coisa - diz ele.
- Só
espero que tenhamos juízo suficiente para reconhecer o motivo, quando ele
aparecer - acrescenta Terri.
Marcelo Augusto de Carvalho 6 de
julho de 2025 Artur Nogueira SP
26
OUVINDO O QUE ME ASSUSTA
Marcelo
Augusto de Carvalho
1
SAMUEL 28.5-7 - Saul
AS CRENÇAS DE SAUL
Filho de um fazendeiro, da menor tribo de
Israel, Benjamim.
Era alto, bonito de aparência, porte
principesco, chamava a atenção de todos.
Quando Israel pediu um rei, Deus o escolheu
porque suas características eram o que o povo tanto queria: “Um rei que vá
adiante de nós frente às nações!”
Assim que foi ungido, o Espírito de Deus
tomou conta dele. Qual foi o resultado? Procurou a Escola dos Profetas, e lá
passou a conhecer e a ser conhecido pelos outros.
Mas, assim que sentiu o PODER em suas mãos, a
LITURGIA da corte, as conquistas militares e a POLÍTICA com os fazendeiros de
sua nação e com as nações vizinhas, FECHOU-SE completamente ao crescimento
pessoal.
Saul passou à RECLUSÃO.
Não quis ouvir seus conselheiros mais
próximos.
Não quis ouvir o profeta de Deus e suas
repreensões, Samuel.
Não quis ouvir seu bravo comandante, Abner.
Não quis ouvir seu sábio filho, Jônatas.
Não quis ouvir seu mais bravo soldado, Davi.
Não quis ouvir o sumo sacerdote, Abiatar.
Ele passou a não ouvir mais ninguém porque
sabia que havia muitas coisas para melhorar, não no reino, não nos outros, mas
NELE mesmo. E isto ele não estava nenhum pouco disposto a assumir. Era
orgulhoso demais!
No fundo Saul tinha MEDO de examinar o que
existia dentro dele. Sua dor era ter que deixar as velhas CRENÇAS que por tanto
tempo ele havia construído e acalentado em seu inconsciente. Pior era pagar o
preço pelo crescimento, deixando para trás aquilo que
ilusoriamente lhe trazia tanta segurança e conforto.
Claro que ele sabia que eram falsas estas
certezas, mas tinha medo do NOVO.
O RESULTADO foi que Saul nunca cresceu, nunca
venceu-se, nunca foi benção à sua família e a seu
povo, pois nunca esteve disposto a ouvir sobre ele.
QUEM NÃO RESOLVE SEU INTERIOR, ESTÁ CONDENADO A REPETÍ-LO
Por não querer ouvir SAMUEL em suas repreensões,
Saul foi errando cada vez mais, perdendo o respeito político e religioso que o
povo tinha por ele.
Por não ouvir os sábios conselhos de seu
filho JÔNATAS, Saul foi tomando decisões políticas tão absurdas que mais
parecia um louco à solta do que um rei no pleno direito de governar.
Por não ouvir a advert6encia do sumo
sacerdote ABIATAR, Saul, enfurecido, desviou a ira de Davi e matou todos os
sacerdotes que serviam a Deus em Gilgal.
Por não ouvir NINGUÉM, Deus parou de falar
com ele. Sua solidão foi tão absurda, que um dia a única pessoa que aceitou
falar com ele foi o próprio DIABO, que por suas palavras o incitou à ruína, ao
suicídio e à perdição eterna.
PESSOAS IGUAIS A SAUL
JOANA foi criada para ESCONDER tudo o que vê,
e principalmente, tudo o que SENTE. Ela mantém em absoluto segredo o caos que é
sua casa, sua família, sua vida. A mãe é alcóolatra e o pai um viciado em
apostas. Há miséria financeira e emocional. O passado foi horrível, o presente solitário,
o futuro ansiógeno.
O que a domina é o MEDO! Medo de que seus
segredos mais íntimos sejam descobertos, ela seja desmascarada e passe por uma
vergonha irremediável.
O problema é que, por não RESOLVER seu
passado, ela o repete.
Igual a Saul, Joana, na vida adulta, longe
dos pais, passou a se envolver com pessoas destrutivas, iguaizinhas à mãe e ao
pai, repetindo-lhe o sofrimento da infância.
JUDAS rejeitou terminantemente as mensagens
claras que Jesus lhe disse a seu respeito. No banquete, na casa de Simão, ficou
tão furioso pela repreensão de Cristo que saiu para entregá-lo aos sacerdotes.
Traiu o Redentor do mundo, e quando teve plena consciência do que fizera, e
muito mais de quem ele era, suicidou-se para tentar apagar sua vergonha e
remorso, mas em vão
ACABE vivia projetando sobre Elias a culpa
por Israel sofrer tanto diante da seca interminável. É que ele não queria
aceitar que ele era o perturbador de Israel. Acabou trazendo cada vez mais
juízos divinos sobre seu povo, morrendo à mingua em sua carruagem e perdido
para sempre.
O QUE PRECISAMOS APRENDER?
Podemos
achar que estamos crescendo na vida: na carreira, nas posições de destaque, ou
mesmo na condução de nossa família, para um dia percebermos que tudo não passa
de um engano.
Que
fique claro: o crescimento só acontece de fato quando, em meio a tudo e a
todos, nos tornamos conscientes de nós mesmos.
Compreender
as coisas nunca é o bastante. Precisamos nos relacionar com Deus e com o
próximo. Isto nos levará ao conhecimento de nós mesmos, a mudarmos
verdadeiramente, e a crescermos plenamente.
Portanto,
conhecer ideias, entender processos, prospectar negócios é menos importante do
que gastarmos tempo com Deus, com as pessoas e conosco a sós.
O
Evangelho nos ensina que só podemos entender, compreender e aceitar Sua
mensagem se houver um encontro pessoal com Ele, e continuarmos dispostos a ouví-Lo diariamente.
Nosso
crescimento é fruto de nos sentirmos AMADOS, por Deus, pelo próximo e por nós
mesmos.
APELO – "Quem tem ouvidos, ouça." Mateus
11:15
Todo
mundo é capaz de mudar. De crescer. De ser muito melhor do que já é.
Para
isto precisamos aceitar o que DEUS tem a falar de nós para nós, diretamente,
por meio de Sua palavra, por meio das pessoas que encontramos, e por meio das
evidências do dia a dia.
Ao nos
encontrarmos, estaremos dispostos a lidar com o que encontramos?
ALCOOLISMO: HORROR E SALVACÃO - LINDA J.,
De repente, como se alguém tivesse dado uma
alfinetada em meu cérebro, meus olhos se abriram, e pude ver e pensar. Estava
numa cama, num quarto estranho. Meus filhos estavam comigo- ambos dormindo em
camas próximas. Levantei-me, fui à janela, e puxei as cortinas. A forte luz do
sol me feriu os olhos. Foi então que vi meu carro. Estava coberto de lama e com
o lado direito inteiramente amassado.
Eu estava num hotel à beira da estrada, e não
tinha a menor ideia de há quanto tempo me encontrava fora de casa e de como
tinha quase chegado a matar meus gêmeos de oito anos, dirigindo embriagada.
Deixe-me escrever a verdade, como eu a digo
para mim mesma todos os dias: eu sou uma alcoólatra. Sou também, agora, uma
alcoólatra recuреrada. Mas, até que
pudesse acrescentar essa palavrinha crucial, vivi 13 anos no inferno. Esta é a
história desses anos de pesadelo e de como eles chegaram ao
fim - para sempre, espero.
Mas, nunca se pode ter certeza. Toda manhã,
digo em minhas preces que não cairei outra vez nas trevas. E termino
cada dia com outra prece, de agradecimento, por não ter sucumbido. Assim é, e
assim será pelo resto de minha vida. Tenho 38 anos.
O pior período de minha vida como alcoólatra
começou naquele dia (10 de outubro de 1963) quando acordei num hotel, a 400
quilômetros de casa. O que terá acontecido antes ainda é um borrão em minha
mente. Devo ter viajado tão longe para levar as crianças a um show de Elvis
Presley, possivelmente para me reabilitar aos olhos deles, pela maneira como os
vinha tratando. Os bilhetes para o espetáculo, que encontrei em minha bolsa,
confirmaram isto.
Naquela época, meu marido também estava fora
de casa, em seu trabalho como caixeiro-viajante. Sabia que eu bebia, mas nunca
pensara a que ponto tinham chegado as coisas. (Os alcoólatras são incrivelmente
espertos quando se trata de ocultar seu vício.) Eu estava então consumindo mais
de meio litro de bebida por dia. Já tinha sofrido vários lapsos de memória, ou
alheamentos, comuns aos bêbados, mas eles tinham durado apenas poucas horas.
Porém aquele, como descobri depois, quando comprei um jornal e li a data, me
tinha roubado dois dias de vida.
Examinei novamente o horrível amassado no
carro, e tive um arrepio. Mas, de alguma forma, consegui vestir Carla e Carlo,
e voltar para casa - auxiliada por grandes goles de uma garrafa. Quando
cheguei, finalmente, fui para a cama, e só acordei na manhã seguinte. As
crianças tinham se levantado sozinhas e ido para a escola.
Dois dias depois, eu estava no consultório de
um psiquiatra. Já o consultara duas vezes antes, para que me ajudasse a parar
de beber, mas sem sucesso. Agora, chorando, eu prometia ardentemente ao médico
-е a mim mesma - que, desta vez, poderia, e iria realmente parar.
Como primeiro passo, sabia que teria de ser
drenada de tudo que já havia bebido. Tendo tentado aquilo antes, e fracassado,
sabia também que a experiência seria terrível. O médico me obrigou a dar
entrada num hospital do Estado, enfatizando que minha alta teria de ser
condicionada a supervisão médica*. “Posso fazer o tratamento em casa”, sugeri,
tibiamente. O que eu estava fazendo, naturalmente (e ele sabia disso), era, não
apenas enganando a mim mesma (os alcoólatras são brilhantes nisto), mas também
caindo em outra arapuca clássica do gênero: a de que nós sempre somos mais
espertos do que os que nos tentam ajudar.
Pedi a minha irmã Betty que ficasse comigo.
Ela já estava em minha casa quando lá cheguei, e lhe fui grata. A primeira fase
(os tremores) já tinha começado. Minhas mãos tremiam tanto que precisei de
ajuda para me despir. Fui para a cama, е logo todo o meu corpo estava se
agitando.
Uma hora depois, sentia-me como se estivesse
formigando, como se caranguejos estivessem cravando suas garras em cada músculo
do meu corpo - além de longas e terríveis fisgadas. Durante toda aquela noite e
o dia seguinte, senti náuseas, e os tremores e formigamentos continuaram.
Na segunda noite, tive uma convulsão. Embora
durasse menos de um minuto, Betty, apavorada, contou-me depois que ela tinha
sido horrível. O pior é que Carla e Carlo, acordados pelo barulho, abriram a
porta do meu quarto e viram tudo.
Finalmente dormi, mas quando acordei no dia
seguinte, sentindo dores em todos os ossos e formigamento em cada nervo, sabia
que não aguentaria muito tempo. “Estou precisando é disto”, gritei, correndo
para o banheiro, onde tinha escondido uma garrafa, na gaveta de roupa suja.
Entornei meio copo, e bebi-o de um gole.
Alguns dias depois, contei ao psiquiatra o
que se tinha passado е, em lágrimas, prometi-lhe tentar outra vez.
Durante três outras consultas com ele (nas quais eu estava, invariavelmente,
bêbada), fiz a mesma e cansativa promessa. Foi na última consulta que ele me
olhou bem nos olhos: “Nada do que está me dizendo é verdade”, disse. “Você
nunca se ajudará. Para que desperdiçar o seu dinheiro e o meu tempo? Você
morrerá alcoólatra. Sugiro-lhe que conte tudo ao seu marido, e comece a
preparar os seus filhos.”
Como começou tudo isto? Como tinha eu chegado
a tal ponto?
Embora tivesse investigado muito, não sabia
responder a essas perguntas. Mas sei que dois dos fatores que estiveram
presentes em minha infância são quase sempre decisivos na vida dos alcoólatras.
Em primeiro lugar, meu pai, que eu adorava, sempre fora um terrível bebedor
desde que eu me lembrava, e se tornou depois um. alcoólatra. (Um médico afirma
que 80% dos alcoólatras têm um parente, em linha sanguínea direta, com o mesmo
problema.) Em segundo lugar, minha mãe (uma mulher trabalhadora, rígida e de pouca
conversa), que raramente me dispensava um pouco de afeição. Fizesse eu o que
fizesse, em casa ou na escola, nada lhe parecia bastante. Não me repreendia;
apenas me dava um olhar irritado e severo, que eu temia e detestava. Cada vez
mais, passei a sentir que não valia grande coisa.
Quando tinha 13 anos, tomei minha primeira
bebida. Uma amiga e eu roubamos uma garrafa de vinho da despensa, e a levamos
para o porão, onde a bebericávamos em segredo. Senti, pela primeira vez, aquela
sensação maravilhosa de alívio e relaxamento, que, mais tarde; faria de mim uma
alcoólatra. Durante o ginásio, beber com os namorados passou a ser rotina. Não
achava nada errado naquilo, pois quase todos os meus conhecidos faziam a mesma
coisa.
Quando terminei o curso secundário, tornei-me
enfermeira prática licenciada. Um ano depois, casei-me com Brian. Os gêmeos
chegaram em 1955 e, em seguida, voltei ao trabalho no hospital, ganhando o
suficiente para manter uma empregada em casa.
Embora nem Brian nem eu pensássemos a meu
respeito como uma bêbada “problemática”, eu estava me tornando uma,
rapidamente. À medida que os meses passavam, ia precisando de quantidades cada
vez maiores de bebida, para me sentir eufórica e bem-disposta. Comecei a beber
durante o dia - sozinha. Até que, certo dia, apaguei, justamente pouco antes da
festa de aniversário dos gêmeos, que teve de ser cancelada. Fui parada na rua,
três vezes em um mês, pelos guardas de trânsito. Como deixei de ser presa por
dirigir embriagada, até hoje não sei.
Toda manhã, eu acordava com uma terrível dor
de cabeça, necessitando de um drinque para me levantar da cama. Uma amiga
íntima viu o que estava acontecendo, e tentou fazer-me parar; mas tomei sua
preocupação por uma intromissão, e fiquei furiosa. Como não podia deixar de
ser, perdi meu emprego no hospital, e, inevitavelmente, Brian descobriu.
É desnecessário narrar aqui as noites que
perdemos em discussões - ele me implorando que parasse, eu lhe prometendo que o
faria. Quebrava a promessa. Ele ficava irritado e me ameaçava. Eu chorava - mas
continuava a beber.
A esta altura, também as crianças sabiam o
que se estava passando. Certa ocasião, ofereci-me para ajudá-las a pintar o
cenário para uma peça, no teatrinho da escola. Botei um avental com bolsos
grandes e fundos, perfeito para guardar as ferramentas - e as garrafinhas em
miniatura. Numa tarde, escondi-me atrás de uma cortina, para um rápido gole.
Quando me voltei, vi imediatamente o rosto de Carla, me espreitando. Havia
lágrimas em seus olhos.
Fui para casa e enxuguei uma garrafa inteira.
Foi nessa noite que decidi levar as crianças ao show de Elvis Presley.
Depois de meu último encontro com o
psiquiatra, passei a acreditar inteiramente em sua firme convicção de que eu
teria a morte de uma alcoólatra. Estava cansada de tudo-de ficar doente, de ter
que inventar truques para beber, das humilhações, dos aborrecimentos, das
brigas. Mas, parar de beber? Nunca.
Passei então a cumprir a última prescrição do
médico. Fiz um testamento, doando meu corpo a uma universidade, e escrevi uma
carta para Brian, falando-lhe de um lugar onde ele poderia internar as
crianças. Então, imaginei um plano para me matar, injetando ar numa veia. A
bolha de ar circularia até o coração, e poria fim à minha vida - sem deixar
marcas de suicídio que pudessem atormentar os meus filhos.
Nunca me esquecerei daquele dia - 20 de março
de 1964, uma 6.ª feira. Levei os gêmeos para a casa de Betty, e disse que ia
para o campo, durante alguns dias. Então, voltei para casa...
Nove dias depois, abri os olhos num hospital.
O ar que eu injetara havia errado a veia, e as anfetaminas que eu tomara para
acabar com tudo não tiveram tempo de agir, porque, por acaso, uma vizinha
aparecera logo que eu acabara de tomá-las.
Queria sair do hospital imediatamente, e
voltar ao meu inferno particular, mas os médicos insistiram em que eu precisava
de, pelo menos, um mês para me recuperar. Fisicamente, eu estava “um lixo”, e
bem o mostrava - anêmica, subnutrida e com um problema no fígado. Pesava apenas
42 quilos, o que é ser bem magra, para quem mede 1,70 m. Mas, mesmo assim,
recusava a deixar que me ajudassem. John Barrow, um
pastor da Igreja Episcopal, que trabalhava com alcoólatras hospitalizados,
tentou conversar comigo, mas eu não queria conversa. “Se houvesse um Deus, e
ele fosse justo, eu não estaria aqui”, disse-lhe. “Não preciso do seu Deus. Ele
destruiu minha vida.”
Certa noite, duas semanas depois que tinha me
internado, apossei-me de um casaco que uma visitante havia esquecido, joguei-o
sobre minha camisola, e fugi do hospital. Estava frio e úmido, mas caminhei
durante horas, odiando a ideia de voltar para casa e não ter outro lugar para
ir. Pouco depois, quando já estava quase morrendo de cansaço, e perdida na zona
pobre da cidade, uma mulher se aproximou de mim, e perguntou se eu precisava de
ajuda. Tomou-me pelo braço, e me levou para uma casa. Ela também era alcoólatra
(estamos sempre encontrando “colegas”), e vivi com ela durante dois meses,
partilhando seu apartamento infestado de baratas, sua comida e sua bebida.
Até que, numa manhã de julho, eu mesma me
dirigi para o hospital, sem razão aparente, e pedi para ver John Barrow, o pastor. “Não consegui morrer, infelizmente”,
disse-lhe. “Pode me ensinar a viver?” Minha luta começava.
Desta vez, a desintoxicação foi clinicamente
supervisionada. Em doses certas, os sedativos, tranquilizantes e
antiespasmódicos que os médicos me davam tornaram o processo menos penoso.
Enquanto minhas forças voltavam, passei a tomar parte em outros aspectos do
programa de reabilitação da unidade alcoólica: recreação e exercício, uma dieta
especial para me refazer e discussões em grupo com elementos treinados nesse
tipo de reabilitação.
Mas, entretanto, as conversas particulares
que tive com o pastor John Barrow foram as que mais
me ajudaram. Foi ele quem me entendeu e me fez aceitar a verdade sobre mim
mesma. “Muitos alcoólatras insistem em negar seu alcoolismo”, disse. “Tudo que lhes acontece -
desapontamentos, frustrações, fracassos - é sempre culpa de outra pessoa.
Naturalmente, isso é tolice. Nossos problemas estão dentro de nós mesmos. A
menos que admitamos que estamos doentes e que temos de ser tratados, fatalmente
morreremos.”
E Barrow continuou:
“Aprendi isso sozinho, há algum tempo, e minha vida mudou. Eu era comandante.
de navio, antes de ser pastor, e vim do mesmo inferno de onde você veio. Quero
dizer, eu também sou um alcoólatra recuperado.”
Assim que fui capaz de admitir minha fraqueza
contra o álcool, estava pronta para os Alcoólatras Anônimos. Juntei-me a eles
e, como muitos outros, ganhei força observando-os trabalhar - com compreensão e
apoio, sem fazer julgamentos ou passar sermões.
Tem havido períodos sombrios, naturalmente,
mas oito anos já se passaram, e eu permaneço sóbria. Agora, minha vida está
centrada em minha família e em meu trabalho - tenho um emprego de
meio-expediente na mesma unidade de recuperação de alcoólicos na qual fui
tratada. Ajudar os outros fortalece a minha vontade.
Brian levou algum tempo para compreender que
as causas de minha embriaguez eram mais profundas do que o mero abuso, mas,
assim que reconheceu que eu era uma doente, ficou francamente do meu lado. E os
gêmeos, graças a Deus, têm sido maravilhosos, desde que Brian e eu lhes
explicamos minha doença. Longe de se envergonharem de mim, orgulham-se de minha
capacidade para lutar e vencer.
Mas continuo preocupada por eles - gostaria
de saber até que ponto aqueles terríveis primeiros anos os terão afetado e lhes
transmitido uma possível “herança” de alcoolismo. Por isso, continuo a rezar
por eles - e por mim - todas as noites.
Marcelo Augusto de Carvalho 7 de
julho de 2025 Artur Nogueira SP
27
QUANDO NÃO DÁ PRA VOLTAR PARA CASA
Marcelo
Augusto de Carvalho
RUTE
1.15-18 - Rute.
A VIDA SEMPRE APONTA O CAMINHO DO CRESCIMENTO
Rute
nasceu em Moabe.
De
cultura e religião idólatra, ela aprendeu da pior
maneira como viver em busca do prazer, da satisfação de seus desejos sem se
importar com nada nem com ninguém, sem se preocupar com o passado ou com o
futuro. Tudo é um eterno agora, e é sempre você quem determina o que é bom ou
ruim. Vá então se divertir.
Mas na
juventude, apareceu uma família diferente na cidade. Judeus vindos de Canaã,
fugindo da seca em seu país.
Malom e Quiliom
Rute
passou a conviver naquela família tão diferente: trabalhavam arduamente toda a
semana, mas paravam tudo no sexto dia para prepararem-se para o Shabat (o
descanso), e nada faziam no sétimo dia, apenas descansavam e adoravam o Deus
Criador.
Também
tinham uma rígida disciplina de higiene, pureza moral e estudo sistemático do
pentateuco, os 5 livros de Moisés, de onde tiravam suas convicções religiosas,
sua visão histórica do mundo, bem como a esperança de que um dia o Salvador do
mundo viria para morrer, libertando cada ser humano do pecado.
Mas o
que mais a admirava era o jeito que eles se tratavam, com muito amor e
gentileza, principalmente sua sogra, NOEMI.
Ela
aprendeu uma nova vida, e decidiu crescer nessa direção.
NO CAMINHO DO CRESCIMENTO SEMPRE APARECEM MOTIVOS PARA DESISTIR
DE CRESCER
Apesar
de tanta fidelidade a Deus, e tanto desejo de crescer, muitas coisas
colaboraram para que Rute desistisse de continuar tentando.
Primeiro,
nem ela nem a cunhada engravidavam.
Depois
um duro golpe foi a morte do sogro, a referência da família.
Por
fim, Malom e Quiliom
morreram, ficando as três mulheres viúvas, desterradas e sem qualquer parente
que garantisse seus direitos econômicos.
Tudo conspirava para que Rute desistisse.
CRESCER É UMA DECISÃO PESSOAL, E NÃO UMA CONSPIRAÇÃO CÓSMICA DE
AJUDA HUMANITÁRIA MUNDIAL.
Sua sogra, em amargura de espírito, percebeu
que não poderia continuar crescendo, nem se mantendo em Moabe, por isto decidiu
voltar à Israel.
Então aconselhou suas noras a voltarem para
suas famílias.
Órfa decidiu voltar ao conhecido, à segurança dos velhos hábitos, ao retorno
da velha vida, ao amor dos parentes e amigos.
Mas Rute percebeu que ela não queria aquilo.
Decidiu continuar crescendo.
Sabia que se voltasse a seus pais, sua
família, sua cultura, seu país, tudo o que havia aprendido seria perdido. E
eles jamais a aceitariam vivendo a nova vida que escolhera.
Por isto decidiu firmemente seguir sua SOGRA
aonde fosse, para continuar crescendo em sua relação com Deus, com aqueles que
tinham as mesmas aspirações que ela, e quem sabe ainda fosse um instrumento de
bençãos aos outros nas mãos do Criador.
APELO - Mateus 13:57
Depois
que as pessoas se envolvem em um relacionamento de amor e salvação com Deus, e
com seu próximo, elas nunca mais são as mesmas, e jamais irão olhar a vida da
mesma maneira. Buscam continuamente seu crescimento!
Mas
crescer pode ser RADICAL para nossos relacionamentos. Nem sempre nossos amigos
e familiares ficam felizes com nosso crescimento pessoal.
Se
isto acontece, temos de SEGUIR em frente, rumo aquilo que o Senhor nos propõe.
Então, SIGA!
SOU NUJOOD DEZ ANOS E DIVORCIADA
Minha cabeça gira; nunca vi tanta gente
assim. No pátio fora do tribunal, uma multidão se agita em todas as direções:
homens de terno e gravata com pastas amareladas debaixo do braço; outros homens
de zanna, túnica até os tornozelos tradicional no Norte
do lêmen; e todas essas mulheres gritando e chorando
tão alto que não consigo entender nada. É como se eu fosse invisível. Ninguém
me vê: sou pequena demais para eles. Só tenho 10 anos, talvez nem isso. Quem
sabe?
Todos dizem que os juízes ajudam quem
precisa. Por isso tenho de achar um deles e lhe contar minha história. Sinto-me
exausta. Está quente debaixo do véu, minha cabeça dói e sinto muita vergonha.
Noto que um homem de camisa branca e terno
preto vem na minha direção. Um juiz, talvez ou advogado?
- Com licença, senhor, quero ver o juiz.
- Por ali, subindo a escada - responde ele,
que mal me olha antes de sumir na multidão. Meus pés parecem feitos de chumbo
quando finalmente piso no chão de mármore.
Espio um grupo de homens fardados. Se me
virem, podem me prender. Uma menininha que fugiu de casa. Trêmula, agarro
discretamente o primeiro véu que passa, na esperança de chamar a atenção da
mulher que ele encobre.
- Quero falar com o juiz.
Dois grandes olhos emoldurados de preto me
fitam surpresos.
- Que juiz você procura?
- Leve-me a um juiz... não importa qual!
Ela me olha espantada.
- Venha comigo - diz a mulher, finalmente.
A porta se abre e revela uma sala cheia de
gente; na outra ponta, atrás de uma mesa, um homem de bigode e rosto magro.
Finalmente, o juiz. Sento-me, descanso a cabeça no encosto da cadeira e espero
minha vez.
- E o que posso fazer por você? – uma voz
masculina me desperta do cochilo. É uma voz estranhamente gentil. Esfrego os
olhos e reconheço, em pé na minha frente, o juiz de bigode. A sala está quase
vazia.
- Quero o divórcio!
Khardji
Em Khardji, aldeia
onde nasci no Iêmen, as mulheres não aprendem a escolher. Quando tinha uns 16
anos, Shoya, minha mãe, se casou com meu pai, Ali
Mohammad al-Ahdel, sem protestar. E, quatro anos
depois, quando ele decidiu escolher uma segunda esposa, minha mãe, obediente,
aceitou a decisão. Foi com essa mesma resignação que, a princípio, concordei
com meu casamento, sem perceber o que estava em jogo. Na minha idade, ninguém
faz muitas perguntas.
Оmma - mamãe - me teve do jeito que teve todos os
16 filhos: em casa. Cresci vendo omma cuidando da саsa, ansiosa pelo dia em que eu tivesse idade
suficiente para ir com minhas duas irmãs mais velhas buscar água na fonte. Eu
tinha 2 ou 3 anos quando houve uma briga violenta entre meu pai e os outros
aldeões. Eu só sabia que Mona, a segunda filha e com
no máximo 13 anos, se casara de repente. Tivemos de partir de imediato.
Nossa chegada a Sana'a
foi um choque. A capital era uma confusão de poeira e barulho. Fomos morar numa
favela no bairro Al-Qa. Meu pai finalmente conseguiu
emprego de varredor no órgão de limpeza pública. Dois meses depois da partida, Mona chegou com o marido que se impusera à vida dela tão de
repente.
Na escola do bairro, fui muito bem no
primeiro ano e mal começara o segundo. Numa noite de fevereiro de 2008, aba -
papai - me disse que tinha boas-novas: "Nujood,
você vai se casar."
A notícia veio do nada. Não entendi direito.
A princípio, me senti quase aliviada, porque a vida em casa se tornara
impossível. Depois de perder o emprego de varredor de rua, aba não conseguira
mais trabalho fixo, e o aluguel vivia atrasado. Meus irmãos se juntaram aos
vendedores de rua que, nos sinais de trânsito, batiam nas janelas dos carros
parados na esperança de vender uma caixa de lenços de papel por alguns tostões.
Depois, foi minha vez e da minha irmã Haifa de tentar aquilo. Não gostei.
Agora com mais frequência, aba passava as
tardes mascando khat com os vizinhos. Afirmava que
aquilo o ajudava a esquecer os problemas. Foi durante uma dessas sessões de khat que um homem de uns 30 anos o procurou: "Gostaria
de unir as nossas famílias", disse ele, que se chamava Faez
Ali Thamer e trabalhava como entregador.
Ele viera de Khardji
como nós e procurava uma esposa. Meu pai aceitou a proposta. Como a próxima da
fila depois das duas irmãs mais velhas, a lógica era que eu me casasse.
Naquela noite, ouvi uma conversa entre Mona e
nosso pai.
- Nujood é nova
demais para se casar - insistia Mona.
- É a melhor maneira de protegê-la. Não será
estuprada por um estranho nem vítima de boatos maldosos. Esse homem parece
honesto. Prometeu não tocar em Nujood até ela ficar
mais velha. Além disso, não temos dinheiro suficiente para alimentar a família
inteira.
Minha mãe não disse nada. Parecia triste, mas
resignada. Em nosso país, é o homem quem dá as ordens.
Meu casamento
Os preparativos para o casamento foram
rápidos, e logo percebi meu infortúnio quando a família do meu futuro marido
decidiu que eu teria de abandonar os estudos. Eu adorava a escola. Era meu
refúgio, uma felicidade só minha.
No dia do meu casamento, minhas primas
começaram a gritar e a bater palmas ao me verem chegando. Mas eu mal conseguia
ver o rosto delas, pois tinha os olhos cheios de lágrimas. Avancei lentamente
para não tropeçar na roupa, que era grande demais para mim. Tinham me vestido
às pressas com uma túnica comprida de um tom chocolate desbotado que pertencia
à mulher do meu futuro cunhado. Uma parenta prendera meu cabelo num coque que
me pesava na cabeça.
Mal tinham se passado duas semanas desde que
eu fora pedida em casamento. As mulheres comemoraram na minúscula casa dos meus
pais; éramos 40. Enquanto isso, os homens se reuniram na casa de um dos meus
tios. Quando haviam assinado o contrato de casamento, dois dias antes, o evento
também fora só para homens. Combinaram meu dote em 150 mil riais (cerca de 540
euros).
Ao pôr do sol, os convidados foram embora e
eu adormeci, totalmente vestida. Na manhã seguinte, omma
me acordou. Minha trouxinha estava diante da porta. Quando um carro buzinou,
minha mãe ajudou a me cobrir com uma capa e um véu pretos e me avisou: "A
partir de hoje, você tem de se cobrir quando sair à rua. Agora é uma mulher
casada. É a honra dele que está em jogo."
Concordei com tristeza.
No banco traseiro da picape que aguardava
diante da porta, um homem baixo me fitava. Vestia uma zanna
branca comprida e tinha bigode. O cabelo crespo e curto estava cheio de
gomalina e o rosto, mal barbeado. Não era bonito. Então aquele era Faez Ali Thamer!
Quando o motor rugiu e o motorista deu a
partida, comecei a chorar em silêncio, com o rosto na janela, enquanto via omma ficar cada vez menor.
Uma mulher nos esperava no patamar de uma das
casas de pedra de Khardji. Senti na mesma hora que
ela não gostara de mim. Minha sogra era velha, com a pele enrugada como a de um
lagarto. Mandou que eu entrasse. O interior da casa quase não tinha mobília;
eram quatro quartos, uma sala e uma cozinha minúscula.
Devorei o arroz com carne que as irmãs dele
tinham preparado. Depois da refeição, alguns adultos da aldeia se reuniram para
mascar khat. Ninguém parecia se surpreender com minha
pouca idade. Mais tarde, soube que o casamento com meninas pequenas não é raro
no interior. Há até um provérbio tribal que diz: "Para garantir um
casamento feliz, escolha uma menina de 9 anos."
Como me senti aliviada quando me levaram para
meu quarto! Havia uma esteira comprida no chão: minha cama. Nem precisei apagar
a luz para adormecer.
Preferiria nunca mais ter despertado. Quando
a porta se escancarou de repente, acordei assustada. Mal abrira os olhos quando
senti um corpo peludo e úmido se apertando contra mim. Alguém apagara a
lâmpada, deixando o quarto totalmente escuro. Era ele! Reconheci-o pelo cheiro
forte de cigarro e khat. Começou a se esfregar em
mim.
- Por favor, deixe-me em paz - implorei quase
sem ar.
- Você é minha mulher!
Fiquei de pé num pulo. A porta não estava
completamente fechada e, ao espiar um brilho de luz, saí correndo para o pátio.
Ele correu atrás de mim.
- Socorro! Socorro! - eu gritava, chorando.
Minha voz soou na noite, mas era como se eu estivesse gritando no vácuo. Corri,
ofegando para respirar. Tropecei em alguma coisa, caí e me levantei para
continuar fugindo, mas ele me pegou, me segurou com força, me arrastou de volta
para o quarto e por fim me jogou na esteira.
Fiquei paralisada, como se tivessem me
amarrado.
Na esperança de encontrar uma aliada, gritei
por minha sogra.
- Amma! Tia!
Não houve resposta. Quando ele tirou a
túnica, me enrolei como um caracol para me proteger, mas ele começou a puxar
minha camisola.
Tentei fugir de novo, gemendo:
- Vou contar para o meu pai!
- Pode contar para o seu pai o que quiser.
Ele assinou o contrato de casamento.
- Você não tem esse direito!
Ele começou a gargalhar.
- Você é minha mulher. Agora tem de fazer
tudo o que eu quiser!
De repente, foi como se eu tivesse sido
levada por um furacão, jogada longe, atingida por um raio, e não tive mais
forças para lutar. Alguma coisa ardente invadiu minha parte mais íntima. Por
mais que eu gritasse, ninguém veio me ajudar. Doeu demais. Gritei mais uma vez,
acho e desmaiei.
A fuga
Tive de me ajustar depressa à nova vida. Não
tinha o direito de sair da casa, de me queixar, de dizer não. Durante o dia,
tinha de obedecer às ordens da minha sogra: "Corte os legumes!",
"Limpe o chão!", "Lave a louça!". Se parasse um instante,
ela puxava meu cabelo.
Certa manhã, eu lhe pedi permissão para
brincar com as crianças da minha idade. "Impossível! Era só o que faltava,
você sair e arruinar nossa reputação."
Ele saía toda manhã e voltava pouco antes do
pôr do sol. Toda vez que o ouvia chegar, o mesmo pânico me enchia o coração.
Quando a noite caía, sabia que aquilo começaria de novo. A mesma selvageria, a
mesma dor, a mesma angústia. No terceiro dia, ele começou a me bater, primeiro
com as mãos, depois com um bastão. E a mãe o estimulava.
Sempre que ele se queixava de mim, ela lhe
dizia: "Bata nela com mais força ainda. Ela tem de lhe dar ouvidos; é sua
mulher."
Eu vivia com um medo permanente. Sempre que
podia, me escondia num canto, perdida e desnorteada. Dias e noites se passaram
assim. Sentia saudades de Sana'a e da escola, dos
meus irmãos e irmãs. Pensava em Haïfa, torcendo para
que ela não se casasse como eu.
Certa manhã, incomodado com meu choro
incessante, ele disse que me deixaria visitar meus pais. Finalmente! Ele iria
comigo e ficaria com o irmão dele em Sana'a, mas
depois, insistiu, teríamos de voltar para a aldeia. Corri para juntar minhas
coisas.
- Está fora de questão você abandonar seu
marido! - Eu não esperara essa reação do meu pai, que logo pôs fim à alegria da
minha volta. Quanto à minha mãe, ficou calada e só murmurou:
- A vida é assim, Nujood:
as mulheres têm de aguentar.
Mas por que ela não me avisara? Agora eu
estava presa.
- Nujood - repetiu
meu pai -, agora você é uma mulher casada. Tem de ficar com seu marido. Se você
se divorciar, meus irmãos e primos vão me matar! A honra vem em primeiro lugar.
Eu estava andando em círculos, sem ver uma
saída. Meu pai, meus irmãos e meus tios não me dariam ouvidos.
Fui visitar Dowla,
a segunda mulher do meu pai, que morava com os cinco filhos num apartamento
minúsculo do outro lado da rua. Subi a escada, tapando o nariz para não sentir
o mau cheiro do lixo e do banheiro comunitário. Dowla
abriu a porta com um vestido preto e vermelho comprido e um enorme sorriso:
- Nujood! Que
surpresa ver você outra vez. Bem-vinda!
Eu gostava de Dowla.
Alta e magra, era mais bonita do que omma e nunca
ralhava comigo. Mas a pobre mulher não tivera boa vida. Meu pai a negligenciara
totalmente. A pobreza a obrigava a mendigar nas ruas.
Ela me convidou a sentar no grande fardo de
palha que ocupava metade do cômodo, junto ao minúsculo fogão onde a água
fervia.
- Nujood - arriscou
ela -, você parece muito preocupada.
Abri meu coração. E minha história pareceu
comovê-la profundamente. Ela pensou um instante, em silêncio, e depois serviu o
chá. Ao me entregar a xícara, inclinou-se e me olhou fundo nos olhos.
- Nujood -
sussurrou -, se ninguém lhe der ouvidos, você tem de ir diretamente ao
tribunal.
- Aonde?
- Ao tribunal!
Mas é claro! Num flash, vi imagens de juízes
de turbante, advogados apressados, homens e mulheres indo se queixar de
problemas familiares, furtos, brigas por heranças. Vira o tribunal num programa
a que costumava assistir na casa dos vizinhos.
- Vá ao tribunal - continuou Dowla. - Peça para falar com o juiz; o trabalho dele é
ajudar as vítimas.
Abracei Dowla com
força, imensamente agradecida. Ela colocou 200 riais na minha mão, toda a
quantia - que mal valia 50 centavos de euro - que conseguira mendigar naquela
manhã.
No dia seguinte, esperei com impaciência que
minha mãe se levantasse.
- Nujood - disse
ela, me entregando 150 riais -, vá comprar pão para o café da manhã.
- Sim, omma -
respondi, obediente.
Peguei a rua que levava à padaria da esquina.
Mas, no último minuto, mudei de direção e segui para a avenida principal. Puxei
as dobras do véu sobre o rosto. Dessa vez, o niqab se
mostrou muito útil. Saltei para dentro do micro-ônibus
amarelo e branco que se dirigia ao centro da cidade, torcendo para sair do
bairro antes que meus pais notassem meu sumiço.
A porta se fechou. Pela janela, vi a cidade
passar. "Ponto final!", gritou o motorista.
Com dedos trêmulos, lhe entreguei algumas
moedas. Mas não fazia ideia de onde ficava o tribunal. Estava ansiosíssima.
Grudada num poste, tentava organizar os pensamentos quando avistei um táxi. Já
tomara táxis quando fora a Bab al-Yemen com Mona.
Levantei a mão e fiz sinal para que parasse:
"Quero ir para o tribunal!", exclamei para o motorista, que me fitou
espantado. Ele não imaginava como fiquei grata por não me fazer perguntas.
Com uma freada forte, ele parou o carro junto
ao portão de um prédio imponente. O tribunal! Desci logo do carro e entreguei
ao taxista o resto do meu dinheiro.
O juiz
O juiz Abdo não consegue esconder sua
surpresa.
- Você quer se divorciar?
- É.
- Mas... Quer dizer que é casada?
- Sou!
Os traços dele são distintos. A саmisa branca destaca a pele azeitonada. Mas,
quando escuta minha resposta, seu rosto se entristece.
- Com essa idade? Como já pode ser casada?
Sem me preocupar em responder à pergunta,
repito com voz decidida:
- Quero o divórcio.
Nervoso, ele começa a coçar o bigode. Ah, se
pudesse me salvar!
- E por que quer o divórcio? - continua.
Olho-o bem nos olhos.
- Porque meu marido me bate.
É como se eu lhe tivesse dado um tapa na
cara. A expressão dele se paralisa de novo. Sem hesitar, me pergunta:
- Você ainda é virgem?
Engulo em seco. Sinto vergonha de falar
dessas coisas. Mas nesse instante entendo que, se quiser vencer, tenho de
falar.
- Não. Eu sangrei.
Ele fica chocado. Consigo ver sua surpresa e
sua tentativa de ocultar as emoções. Depois, respira fundo e diz:
- Vou ajudá-la.
Sinto-me aliviada. Vejo-o pegar o celular e
noto que está com a mão trêmula. Com sorte, ele agirá depressa e naquela mesma
noite poderei voltar para a casa dos meus pais e brincar com meus irmãos e
irmãs como antes. Divorciada! Sem aquele medo de ficar sozinha, ao anoitecer,
no mesmo quarto que meu marido.
Um segundo juiz vem nos encontrar na sala e
acaba com meu entusiasmo.
- Minha criança, isso pode levar muito mais
tempo do que você pensa. E, infelizmente, não posso lhe prometer que conseguirá
o que quer.
Esse segundo homem é Mohammad al-Ghazi, o
juiz-presidente. Ele diz nunca ter visto um caso como о meu. Os dois me
explicam que, no Iêmen, é comum as meninas se casa rem
muito jovens, com menos do que a idade legal de 15 anos. Uma tradição antiga,
acrescenta o juiz Abdo. Mas, até onde ele sabe, nenhum desses casamentos
precoces acabou em divórcio, porque nenhuma menininha, até então, tinha ido ao
tribunal.
- Teremos de achar um advogado - explica
Abdo.
Será que eles entendem que, se eu voltar para
casa sem garantias, meu marido irá me buscar e a tortura recomeçará?
- Quero me divorciar! - Franzo bem a testa
para mostrar que estou falando sério. O som da minha própria voz me assusta.
- Acharemos alguma solução murmura al-Ghazi,
endireitando seu turbante.
O relógio acaba de dar duas horas, quando
todos os escritórios se fecham. Hoje é quarta-feira, e o fim de semana
muçulmano está prestes a começar.
- Não há a menor chance de ela voltar para
casa - continua. Abdel Wahed, um terceiro juiz, se
apresenta para me oferecer ajuda. A família dele tem espaço para me abrigar.
Estou salva, pelo menos por enquanto.
Às nove horas da manhã de sábado, estamos na
sala de Abdel Wahed no tribunal, com Abdo e Mohammad alGhazi, que estava muito preocupado ao dizer:
- De acordo com a lei iemenita, é difícil
você entrar com um processo contra seu marido e seu pai.
Como muitas crianças nascidas em aldeias
iemenitas, eu não tinha certidão de nascimento e era jovem demais para entrar
com um processo contra alguém. Um contrato fora assinado e aprovado pelos
homens da minha família, e era válido, de acordo com a tradição iemenita.
- Por enquanto - disse Mohammad al-Ghazi aos
colegas -, temos de agir depressa. Sugiro que ordenemos a prisão temporária do
pai e do marido de Nujood. Se quisermos protegê-la, é
melhor que estejam presos do que em liberdade.
Prisão! Será que aba um dia me perdoaria? Fui
tomada pela vergonha e pela culpa.
No Iêmen não havia abrigo para meninas como
eu, mas não podia continuar com a família de Abdel Wahed,
que já tinha feito tanto por mim.
- Quem é o seu tio favorito? - perguntou um
dos juízes.
Achei que a melhor opção seria Shoyi, irmão de omma, soldado
reformado com certo prestígio na família. Morava com as duas esposas e os sete
filhos num bairro não muito longe do nosso. É verdade que não se opusera ao meu
casamento, mas pelo menos não batia nas filhas.
Shoyi não me fez muitas perguntas e deixou que eu brincasse com minhas
primas. No fundo, acho que meu tio ficou tão consternado quanto eu com aquilo
tudo.
Nos três dias seguintes, passei a maior parte
do tempo no tribunal, torcendo por um milagre. Quantas vezes mais teria de ir
lá? Abdo me avisara que meu caso era bastante incomum. Mas o que fazem os
juízes quando enfrentam um caso desses?
Estou aprendendo a resposta com Shada. Todos dizem que ela é uma das melhores advogadas do
Iêmen e luta pelos direitos das mulheres. É bonita e tem cheiro de jasmim.
Assim que a vi, gostei dela. Não cobre o rosto. Usa uma capa comprida, preta e
sedosa, e apenas um véu colorido na cabeça.
Quando veio falar comigo pela primeira vez,
vi como me olhou com grande emoção antes de exclamar "Céus!". Depois,
conferiu o relógio, abriu a agenda e reorganizou os compromissos marcados,
telefonando para familiares, amigos e colegas; várias vezes, eu a ouvi dizer:
"Tenho de assumir um caso importantíssimo."
Essa mulher parece ter uma determinação
infinita.
- Nujood, eu não a
abandonarei ela me sussurra. Sinto-me segura a seu lado. Ela sabe como achar as
palavras exatas, e sua voz melodiosa me acalma.
- Pode me prometer que nunca mais voltarei à
casa do meu marido?
- Farei o possível para impedir que ele volte
a machucá-la. Mas você tem de ser forte, porque pode levar algum tempo. A parte
mais difícil já passou. A parte mais difícil foi ter forças para fugir, e isso
você fez muito bem. Agora, posso lhe fazer uma pergunta? Como conseguiu reunir
coragem para fugir e ir ao tribunal?
- Coragem para fugir? Eu não aguentava mais
as maldades dele. Simplesmente não aguentava mais.
O divórcio
O grande dia veio antes do que se esperava. O
tribunal estava cheio. A campanha de Shada nos meios
de comunicação dera certo; eu nunca vira tantas câmeras. Debaixo do meu véu
preto, estou suando muito.
"Nujood, um
sorriso!", grita um fotógrafo. Uma fila de câmeras se forma à minha
frente. Agarro-me a Shada. Seu aroma me tranquiliza,
aquele cheiro de jasmim que agora conheço tão bem.
Lá no fundo, me sinto totalmente paralisada,
incapaz de me mexer. Como acontece um divórcio? E se o monstro simplesmente
disser não? E se ele ameaçar o juiz?
Na entrada do tribunal, os
câmeras começam a se acotovelar para conseguir um ângulo melhor.
Tremo: vejo aba e... o monstro sendo
escoltados por dois policiais. Os presos parecem furiosos. Ao passar à nossa
frente, o monstro baixa os olhos e depois se vira de repente para Shada.
- Cheia de si, hein? - grunhe.
Shada nem pisca. Seu olhar revela todo o desprezo que sente por ele. Aprendi
muito com ela.
- Não lhe dê ouvidos - me diz.
Meu coração pula. Quando ergo os olhos,
vejo-me fitando os de aba. Ele parece tão nervoso! "Honra", diz. E,
ao ver seu rosto, começo a entender o que significa essa palavra tão
complicada.
Vejo nos olhos do meu aba
que ele está zangado e envergonhado ao mesmo tempo. Estou furiosíssima com ele,
mas não posso deixar de sentir pena também. O respeito dos outros homens: eis o
que é tão importante aqui.
Mohammad al-Ghazi, juiz-presidente do
tribunal, senta-se atrás da sua mesa alta. O juiz Abdo ocupa a cadeira ao lado
dele.
- Em nome de Deus Todo-Poderoso e
Misericordioso, declaro aberta a sessão deste tribunal - anuncia alGhazi, fazendo sinal para nos aproximarmos.
Shada me sinaliza para segui-la. À nossa esquerda, aba e o monstro também
avançam. Sinto a multidão ferver atrás de nós. Neste exato momento, parte de
mim daria tudo para ser um minúsculo camundongo. É a vez de o juiz Abdo falar:
- Temos aqui o caso de uma menininha que foi casada contra o seu consentimento.
Depois que o contrato de casamento foi assinado sem o seu соnhecimento,
ela foi levada à força para a província de Hajja. Lá,
o marido a agrediu sexualmente, quando ela sequer atingira a puberdade e não
estava pronta para ter relações sexuais. Também a espancou e insultou. Ela veio
aqui hoje para pedir o divórcio.
Al-Ghazi bate na mesa algumas vezes com um
martelinho de madeira.
- Escute-me com atenção - diz ele à criatura
que odeio. - O senhor se casou com essa menininha há dois meses, dormiu com
ela, bateu nela. É verdade? Sim ou não?
O monstro pisca e responde:
- Não, não é verdade! Ela e o pai concordaram
com o casamento.
Agarro-me à capa de Shada
e digo: "Ele está mentindo!"
O juiz se volta para meu pai.
- O senhor concordou com o casamento?
- Concordei.
- Que idade tem sua filha?
- Minha filha tem 13 anos.
Treze? Ninguém nunca me disse que eu tinha 13
anos. Torço as mãos, tentando me acalmar.
- Casei minha filha porque temia que fosse
sequestrada.
Não entendo nada do que ele diz. Suas
respostas são vagas e complicadas, e as perguntas do juiz ficam cada vez mais
incompreensíveis. As vozes se elevam. Os acusados se defendem. O barulho na
sala aumenta enquanto meu coração bate mais depressa.
O juiz faz um sinal para que o sigamos até
outra sala, longe do público.
- Faez Ali Thamer,
o senhor consumou o casamento? Sim ou não? - pergunta o juiz.
Prendo a respiração.
- Consumei - admite o monstro. - Mas fui
gentil com ela, fui cuidadoso. Não bati nela.
A resposta dele é como um tapa na cara, que
me faz lembrar todos aqueles outros tapas, os insultos, o sofrimento.
- Isso não é verdade! - berro, descontrolada
de raiva.
Todos se viram para me olhar. Mas sou a
primeira a me espantar com a explosão. Depois disso, tudo acontece depressa. O
monstro diz que meu pai o traiu quando mentiu sobre minha idade. Aí aba fica
furioso e diz que ele concordara em esperar até que eu fosse mais velha para me
tocar. O monstro anuncia que está disposto a aceitar o divórcio, mas com uma
condição: que meu pai devolva o dote. E aba replica que nunca recebeu nem um
centavo.
É como uma feira! Quanto? Quando? Como?
No fim, sou salva pela decisão do juiz, que
anuncia:
- O divórcio será concedido.
16 de setembro de 2008
O divórcio mudou minha vida. Quando saio às
ruas, as mulheres me chamam para me dar os parabéns. Recentemente, saí da casa
do meu tio e voltei a morar com meus pais. É como se fingíssemos esquecer o que
houve.
Meus pais se mudaram para outro bairro. Aqui
posso ficar de olho em Haïfa. Se alguém ousar pedir a
mão dela, protestarei. E, se ninguém me der ouvidos, chamarei a polícia.
Meus pesadelos pararam há algumas semanas.
Agora, sonho com a escola. Uma associação humanitária internacional paga a
escola para mim e Haïfa. Quando crescer, serei
advogada como Shada, para defender outras menininhas
como eu.
Uma das professoras nos convida a sentar nas
carteiras. Escolho uma perto da janela. Com meu uniforme verde e branco, sou
apenas uma das 50 meninas da classe, aluna do segundo ano da escola primária.
Quando voltar para casa, terei exercícios e desenhos coloridos para fazer.
Hoje, finalmente sinto que me tornei uma
menina normal de novo. Como antes. Sou apenas eu.
Epílogo: Em abril de 2009, o parlamento
iemenita aprovou uma nova lei que eleva a idade de consentimento legal para 17
anos, derrubada no dia seguinte por pressão dos partidos conservadores de
oposição. A mudança da idade de consentimento legal ainda está sendo negociada.
Marcelo Augusto de Carvalho 8 de
julho de 2025 Artur Nogueira SP
28
ESCOLHENDO SER NOBRE
Marcelo
Augusto de Carvalho
ESTER
4.10-16 - Ester
TUDO PARA SER UMA DERROTADA!
Ester
nasceu Hadassa - este nome significa "murta" ou
"mirto" em hebraico. A murta é uma planta com flores e folhas
perfumadas, símbolo de beleza e pureza na cultura judaica.
Logo
muito pequena ainda perdeu sua mãe e seu pai.
A vida
tornou-se carência, dependência, necessidade, viver do favor dos outros.
Como
construir um destino quando a única coisa que sobra é a bondade de outro?
PESSOAS QUE PODIAM TER ESCOLHIDO DESISTIR DE SUAS VIDAS
JACÓ –
foi rejeitado pelo pai desde o nascimento, e no máximo tolerado em casa.
JOSÉ –
foi vendido pelos irmãos para ser escravo, pelo resto de sua vida, a pior
posição social que uma pessoa poderia passar na vida em seus dias.
O
LEPROSO – quando o sacerdote constatou sua terrível doença, precisou sair de
casa, abandonar sua família e amigos, viver recluso fora das cidades, além de
crer, pela educação que recebeu, de estar sob o juízo de Deus e perdido.
PESSOAS QUE HOJE TEM TUDO PARA DESISTIREM
A
garota que foi suprimida emocionalmente pela mãe, tendo que viver como um ser
anexo ao Ego narcisista, doentio ou inseguro da pessoa que ela mais ama.
O
garoto que se apavora só de pensar na hora em que o
pai chegar em casa, e o terror se instalar no ar.
O
jovem que desenvolveu uma ansiedade atroz pelas etapas do crescimento humano.
Tem medo de olhar para as pessoas, medo de se aproximar de gente estranha, medo
de ter que conversar e não saber o que falar, ter que realizar uma tarefa e não
conseguir desempenhá-la, ter que se relacionar com uma garota e passar a
vergonha de não satisfazer suas expectativas.
HADASSA ESCOLHEU IR ALÉM!
CONFIOU
no amor e afeto que seu primo, mais velho, tornando-se seu pai, lhe assegurou.
PRATICOU
fielmente a educação que seus pais adotivos lhe deram.
TROCOU
a baixa autoestima, a desconfiança, o vitimismo e a expectativa do fracasso
pela esperança em Deus, na bondade do próximo e no amor eterno do Criador.
Quando
veio a possibilidade do CONCURSO para rainha da Pérsia, ela OUVIU o conselho de
seus pais, inscreveu-se, dedicou-se ao objetivo proposto e dentre milhares foi
escolhida pelo rei do maior império de seu tempo.
Ao
tornar-se rainha de fato continuou FIEL aos princípios que recebeu desde a sua
infância.
Quando
a perseguição aos judeus foi anunciada, ela ouvir a orientação de Mardoqueu, posicionou-se claramente como adoradora de Jeová
e judia, orou a Deus para que lhe desse graça diante do rei, e arriscou-se a
comparecer perante ele para enfim INTERCEDER pela vida de seu povo!
Ela
confiantemente decidiu REVELAR ao rei a estratégia política e genocida do
ardiloso e poderoso Hamã.
APELO - Marcos 8:34 – “Tome sua cruz e siga-me de
perto”. (Living Bible)
O fato
de crescer em todos os aspectos da vida NÃO APAGA as crenças que por tanto
tempo guardamos em nosso inconsciente.
É
certo que para sempre nos LEMBRAREMOS de nosso passado, mesmo escolhendo ir
além dele.
E
diante de muitas circunstâncias importantes, tenderemos a REAGIR baseado nessas
crenças que um dia decidimos abandonar.
Crescer
significa buscar os bons sentimentos internos e não tentar inutilmente escapar
dos maus. Podemos sim, RECONHECÊ-LOS, aprender a lidar com eles e desenvolver
outros melhores!
Portanto
crescer é um trabalho diário, a LONGO PRAZO, por toda a vida, de sucessos e
derrotas, de quedas e superações.
Precisamos
AVANÇAR, mesmo quando o exército inimigo está à nossa caça e a única opção é
entrar no Mar Vermelho! (Êxodo 14).
O MUNDO LUMINOSO DE HELEN KELLER - Van Wyck
Brooks
No
inverno de 1932 fui ver e ouvir Helen Keller atraído por uma curiosidade
semelhante à que desperta qualquer pessoa de fama mundial. Sim, porque Helen
Keller é famosa desde a idade de dez anos. Mark Twain disse que as duas
personalidades mais interessantes do século XIX eram, simplesmente, Napoleão e
Helen Keller. Contudo, ali estava ela em St. Augustine, ainda moça em 1932, e
lá continua ainda 22 anos depois.
Lembro-me
de uma frase que então pronunciou, referindo-se ao subway
de Nova York, que “abria” as mandíbulas como uma fera imensa". Eu ignorava
então até que ponto ia a sua familiaridade, literalmente, com mandíbulas de
feras. Não sabia que ela uma vez afagara a boca de um leão. É verdade que o
leão era jovem e fora bem alimentado de antemão, mas ainda assim Helen entrou
corajosamente na jaula, porque a "professora" dela, como Helen sempre
chamou Anne Sullivan, a mulher extraordinária que desenvolveu seu espírito,
queria que ela passasse por experiências de toda a sorte.
Filha
de um oficial do Exército do Sul durante a Guerra Civil dos Estados Unidos,
Helen Keller nasceu numa fazenda do Estado de Alabama, e desde a primeira
infância conheceu vacas, burros e cavalos. Eles comiam maçãs da sua mão e nunca
lhe fizeram mal. Achando que ela devia conhecer também animais ferozes, sua professora
desde cedo a pôs em contato com os animais de um circo. Helen apertou a mão de
um urso, fez festas a um tigre, foi erguida para apalpar as orelhas de uma
girafa. Incitava os elefantes a enrolarem a tromba em torno de seu pescoço e enormes
cobras se enroscaram no seu corpo. Em parte, por esse motivo, cresceu sem medo
e assim se manteve física e moralmente.
O
mundo em que vive Helen Keller é feito de sensações tácteis, vazio de cores e
sons, e ela tem escrito muita coisa sobre a mão pela qual vive e que ocupa o
lugar da vista e do ouvido dos outros. Ela tem "dez olhos para a
escultura", disse o Professor Gaetano Salvemini
quando, em 1950, Helen Keller visitou Florença e ele lhe proporcionou a ocasião
de ver os túmulos dos Médicis, de Miguel Ângelo, e a escultura de Donatello, no Bargello. Salvemini fez instalar andaimes móveis para que ela pudesse
passar as mãos pelas cabeças dos Médicis e de São João Batista, pelas figuras
da Noite e do Dia e da Madona e o Menino. O escultor Jo
Davidson, que estava presente, declarou que nunca vira aquelas esculturas como
quando observou as mãos de Helen passando por cima das formas.
Explorando
o rosto de amigos e pessoas que acabam de lhe ser apresentadas, elas os lê como uma vidente e sabe distinguir sotaques
regionais que nunca ouviu, tocando a garganta das pessoas enquanto falam. Diz
que é tão fácil reconhecer mãos como rostos e que as mãos revelam mais
claramente os segredos do caráter. Na sua terra de escuridão e silêncio, sabe sentir
com as próprias mãos o belo, o forte, o fraco, o cômico. Pelas mãos sabe se as
pessoas têm caráter forte ou se têm apenas "sangue de barata".
Como
foram eliminados dois de seus sentidos, a natureza aumentou os três sentidos
restantes, não só o do tato, mas também o do gosto e o do olfato. Conta ela no
seu "Diário" que em Londres, transpondo um portão, percebeu
imediatamente, pelo cheiro de folhas queimadas e pelo cheiro da erva, que
estava em Green Park, e diz que sempre distingue a Quinta Avenida das ruas mais
humildes de Nova York pelos cheiros que vêm das portas quando passa. Sabe os
cosméticos que as mulheres usam e a qualidade do café que torram em casa, se
usam velas e se queimam carvão ou lenha. "Que lindos lilases
brancos!" exclama ela, sabendo que são brancos pelo tato ou pelo cheiro,
pois tanto na consistência como no perfume os lilases brancos são diferentes
dos roxos.
Helen
Keller, que não ouve vozes, sente vibrações. Quando uma orquestra toca, ela
acompanha as ondas musicais. Percebendo na sua mesa de trabalho, no andar de
cima, a vibração da campainha da copa embaixo, ela responde com um arrastar de
pés: "Já vou!" Diz ela que, "escutando" com os pés, numa
sala de jantar de hotel, percebe a disposição e o caráter das pessoas que
passam e sabe se são firmes ou indecisas, ativas ou preguiçosas, descuidadas,
tímidas, cansadas, zangadas ou tristes.
Tudo
isso deu motivo, nos tempos de sua juventude, a lendas sobre uma "menina
prodígio" que sempre a aborreceram, pois Helen Keller é a personificação
do humor e do simples bom senso. Anne Sullivan deu-se a grandes trabalhos para
evitar que ela fosse considerada um prodígio, mas era impossível esconder que
tinha uma inteligência notável e uma vontade ainda mais notável. Falando sobre
o assunto, uma amiga disse que ela provava que a vontade humana tinha "um
poder quase ilimitado".
Nada
poderia ser mais tônico do que a educação de Helen Keller sob a orientação de
Anne Sullivan, na fazenda de Alabama. As duas liam e estudavam ao ar livre, à
margem do rio, na mata, nos campos e, lembra Helen, à sombra de um pé de tulipa
silvestre. О perfume das mimosas, dos pinheiros e das uvas se misturou a
todas as suas lições da infância. Aprendeu coisas sobre o sol e a chuva, como
os pássaros faziam seus ninhos, sobre esquilos, sapos, flores silvestres,
coelhos e insetos, e, lembra ela, tudo o que cantava ou floria, chilreava ou
zumbia, fez parte da sua educação.
Foi
Anne Sullivan quem inventou os processos de ligar um espírito a outro, graças
aos quais, naturalmente, tudo isso se tornou possível... uma coisa que parecia
"sobre-humana", segundo observou Einstein.
Que
dizer de uma inteligência com tantas desvantagens como a sua, que. a levou tão
longe, em tantas direções? Logo aprendeu Geografia por meio de mapas que a
professora fazia de barro ou de areia, sentindo montanhas e vales e seguindo o
curso dos rios. Aos 18 anos, se não tinha ainda dominado completamente essas
matérias, ao menos aprendera muita coisa sobre Geometria, Álgebra, Física,
Botânica, Zoologia e Filosofia. Escrevia cartas bem redigidas em francês; mais
tarde aprendeu a falar alemão. Quando foi para a universidade, já lia também
latim. Embora não pudesse ouvir as aulas, nem tomar notas, diplomou-se com
distinção no Radcliffe College (a seção feminina da
Universidade de Harvard para alunas sem diploma superior) onde escreveu a sua
autobiografia na classe de Charles Copeland. Este declarou que ela mostrou que
podia escrever melhor, em alguns de seus estudos, do que qualquer outro homem
ou mulher que ele já tivera como aluno.
Poucos
dos livros necessários para o curso estavam impressos para os cegos, e era
preciso soletrar livros inteiros na sua mão. Sempre examinando, observando,
refletindo, cercada de sombras e silêncio, ela escreveu que achava música e
claridade dentro de si mesma. Por todos os seus pensamentos perpassava o que
ela supunha ser cor. A par de suas qualidades naturais de bravura, energia e
tenacidade, ela era dotada de espírito prático e de uma inteligência
independente. Cresceu gostando de esportes, andando a cavalo e de bicicleta
dupla, jogando cartas e xadrez e quase completamente confiante em si mesma.
Em Midstream, ela escreveu que lera tantas vezes a sua Bíblia
em Braille que, em muitos lugares, os pontinhos haviam desaparecido. "A
Bíblia", disse ela, "é o único livro que explica os tempos em que
vivemos. Fala com sabedoria sobre o sol, o céu, o mar e a beleza das estrelas
distantes... Não há diferenças entre os homens. As diferenças são apenas como a
variação das sombras projetadas pelo sol.
Helen
Keller tornou-se cidadã do mundo. Nas suas tournées pelos seis continentes para
ajudar os cegos, leu em todos os países os sinais dos tempos. Compreendeu o
Japão e a Grécia e talvez particularmente as terras bíblicas, onde fez
conferências em universidades, desde o Cairo até Jerusalém, e onde iam surgindo
à sua passagem novas escolas para os cegos. Esforçando-se por alcançar o
espírito de homens de todos os tipos e classes, ela compreende suas
necessidades e aspirações, e é assim um verdadeiro porta-voz da sua terra de
múltiplas raças, que já é o vestíbulo do "mundo único" do futuro.
Ora
acontece que, vivendo eu em Connecticut, não muito longe de Helen Keller, tomei
algumas notas sobre ela nos últimos anos, assentando observações que fez ao
acaso, bem como fatos e comentários que de vez em quando ela sugere. Transcrevo
aqui algumas dessas notas, tal como foram tomadas:
Julho
de 1945: Hoje Helen andou colhendo amoras silvestres. Só de tocá-las sabe
quando estão maduras.
As
passagens e o jardim de sua casa estão sempre tão bem tratados que eu os
elogiei com entusiasmo. É Helen quem cuida de tudo. No verão, levanta-se todos
os dias às cinco horas da manhã, aparando a grama da entrada e das passagens e
arrancando as ervas daninhas dos canteiros de flores. (Distingue pelo tato as
ervas das flores.)
Jantei
com Helen e Salvemini na casa do Professor Robert
Pfeiffer. A Sr.a Pfeiffer,
que é natural de Florença, tocou uma canção italiana. Helen, de pé, colocou a
mão esquerda sobre o piano, marcando o compasso com a direita. Dessa maneira
conhece de cor a Nona Sinfonia de Beethoven e reconhece muitas outras músicas.
Alguém
lhe perguntou como sabe a diferença entre o dia e a noite.
- Oh! -
respondeu ela de dia o ar é mais leve, os perfumes são mais ligeiros e há mais
movimento e vibração na atmosfera. De noite o ar é denso e sente-se menos
movimento nas coisas.
Setembro
de 1945: Fomos de ônibus até à Estação Grand Central de Nova York. Helen gosta
de sentir a multidão em torno de si. De repente observou:
- Há
um pintor neste ônibus.
Olhei
em torno e de fato havia um pintor de paredes no outro extremo do ônibus, a uns
seis metros de distância.
Outubro
de 1949: Helen vem jantar. Um de nossos amigos lhe perguntou como foi que ela
chegou a compreender as abstrações. Ela respondeu que descobrira que as maçãs
boas eram doces e que havia também maçãs ruins, que eram ácidas. Aprendeu
depois a pensar em doçura e acidez independentemente das maçãs, como ideias em
si.
A
verdade é que Helen tem um espírito filosófico. Conta em My
Religion que, com cerca de 12 anos. dissera um dia à professora:
“Eu já estive em Atenas." Referia-se, naturalmente, a uma visita
imaginária, pois andara lendo sobre a Grécia, mas convém observar o que ocorreu
em seu pensamento. Ela percebeu instantaneamente que a "realidade" do
seu espírito independia das condições de lugar e corpo e que ela vira e sentira
vividamente um lugar a milhares de quilômetros de distância, justamente porque
possuía mente. De que outra maneira se poderia explicar esse "já estive em
Atenas"? E continua: "Daquele momento em diante, a surdez e a
cegueira deixaram de ter verdadeira importância. Deviam ser relegadas para o
círculo exterior da minha vida."
Dezembro
de 1951: Em geral, a datilografia de Helen é como a de uma perfeita secretária,
mas um dia saíram algumas linhas um pouco apagadas em uma de suas cartas e ela
acrescentou o seguinte pós-escrito: "Polly (Polly Thomson, a sucessora de
Anne Sullivan) diz que os tipos desta máquina não estão bons. Minhas desculpas.
H. K."
Polly
gosta de implicar com ela, e, às vezes, é severa. Se Helen faz um erro de
datilografia, Polly a obriga a copiar a página de novo. Devo acrescentar, como
todos os seus amigos sabem, que Polly é, à sua maneira, uma pessoa tão
extraordinária como Helen. Sem a sua vitalidade e o seu sentido diplomático,
que faria Helen nas suas viagens pelo mundo? E que inesgotável
animação têm as duas! Já as vi num trem noturno, quando todo mundo
dormia, rindo e tagarelando como passarinhos num galho ao amanhecer.
Junho
de 1953: Helen faz hoje 73 anos. Esta semana, ela voltou de uma visita de dois
meses à América do Sul. Como é variado o seu espírito! Ela se interessa por
tudo. Falou-me sobre as danças de La Argentina, embora eu não consiga imaginar
como foi que as concebeu tão bem. E como são felizes as frases que lhe vêm à
cabeça! Umas crianças soletraram palavras na sua mão e ela disse que seus
dedinhos eram como "florezinhas silvestres da conversa."
Na
minha opinião, foi o filósofo William James quem disse a última palavra sobre
Helen Keller quando escreveu: "Em resumo, você é uma bênção..." -
julgamento que tem sido ratificado em centenas de hospitais do mundo inteiro,
onde só lhe tem faltado ressuscitar os mortos.
Algum
dia se contarão histórias de milagres que ela realizou, ou de casos que
poderiam passar por milagres em épocas menos cépticas do que a nossa, casos em
que cegos abriram os olhos interiores e viram a vida pela primeira vez depois
que Helen Keller passeou e conversou com eles.
A
história da heroica superação de suas próprias limitações por Helen Keller ela
ficou cega e surda com dois anos de idade tem sido contada repetidamente. Estas
impressões de um seu vizinho lançam nova luz sobre uma criatura excepcional
Marcelo Augusto de Carvalho 9 de
julho de 2025 Artur Nogueira SP